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EDUCAÇÃO
Gabriel Chalita diz que gastará R$ 10 milhões para tentar afastar a violência das escolas e atender pedido de Alckmin
Em São Paulo, novo secretário prioriza a segurança
ARMANDO PEREIRA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O aumento no aparato de segurança nas escolas estaduais de São
Paulo -câmeras de vídeo, alarmes, zeladorias- é determinação
direta do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que
pediu empenho a todos os seus
secretários para cuidarem desse
aspecto em suas pastas.
A revelação é do novo secretário
estadual da Educação, Gabriel
Chalita, 32, que assumiu o cargo
na semana passada. Uma de suas
três prioridades anunciadas, nos
8,5 meses que terá até o fim do governo atual, será justamente o
combate à violência, ponto considerado importante para a imagem do governador, que vai disputar a reeleição. "Olha, há um
pedido do governador para todas
as secretarias nesse sentido mesmo [reforçar o cuidado com a segurança]. E isso acho que não tem
a ver com o período eleitoral."
Chalita, responsável pela política para 6 milhões de alunos da rede pública, diz ser preferível ensinar valores sociais a disciplinas
tradicionais. "Se [o aluno] sair da
escola e não souber algumas coisas de matemática, de química, de
física, mas se souber desenvolver
seu senso crítico, ele vai ser muito
melhor para a sociedade do que se
tiver decorado essas coisas e não
souber o essencial."
O secretário usa o argumento
para defender a polêmica progressão continuada, o método das
escolas estaduais de São Paulo,
que dispensa provas anuais e só
faz um teste no final de um ciclo
(na 4ª e 8ª séries, por exemplo).
Ele diz que o desinteresse dos
estudantes é causado por um jeito
de dar aula que considera antiquado. "O aluno precisa ser mais
seduzido para a educação."
Leia trechos de entrevista concedida na quinta-feira, na Secretaria da Educação (centro de SP).
Folha - Pais e professores duvidam da eficácia do sistema educacional do Estado; um terço dos alunos de 4ª e 8ª séries não conseguiu
ser aprovado em 2001; o sindicato
docente reclama de salários e diz
que a infra-estrutura nas escolas é
precária; a violência e as drogas
cercam os colégios. O senhor tem
8,5 meses até o fim do governo
Alckmin. O que dá para fazer diante de um quadro desses?
Gabriel Chalita - O grande desafio de qualquer governo sério é
um investimento profundo em
educação. O orçamento da Secretaria da Educação de São Paulo é
gigantesco [R$ 7,5 bilhões neste
ano]. Por outro lado, temos 6 milhões de alunos, 6.000 escolas. Todos os problemas são grandiosos.
Acho que o governo do Estado
vem acertando muito na sua política educacional. A progressão
continuada eu não acho que seja
ruim, muito pelo contrário. Numa visão mais contemporânea da
educação, a gente precisa educar
o aluno de forma heterogênea. E a
educação continuada leva isso em
consideração. Cada aluno é único.
Não dá para avaliar esse aluno
como se ele fosse uma massa. Então, a progressão continuada leva
o professor a fazer uma reflexão
dele mesmo com relação à importância que tem em ajudar o aluno
a se desenvolver, a aprender. É
um processo que temos um ciclo
todo para ir refletindo a respeito
de onde estão as dificuldades de
aprendizagem desse aluno.
Folha - Quais são as prioridades
de sua gestão?
Chalita - A gente está colocando
três grandes metas:
1) Valorização do professor. O
professor é a alma da escola. O ganho salarial da categoria neste governo é inegável.
2) Educação com aprendizagem
significativa. A educação se preocupou por muito tempo com a
habilidade cognitiva, o conhecimento memorizado. A preocupação de que o aluno saiba português, matemática, química, física,
biologia, o que é legítimo. Acho
que esse conhecimento não pode
ser negligenciado, mas acima de
tudo é preciso trabalhar o aluno
no seu conceito de cidadão. A formação do cidadão vai ajudar no
problema da violência, da corrupção, da agressividade, das drogas.
A escola tem preocupação tão
grande com aquela matéria que o
aluno está decorando e ela esquece que ele é um ser humano, ele
precisa ser formado para isso. Se
ele sair da escola e não souber algumas coisas de matemática, de
química, de física, mas se souber
desenvolver seu senso crítico, se
tiver habilidades, ele vai ser muito
melhor para a sociedade do que se
ele tiver decorado essas coisas e
não souber o essencial.
