São Paulo, sábado, 14 de abril de 2007

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Lixeiros param por salário, protetor solar e café da manhã

Paralisação da coleta de lixo e da varrição é por tempo indeterminado; o TRT julgará a greve na próxima segunda

Eles reivindicam aumento de salário e subsídio integral do convênio médico, mas voltam se receberem café da manhã e bloqueador solar

Joel Silva/Folha Imagem
Sacos de lixo acumulados em calçada da av. Juscelino Kubitschek, no primeiro dia da greve


DA REPORTAGEM LOCAL

Os lixeiros de São Paulo entraram em greve, por tempo indeterminado, ontem. Além do reajuste salarial, a categoria também reivindica café da manhã e protetor solar.
Os lixeiros querem que as empresas elevem a proposta de aumento -3,11%- e paguem integralmente o convênio médico, mas o próprio sindicato admite que, se as empresas aceitarem fornecer café da manhã e bloqueador solar, a categoria voltará ao trabalho.
"Não querem dar nem protetor solar nem café da manhã, que é café com leite e pão com manteiga", disse Moacyr Pereira, presidente do Siemaco (Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Asseio e Conservação e Limpeza Urbana).
No final de março, houve uma ameaça de greve da categoria, suspensa um dia depois, após as empresas oferecerem um reajuste de 3,11%, equivalente à inflação do ano medida pelo INPC. Pereira afirmou que a greve foi suspensa naquela época porque as empresas reabriram a negociação, mas que a categoria não ficou satisfeita.
Desde então, foram feitas pelo menos cinco reuniões. Além dos 3,11%, o sindicato patronal propôs apenas aumentar o subsídio do convênio médico. "Não há como avançar mais", disse Ariovaldo Caodaglio, presidente-executivo do Selur (Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana).
O piso salarial do varredor é de R$ 544. O do coletor, R$ 647.
Segundo a prefeitura, todos os funcionários das empresas de coleta pararam. Os transtornos à população só não foram maiores porque as empresas de varrição ajudaram na coleta do lixo domiciliar.
Ontem, o TRT (Tribunal Regional do Trabalho) determinou o funcionamento de pelo menos 70% do serviço. O sindicato diz que a ordem do TRT está sendo cumprida tanto pelos na varrição quanto na coleta. Para as empresas, porém, a greve foi total na coleta e de 50% na varrição.
O TRT julgará a greve na segunda-feira às 14h. O setor tem 13 mil trabalhadores.
Por dia, a capital produz cerca de 13 mil toneladas de detritos, sendo 9 mil toneladas de lixo recolhidas por 370 caminhões. O restante é entulho e material para reciclagem.
Ontem, a prefeitura entrou com uma ação contra as empresas de coleta -Loga e Ecourbis- exigindo o cumprimento do contrato e a manutenção do serviço. Caodaglio, do sindicato das empresas, disse ter informado a prefeitura do andamento das negociações.
O comerciante Marcos Ricardo Billi Decker, 32, que tem uma loja de massas, foi pego de surpresa com a greve. Na frente de seu estabelecimento, o lixo não havia sido recolhido. "Quem trabalha com alimentos não pode facilitar, pois daqui a pouco a sujeira vai atrair insetos e ratos", afirmou.

Contrato
A greve dos funcionários interessa às empresas de coleta de lixo domiciliar e à prefeitura. As duas partes travam, desde 2005, uma disputa envolvendo o contrato assinado pela ex-prefeita Marta Suplicy (PT) no final de seu mandato, em 2004.
José Serra (PSDB), ao assumir a prefeitura, alegou que os valores do contrato eram exagerados e contratou a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), da USP, para calcular o valor justo. A Fipe apontou que os valores poderiam ser 13,75% menores. A prefeitura paga hoje, sem mudar o contrato, 35% a menos.
A prefeitura já tem um parecer jurídico que aponta ilegalidades no contrato. O objetivo é rompê-lo e fazer nova licitação. A greve, com a paralisação parcial dos serviços, daria mais argumentos para a prefeitura.
Por outro lado, às empresas interessa pressionar a prefeitura para a solução do impasse.
"Se a intenção de alguém foi pressionar a prefeitura, não vai funcionar. O efeito é contrário", disse Dimas Ramalho, secretário municipal de Serviços.
"O importante é que a prefeitura está muito tranqüila porque os serviços não cessaram e não cessarão", disse ontem à noite o prefeito Gilberto Kassab (DEM, ex-PFL).
Para o presidente do Siemaco, os trabalhadores "estão sendo usados como bucha de canhão". "O sindicato está espremido dos dois lados. Dizem que a gente está ajudando as empresas a pressionar a prefeitura. Dizem também que a gente está ajudando a prefeitura a romper o contrato. E, se a gente não fizesse nada, os trabalhadores ficariam achando que a gente está mesmo."
Ramalho disse que ainda não está decidido o que será feito, mas não descartou a hipótese de romper o contrato, que tem validade até 2024.
(EVANDRO SPINELLI)

Colaborou o "AGORA"


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