São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 2005

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SAÚDE NA UTI

Ministro diz que "fator surpresa" era essencial na intervenção no Rio

"Maia seria capaz de tudo", diz Costa

LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Humberto Costa (Saúde) disse ontem à Folha por telefone que não comunicou com antecedência à prefeitura do Rio a decisão de intervir na gestão da saúde por considerar que o prefeito Cesar Maia seria "capaz de tudo", podendo aumentar o caos.
Segundo Costa, as negociações com o prefeito começaram em 2 de fevereiro. "Sempre que apresentávamos uma alternativa, eles queriam mais", disse.
Cesar Maia rebateu dizendo que "finalmente" o governo federal fez o que a prefeitura queria: assumiu os quatro hospitais municipalizados em 1999. Por e-mail, o prefeito afirmou ter sido "uma negociação bem feita pela prefeitura". Ao ser questionado sobre o suposto impasse criado pela prefeitura, Cesar Maia respondeu: "O ministro não é crível".

Folha - O governo federal não demorou a tomar medidas em relação à saúde no Rio?
Humberto Costa -
Não. Esse assunto é de extrema delicadeza e envolve o pacto federativo. Entrei no processo [de negociação] com a maior boa-fé. Quando vi que a prefeitura estava criando um impasse, não sei se de má-fé ou outro motivo, tivemos que adotar outras medidas.

Folha - Mas o secretário municipal divulgou nota dizendo não ter sido avisado da decisão federal.
Costa -
Se fôssemos passar qualquer tipo de ação mais dura, eles tomariam outras decisões. Acredito que o prefeito Cesar Maia seria capaz de tudo. Não duvido de que ele poderia mandar retirar equipamento dos hospitais, transferir gente. O caos poderia ser maior. O fator surpresa nesse caso foi fundamental.

Folha - Como foi a decisão?
Costa -
Eu preferia continuar a negociação. Na terça-feira, chegamos à conclusão de que o prefeito Cesar Maia apostava no impasse. Pedi uma audiência com o presidente Lula e fui recebido na quinta. Apresentamos a situação ao presidente e a proposta de decretar estado de calamidade pública. Fomos nós que levamos a proposta e fomos fortemente sabatinados. Então o presidente disse que concordava e saiu o resultado.

Folha - O sr. acha que o prefeito Cesar Maia pode usar o assunto politicamente?
Costa -
Não vejo como. Queremos garantir o restabelecimento do atendimento digno à população. Não me interessa ficar batendo boca com o prefeito.

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