3) Segurança nas escolas. A gente sente de pesquisas realizadas
com pais de alunos essa preocupação enorme que tem a família
com relação à escola. Então, a
gente quer ter algumas medidas
para que se minimize esse problema. Ronda escolar, presença mais
forte da polícia em algumas escolas mais vulneráveis, a instalação
de câmeras de vídeo, que já aconteceu em quase todas as escolas
mais problemáticas do Estado
[estão implantadas em 1.970 escolas do Estado; 970 na Grande SP; a
meta é chegar a 2.000 até maio], a
construção de zeladorias. A escola
também precisa ser uma luz na
comunidade a que está ligada.
Essa consciência de que a escola
e a família precisam trabalhar
juntas é fundamental, porque hoje um dos grandes problemas da
escola é receber filhos de famílias
desestruturadas.
Oito meses e meio é bastante
tempo para que essas medidas sejam implementadas.
Folha - A prioridade para a segurança é um pedido do governador
Alckmin durante um ano eleitoral?
Chalita - Há um pedido do governador para todas as secretarias
nesse sentido mesmo. E isso acho
que não tem a ver com eleição. É
uma questão da responsabilidade
que ele tem como governante de
um Estado como São Paulo.
Folha - Quanto a Secretaria da
Educação vai gastar com estrutura
física para segurança (câmeras,
alarmes, zeladorias)?
Chalita - R$ 10 milhões.
Folha - A concentração de esforços em segurança não pode comprometer investimentos em questões educacionais?
Chalita - Acho que não. Os gastos da secretaria são monstruosos. A questão financeira não é
um problema para o Estado com
relação à educação. É uma prioridade mesmo. O governo não tem
economizado com relação à educação. Então, pegar R$ 10 milhões
e colocar na segurança das escolas
é alguma coisa que tranquiliza
pais, professores, diretores. É dinheiro bem gasto.
Folha - A Apeoesp [sindicato dos
professores] diz que a progressão
continuada é só uma aprovação automática. O sr. vai mudar algo na
forma em que ela funciona?
Chalita - Se há necessidade de
evolução, é com relação ao professor. Antigamente, você separava por nível os melhores alunos
dos piores alunos. Hoje, a progressão continuada leva o professor a considerar esse aspecto: eu
tenho de educar cada aluno individualmente.
O que falta para essa evolução é
que o professor esteja cada vez
mais bem preparado, para que
trabalhe alunos tão diferentes.
O que faz a progressão continuada? Eu tenho 30 alunos e preciso conhecer a história de cada
um deles, preciso ajudar os mais
frágeis. Dou a mesma coisa para
todos os alunos e avalio: quem é
bom passa, quem é ruim fica.
"Ah, mas, se eu passar todos
eles, todos eles vão ter problema.
Então, vou ter gente analfabeta."
Vai mesmo. Vai haver gente que
chega à faculdade com problemas
de alfabetização. E isso não é de
hoje. Sou professor universitário e
fico assustado com alguns alunos
que chegam à faculdade. Tem
gente que sai da faculdade ainda
com os mesmos problemas.
Folha - O sr. afirma que um dos pilares da progressão continuada é a
avaliação individual. A Apeoesp diz
que justamente o sistema não funciona por questões estruturais. As
salas teriam de 45 a 50 alunos,
quando o ideal seria de 25 a 35.
Chalita - Vou pedir que a
Apeoesp aponte essas salas superlotadas. O mapeamento que temos revela que não há superlotação [a média seria de 33,1 alunos
por classe na 1ª à 4ª séries e de 39,2
alunos no ensino médio". O sindicato diz que há superlotação, mas
não aponta as escolas.
Folha - O sr. acha que o professor
precisa mudar de mentalidade?
Chalita - Acho que o professor
precisa ser mais valorizado, ele se
valorizar, ele se cobrar um pouco
mais como educador. Ninguém
pode se acomodar. Há professor
que tem prática há dez anos, e os
alunos não estão aprendendo há
dez anos. O professor, quando coloca a culpa no aluno, não evolui.
Folha - Como tornar o aluno mais
interessado em aprender?
Chalita - O aluno precisa ser
mais seduzido para a educação.
De repente, tudo foi evoluindo
demais no mundo, e a forma de
educar é inflexível. Eu posso educar no parque Hopi Hari. A gente
vai fazer uma parceria com o projeto Aprendiz e o Hopi Hari. Vamos ter 100 mil ingressos para levar professores e alunos para ver
formas de aprendizagem lúdica.
Aprender física na montanha-russa, aprender história e geografia em museus dentro do parque.
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