São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

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Carro-forte para até em vaga de idoso

Empresas alegam isenção, mas veículos estacionam em local proibido mesmo quando a parada é só para o almoço

Só 4 veículos flagrados pela reportagem na região central de SP acumulam R$ 390 mil em multas da CET

ALENCAR IZIDORO
DE SÃO PAULO

Mais do que carros-fortes enfileirados, quem passa na hora do almoço pela rua das Palmeiras, região central de São Paulo, vê uma sequência de infrações de trânsito.
Um carro-forte estaciona diante do ponto de ônibus e obriga os passageiros a embarcarem no meio da rua. Outro "come" um pedaço da guia rebaixada. O terceiro não se intimida com a placa de proibido estacionar. O último ignora a exigência do cartão de Zona Azul -às vezes, ocupa até as vagas reservadas para os idosos.
Cada carro-forte fica entre uma e duas horas com motor ligado, contribuindo para a má qualidade do ar paulistano, e pisca-alerta acionado.
Nenhum dos veículos ali parados irregularmente será abastecido com malotes de dinheiro pela frota reforçada de transporte de valores.
A justificativa para a desordem no trânsito é a hora da alimentação diária dos vigilantes da Transbank na churrascaria Espeto Sul, no bairro de Santa Cecília.

UTILIDADE PÚBLICA
Infrações de carros-fortes se repetem em outros cantos de São Paulo. Dentre as contumazes também estão as paradas em fila dupla, sobre as calçadas e sobre as faixas de pedestres.
O que estimula a situação é um imbróglio jurídico sobre a prerrogativa de eles desobedecerem às proibições de parada e estacionamento.
Com base em resolução do Contran (Conselho Nacional de Trânsito) sobre os serviços de utilidade pública, as empresas interpretam que seus carros-fortes podem estacionar onde bem entenderem.
Reconhecem que apenas em serviço, e não para a ida de vigilantes à churrascaria.
Já a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) avalia que a isenção só vale "quando em atendimento na via", expressão citada no artigo 29 do código de trânsito.
Por exemplo: para uma empresa de energia realizar um reparo no poste da rua.
Como os malotes de dinheiro são entregues em bancos e lotéricas, a CET considera que se trata de um atendimento a estabelecimentos privados, e não na via. Assim, manda multá-los.
Não é à toa que uma empresa de transporte de valores como a RRJ diz gastar R$ 500 mil por ano com multas de trânsito de 70 veículos.
Na teoria, não há consenso jurídico. Na prática, as multas não eliminam a sensação de impunidade porque muitas são proteladas com ações administrativas e judiciais.

MULTAS
Só os quatro carros-fortes flagrados na quinta-feira em situação irregular em Santa Cecília acumulavam R$ 390 mil em multas pendentes.
Entre elas, por parar em fila dupla na rua Boa Vista, a 20 metros da sede da CET, e por estacionar em lugar proibido, calçadas ou faixas de pedestres em avenidas como a Paulista (região central) e a Faria Lima (zona oeste).
O licenciamento deles também não estava em dia, segundo informações do Detran. A Transbank nega.

TRANSTORNOS
A frota de carros-fortes cadastrada pela Polícia Federal na Grande São Paulo é de 1.281 veículos. Isso equivale a menos de 1% do número de caminhões emplacados na capital paulista.
Mas, no dia-a-dia, os transtornos causados por eles são potencializados. Um veículo estacionado em uma faixa da via de forma irregular durante uma hora é suficiente para reter a passagem de outros 1.800 carros.


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