São Paulo, domingo, 14 de março de 2010

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Prática já é epidemia nos EUA, afirma pesquisador

Professor de Utah diz que torpedo ao volante é duas vezes mais perigoso que dirigir bêbado

Pesquisa de sua autoria mostra que enviar torpedos na direção retarda em 20% o tempo de acionamento do freio por parte do motorista


Joel Silva/Folha Imagem
Motorista manuseia telefone celular enquanto dirige seu carro na avenida Juscelino Kubitschek, na zona sul de São Paulo

DA REPORTAGEM LOCAL

De acordo com o professor da Universidade de Utah David Strayer, PhD em psicologia, enviar mensagens de texto no trânsito virou uma verdadeira epidemia nos Estados Unidos. Strayer considera os torpedos mais perigosos que o álcool, quando associados à direção. Sua última pesquisa, sobre os impactos da digitação de mensagens de texto na direção, concluiu que a prática retarda em 20% o tempo de acionamento do freio do automóvel. (LETICIA DE CASTRO)

 

FOLHA - Que perigo o envio de torpedos representa para o trânsito?
DAVID STRAYER
- O torpedo é duas vezes mais perigoso que o álcool. Quando uma pessoa dirige bêbada, tem quatro vezes mais chances de sofrer acidente. Quando digita um SMS, tem oito vezes mais chance.

FOLHA - Quem é que mais envia torpedos no trânsito?
STRAYER
- O principal grupo de risco são os adolescentes [no país, jovens de 16 anos podem ter carteira de habilitação].

FOLHA - Como o governo está lidando com a questão?
STRAYER
- Em setembro do ano passado houve uma conferência nacional sobre distração na direção, que focou nos torpedos. A questão foi considerada uma epidemia. Depois disso, o presidente Obama assinou uma lei proibindo funcionários do governo de usar SMS enquanto dirigiam e houve pressão para que Estados criassem leis contra a prática.

FOLHA - Quais resultados essas ações tiveram até agora?
STRAYER
- Não tiveram efeito até agora. As leis ainda não estão sendo cumpridas.

FOLHA - Qual é a melhor maneira de lidar com esse problema?
STRAYER
- Campanhas educativas e artigos na mídia são formas de alertar. Muita gente ainda não tem ideia da dimensão do perigo. Além disso, as leis precisam ser mais efetivas. As que estão sendo criadas são "secundárias", o que significa que o motorista não pode ser parado e multado unicamente por usar SMS, apenas se estiver infringindo alguma outra norma, como exceder a velocidade permitida. Não é muito eficaz. A polícia precisa fazer a lei ser cumprida, o que não está acontecendo nos Estados Unidos.

FOLHA - O que deve ser feito?
STRAYER
- O mesmo que aconteceu com motoristas alcoolizados: a sociedade precisa estigmatizar essa prática. O álcool ficou tão estigmatizado que as pessoas deixaram de dirigir bêbadas. As taxas de mortalidade de adolescente em acidentes de trânsito envolvendo motoristas bêbados caíram 60% no últimos 20 anos. No mesmo período, a direção distraída aumentou 30%. Há 20 anos, o álcool era o principal responsável por acidentes fatais, e hoje a direção distraída é um dos principais problemas.

FOLHA - Que tipos de atividade são considerados "direção distraída"?
David Strayer
- Além da digitação de SMS, falar ao telefone, manusear o IPod, ver televisão no carro, usar o computador. São coisas ainda mais graves que dirigir bêbado e usuais nos EUA.


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