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Lixeiros param por salário, protetor solar e café da manhã
Paralisação da coleta de lixo e da varrição é por tempo indeterminado; o TRT julgará a greve na próxima segunda
Eles reivindicam aumento de salário e subsídio integral do convênio médico, mas voltam se receberem café da manhã e bloqueador solar
Joel Silva/Folha Imagem
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Sacos de lixo acumulados em calçada da av. Juscelino Kubitschek, no primeiro dia da greve |
DA REPORTAGEM LOCAL
Os lixeiros de São Paulo entraram em greve, por tempo indeterminado, ontem. Além do
reajuste salarial, a categoria
também reivindica café da manhã e protetor solar.
Os lixeiros querem que as
empresas elevem a proposta de
aumento -3,11%- e paguem
integralmente o convênio médico, mas o próprio sindicato
admite que, se as empresas
aceitarem fornecer café da manhã e bloqueador solar, a categoria voltará ao trabalho.
"Não querem dar nem protetor solar nem café da manhã,
que é café com leite e pão com
manteiga", disse Moacyr Pereira, presidente do Siemaco (Sindicato dos Trabalhadores em
Empresas de Asseio e Conservação e Limpeza Urbana).
No final de março, houve
uma ameaça de greve da categoria, suspensa um dia depois,
após as empresas oferecerem
um reajuste de 3,11%, equivalente à inflação do ano medida
pelo INPC. Pereira afirmou que
a greve foi suspensa naquela
época porque as empresas reabriram a negociação, mas que a
categoria não ficou satisfeita.
Desde então, foram feitas pelo menos cinco reuniões. Além
dos 3,11%, o sindicato patronal
propôs apenas aumentar o subsídio do convênio médico. "Não
há como avançar mais", disse
Ariovaldo Caodaglio, presidente-executivo do Selur (Sindicato das Empresas de Limpeza
Urbana).
O piso salarial do varredor é
de R$ 544. O do coletor, R$ 647.
Segundo a prefeitura, todos
os funcionários das empresas
de coleta pararam. Os transtornos à população só não foram
maiores porque as empresas de
varrição ajudaram na coleta do
lixo domiciliar.
Ontem, o TRT (Tribunal Regional do Trabalho) determinou o funcionamento de pelo
menos 70% do serviço. O sindicato diz que a ordem do TRT
está sendo cumprida tanto pelos na varrição quanto na coleta. Para as empresas, porém, a
greve foi total na coleta e de
50% na varrição.
O TRT julgará a greve na segunda-feira às 14h. O setor tem
13 mil trabalhadores.
Por dia, a capital produz cerca de 13 mil toneladas de detritos, sendo 9 mil toneladas de lixo recolhidas por 370 caminhões. O restante é entulho e
material para reciclagem.
Ontem, a prefeitura entrou
com uma ação contra as empresas de coleta -Loga e Ecourbis- exigindo o cumprimento
do contrato e a manutenção do
serviço. Caodaglio, do sindicato
das empresas, disse ter informado a prefeitura do andamento das negociações.
O comerciante Marcos Ricardo Billi Decker, 32, que tem
uma loja de massas, foi pego de
surpresa com a greve. Na frente
de seu estabelecimento, o lixo
não havia sido recolhido.
"Quem trabalha com alimentos
não pode facilitar, pois daqui a
pouco a sujeira vai atrair insetos e ratos", afirmou.
Contrato
A greve dos funcionários interessa às empresas de coleta
de lixo domiciliar e à prefeitura.
As duas partes travam, desde
2005, uma disputa envolvendo
o contrato assinado pela ex-prefeita Marta Suplicy (PT) no
final de seu mandato, em 2004.
José Serra (PSDB), ao assumir a prefeitura, alegou que os
valores do contrato eram exagerados e contratou a Fipe
(Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), da USP, para
calcular o valor justo. A Fipe
apontou que os valores poderiam ser 13,75% menores. A
prefeitura paga hoje, sem mudar o contrato, 35% a menos.
A prefeitura já tem um parecer jurídico que aponta ilegalidades no contrato. O objetivo é
rompê-lo e fazer nova licitação.
A greve, com a paralisação parcial dos serviços, daria mais argumentos para a prefeitura.
Por outro lado, às empresas
interessa pressionar a prefeitura para a solução do impasse.
"Se a intenção de alguém foi
pressionar a prefeitura, não vai
funcionar. O efeito é contrário", disse Dimas Ramalho, secretário municipal de Serviços.
"O importante é que a prefeitura está muito tranqüila porque os serviços não cessaram e
não cessarão", disse ontem à
noite o prefeito Gilberto Kassab (DEM, ex-PFL).
Para o presidente do Siemaco, os trabalhadores "estão sendo usados como bucha de canhão". "O sindicato está espremido dos dois lados. Dizem que
a gente está ajudando as empresas a pressionar a prefeitura. Dizem também que a gente
está ajudando a prefeitura a
romper o contrato. E, se a gente
não fizesse nada, os trabalhadores ficariam achando que a
gente está mesmo."
Ramalho disse que ainda não
está decidido o que será feito,
mas não descartou a hipótese
de romper o contrato, que tem
validade até 2024.
(EVANDRO SPINELLI)
Colaborou o "AGORA"
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