São Paulo, domingo, 14 de março de 2004

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SAÚDE

Instituições de primeira linha abrem a possibilidade para médicos se reciclarem sem precisar sair do país

Hospitais criam cursos de especialização

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Se você sabe fazer muito bem uma coisa, se importaria de ensinar isso a alguém? Os hospitais privados de primeira linha estão adotando essa atitude: descobriram que, além de cuidar bem de seus pacientes, podem ensinar profissionais de outras instituições a fazerem o mesmo. Todo mundo pode sair ganhando, inclusive o paciente do SUS.
Em lugar de fazer estágios lá fora ou correr o risco da defasagem, médicos especialistas podem fazer reciclagens aqui mesmo. A operação rende um fundo pago pelos "alunos-especialistas" e em troca repassa conhecimentos e tecnologias inovadoras.
Mais que isso, os cursos oferecem a possibilidade de "colocar a mão na massa". É este, aliás, o termo usado no meio médico: "hands on" -cursos que permitem ao profissional executar tarefas colocando a "mão na massa".
"Técnicas novas são treinadas em animais", diz Roberto Padilha, coordenador da pós-graduação e diretor do Instituto de Ensino e Pesquisa do Sírio Libanês, aberto em dezembro.
Amanhã, segunda, será a vez de o Hospital Albert Einstein lançar a "primeira universidade corporativa do segmento hospitalar do país". Vai se chamar UISAE, Universidade Israelita de Saúde Albert Einstein, em parceria com o já existente Instituto de Ensino e Pesquisa do próprio hospital. A aula inaugural será dada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (leia texto ao lado).
Não significa que os hospitais estão a virar escolas médicas. Significa que sua experiência, equipamentos e tecnologias -muitas vezes só encontrados lá fora- estão sendo colocados à disposição para a reciclagem e aperfeiçoamento em superespecializações de médicos aqui no Brasil.
Uma resolução da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação -a de número 1, de 3 de abril de 2001- autorizou instituições que não sejam de ensino, como hospitais e tribunais de Justiça, a oferecerem cursos de especialização. Na prática, já fazem isso instituições como a Santa Casa do Rio, a Escola de Saúde Pública do Rio Grande do Sul e meia dúzia de outras.
Em São Paulo, a primeira a se valer dessa resolução foi a Beneficência Portuguesa, que tem uma escola de enfermagem desde 1962 e que a partir da resolução do MEC transformou o hospital em centro de ensino e especialização.
O hospital, que atende a uma maioria do SUS, é referência em várias áreas e oferece curso de pós-graduação "lato sensu" (diferente do mestrado formal) em seis grandes áreas, com mais de 25 cursos. Os "alunos", como em todos os cursos oferecidos pelos hospitais, já são médicos com residência e especialização. "Podemos atender 80 por ano, mas a procura é grande e a seleção, apertada", diz Salomão Benabou, coordenador-geral do centro de pós-graduação da Beneficência.
Em hospitais pagos, como o Sírio, os cursos de um ou dois anos custam cerca de R$ 800 por mês.
Todos os bons hospitais de São Paulo caminham nessa direção. Entre eles, o São Luiz e o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, referência em enfermagem, ortopedia e gastroenterologia, entre outras áreas. O Hospital 9 de Julho criou uma estratégia de "educação continuada", aberta a profissionais de fora. "Em um ano, um médico que não se atualiza está defasado", diz Cid Gusmão, presidente do Centro de Estudos e Pesquisas do 9 de Julho.



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