São Paulo, sexta-feira, 14 de abril de 2006

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ENGENHARIA DO CRIME

Irmão de acusado de liderar ação ficou 12 dias em cativeiro; polícia diz que ele pagou R$ 70 mil de resgate

Caso do furto do BC tem o 6º seqüestro

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Foi libertado na madrugada de ontem o sexto seqüestrado ligado a envolvidos no furto milionário ao Banco Central, em Fortaleza, ocorrido em agosto do ano passado. Antônio Jussiê Alves dos Santos, irmão de Antônio Jussivan Alves dos Santos, o Alemão, tido como um dos líderes da quadrilha de assaltantes, foi torturado e solto após 12 dias em cativeiro.
Ele e sua advogada negaram que tenha havido o pagamento de um resgate, mas a Polícia Civil tem informações de que foram pagos pelo menos R$ 70 mil.
O assalto ao Banco Central aconteceu em agosto do ano passado. Foram furtados R$ 164,8 milhões da caixa-forte do banco, por meio de um túnel. Onze pessoas estão presas pelo crime, mas a polícia acredita que mais de 20 tenham participado. Desse dinheiro, a polícia até agora só recuperou R$ 18 milhões.
Jussiê foi ontem à tarde à sede da Polícia Civil em Fortaleza, mas mal conseguia falar. Disse que os seqüestradores o confundiram com seu irmão -que está foragido- e o chamavam de Alemão. Segundo Jussiê, eles exigiam R$ 1 milhão por sua liberdade. "Eles achavam que eu tinha esse dinheiro", disse, em entrevista.
A semelhança de Jussiê, que é agricultor em Boa Viagem (a 234 km de Fortaleza), com o irmão já fez com que ele fosse preso duas vezes por engano.
Apesar disso, para o delegado Luiz Carlos Dantas, da DIP (Delegacia de Inteligência Policial), dificilmente os seqüestradores erraram o alvo. Segundo ele, a intenção deve ter sido mesmo a de seqüestrar "o irmão de Alemão". "Eles achavam que ele tivesse pelo menos parte do dinheiro."
Entre os outros cinco seqüestros, apenas um não foi acompanhado pela polícia, o de um parente de Antônio Edimar Bezerra, que foi preso em setembro do ano passado com R$ 12,5 milhões escondidos em sua casa. O primeiro seqüestro, de Luiz Fernando Ribeiro, o Fernandinho, aconteceu em São Paulo. Tido como um dos líderes da quadrilha, ele morreu mesmo após o pagamento de um resgate de R$ 2 milhões. Os demais seqüestrados também pagaram resgates.
A ação contra Jussiê foi bastante violenta. Ele foi seqüestrado em frente a uma clínica, em Fortaleza, onde iria tratar de uma úlcera. Quatro homens armados, dizendo ser policiais, o prenderam e dispararam tiros. Uma bala acertou de raspão o rosto de Jussiê.
Ele disse ter sido torturado no cativeiro. Eram visíveis marcas de queimaduras feitas por cigarros nos braços dele. Segundo sua advogada, Erbênia Rodrigues, os seqüestradores o mantiveram com as mãos para trás, presas por uma algema, e ainda perfuraram os pés dele -um exame deve identificar o objeto usado.
Jussiê disse não saber quantos homens eram ao todo. Diz que permaneceu todo o tempo encapuzado e que não sabe onde ficou preso. Trêmulo e chorando, ele interrompeu logo a entrevista.
O seqüestro foi em 1º de abril. A Folha acompanhou o caso, mas nada publicou em respeito às normas de seu "Manual da Redação", segundo o qual o jornal pode decidir omitir uma informação se ela colocar em risco a segurança pública, uma pessoa ou empresa.
A libertação aconteceu às 2h da madrugada. Segundo Dantas, a polícia não sabia de nada. A intenção dele, disse o delegado, era voltar para casa sem avisar a polícia. "Esse tipo de crime é um dos mais difíceis de desvendar, até porque as vítimas ficam com medo de passar informações", disse o superintendente da Polícia Civil no Estado, Nival Freire.
Entre as hipóteses investigadas está a de que os seqüestradores também tenham participado do assalto ao Banco Central, sabiam com quem ficou a maior parte do dinheiro e queriam tomá-lo para si, ou mesmo que tenham somente ouvido falar do crime e queriam o dinheiro furtado.


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