|
Próximo Texto | Índice
ENGENHARIA DO CRIME
Irmão de acusado de liderar ação ficou 12 dias em cativeiro; polícia diz que ele pagou R$ 70 mil de resgate
Caso do furto do BC tem o 6º seqüestro
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
Foi libertado na madrugada de
ontem o sexto seqüestrado ligado
a envolvidos no furto milionário
ao Banco Central, em Fortaleza,
ocorrido em agosto do ano passado. Antônio Jussiê Alves dos Santos, irmão de Antônio Jussivan
Alves dos Santos, o Alemão, tido
como um dos líderes da quadrilha
de assaltantes, foi torturado e solto após 12 dias em cativeiro.
Ele e sua advogada negaram que
tenha havido o pagamento de um
resgate, mas a Polícia Civil tem informações de que foram pagos
pelo menos R$ 70 mil.
O assalto ao Banco Central
aconteceu em agosto do ano passado. Foram furtados R$ 164,8
milhões da caixa-forte do banco,
por meio de um túnel. Onze pessoas estão presas pelo crime, mas
a polícia acredita que mais de 20
tenham participado. Desse dinheiro, a polícia até agora só recuperou R$ 18 milhões.
Jussiê foi ontem à tarde à sede
da Polícia Civil em Fortaleza, mas
mal conseguia falar. Disse que os
seqüestradores o confundiram
com seu irmão -que está foragido- e o chamavam de Alemão.
Segundo Jussiê, eles exigiam R$ 1
milhão por sua liberdade. "Eles
achavam que eu tinha esse dinheiro", disse, em entrevista.
A semelhança de Jussiê, que é
agricultor em Boa Viagem (a 234
km de Fortaleza), com o irmão já
fez com que ele fosse preso duas
vezes por engano.
Apesar disso, para o delegado
Luiz Carlos Dantas, da DIP (Delegacia de Inteligência Policial), dificilmente os seqüestradores erraram o alvo. Segundo ele, a intenção deve ter sido mesmo a de seqüestrar "o irmão de Alemão".
"Eles achavam que ele tivesse pelo
menos parte do dinheiro."
Entre os outros cinco seqüestros, apenas um não foi acompanhado pela polícia, o de um parente de Antônio Edimar Bezerra,
que foi preso em setembro do ano
passado com R$ 12,5 milhões escondidos em sua casa. O primeiro
seqüestro, de Luiz Fernando Ribeiro, o Fernandinho, aconteceu
em São Paulo. Tido como um dos
líderes da quadrilha, ele morreu
mesmo após o pagamento de um
resgate de R$ 2 milhões. Os demais seqüestrados também pagaram resgates.
A ação contra Jussiê foi bastante
violenta. Ele foi seqüestrado em
frente a uma clínica, em Fortaleza,
onde iria tratar de uma úlcera.
Quatro homens armados, dizendo ser policiais, o prenderam e
dispararam tiros. Uma bala acertou de raspão o rosto de Jussiê.
Ele disse ter sido torturado no
cativeiro. Eram visíveis marcas de
queimaduras feitas por cigarros
nos braços dele. Segundo sua advogada, Erbênia Rodrigues, os seqüestradores o mantiveram com
as mãos para trás, presas por uma
algema, e ainda perfuraram os pés
dele -um exame deve identificar
o objeto usado.
Jussiê disse não saber quantos
homens eram ao todo. Diz que
permaneceu todo o tempo encapuzado e que não sabe onde ficou
preso. Trêmulo e chorando, ele
interrompeu logo a entrevista.
O seqüestro foi em 1º de abril. A
Folha acompanhou o caso, mas
nada publicou em respeito às normas de seu "Manual da Redação",
segundo o qual o jornal pode decidir omitir uma informação se
ela colocar em risco a segurança
pública, uma pessoa ou empresa.
A libertação aconteceu às 2h da
madrugada. Segundo Dantas, a
polícia não sabia de nada. A intenção dele, disse o delegado, era voltar para casa sem avisar a polícia.
"Esse tipo de crime é um dos mais
difíceis de desvendar, até porque
as vítimas ficam com medo de
passar informações", disse o superintendente da Polícia Civil no
Estado, Nival Freire.
Entre as hipóteses investigadas
está a de que os seqüestradores
também tenham participado do
assalto ao Banco Central, sabiam
com quem ficou a maior parte do
dinheiro e queriam tomá-lo para
si, ou mesmo que tenham somente ouvido falar do crime e queriam o dinheiro furtado.
Próximo Texto: Violência: PMs são suspeitos de matar faxineiro por engano em Itaquera Índice
|