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Amontoados, presos fazem "camadas" no ES
Para poderem dividir espaço superlotado em DPs, eles se distribuem entre os que ficam no chão, em pé ou pendurados
Calor e cheiro forte emanam das carceragens de delegacias da Grande Vitória; em uma delas, presos ficam algemados pelos pés no corredor
SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM VITÓRIA (ES)
O primeiro impacto é o cheiro forte, azedo e repugnante
-uma mistura de suor, roupa
suja e excrementos. Ouve-se
um grito: "Tem um preso cuspindo sangue aqui!". Depois, a
onda de calor que vem da cela.
A visão de detentos amontoados em carceragens superlotadas completa o quadro visto pela reportagem em seis delegacias da região da Grande
Vitória, na semana passada.
Na delegacia de Argolas, em
Vila Velha, o calor embaça a
lente da câmera do repórter-fotográfico e os óculos da repórter. Um preso passa mal e é retirado da carceragem. Marcos,
38, é algemado pelos tornozelos e fica sentado no corredor.
A situação do sistema prisional do ES será tema de painel
amanhã na Comissão de Direitos Humanos da ONU, em Genebra. Um relatório vai mostrar o quadro degradante.
Na quarta-feira passada, 153
presos em Argolas ocupavam o
espaço com capacidade para
abrigar, no máximo, 40. A Folha foi à delegacia no dia de visitas. A irmã e a tia de um preso
saem molhadas de suor após
uma hora. "Não dá para ficar
lá", diz Zilamara Rodrigues, 21.
No DPJ (Departamento de
Polícia Judiciária) de Vila Velha, os presos não têm direito a
visitas ou a banho de sol. Três
ventiladores virados para a cela
tentam diminuir o calor.
Na última quarta-feira, 222
deles dividiam espaço destinado a 36. Para caber todo mundo, os presos ocupam também
a área que era usada para o banho de sol e se organizam em
"camadas": uns ficam agachados ou deitados; outros, em pé;
e muitos, pendurados no alto,
em redes ou nas grades. No dia
seguinte, 60 presos foram
transferidos para CDPs (Centros de Detenção Provisórios).
Já na delegacia de Novo Horizonte, em Serra, policiais civis
armados dão cobertura aos
agentes penitenciários quando
eles precisam abrir as grades.
Na quarta passada, a delegacia
abrigava 304 presos. No chamado cadeião, 263 presos dividiam sete celas com capacidade
para, no máximo, oito presos
cada uma. No dia seguinte, 60
foram transferidos.
No DPJ de Laranjeiras, também em Serra, os presos disseram que se revezam à noite para dormir. Na parede da cela,
uma inscrição registra o recorde no local onde cabem quatro:
"32 presos em 20/10/2009".
Já no DPJ de Cariacica, 14
presos estavam algemados pelos pés no corredor. Outros oito
se amontoavam numa cela com
cerca de 2,5 m2. "A gente tem
que cagar, tomar banho e dormir no mesmo lugar", disse
um. "Isto aqui só passa revolta.
Posso matar e roubar, mas sou
gente", completou outro.
Assista ao vídeo das
cadeias do Espírito Santo
www.folha.com.br/1007114
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