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Em enterro de bebê, parentes pedem compaixão pelo pai
Pela manhã, pessoas passaram pelo edifício do biólogo gritando assassino; vizinhos desceram para defendê-lo
Enterro de Gustavo Garcia, 1, no Cemitério Vertical Memorial, em Guarulhos (SP), foi acompanhado por cerca de 150 pessoas
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Ninguém consegue explicar
direito o que aconteceu. Muito
menos entender. O enterro do
menino Gustavo Garcia, 1 ano e
4 meses, esquecido anteontem
pelo pai dentro do automóvel
da família em Guarulhos, foi
marcado por um apelo da família: que a sociedade não julgue a
tragédia. "Pedimos compaixão
das pessoas e que elas tentem
não julgar o pai", disse Rosângela Vassolere, tia de Gustavo,
após o sepultamento.
Acompanhado por cerca de
150 pessoas, o enterro no Cemitério Vertical Memorial,
também em Guarulhos, Grande São Paulo, foi antecipado à
pedido da família. Marcado para as 11h, ocorreu às 9h30, duas
horas após os parentes terem
chegado ao local para o velório.
Em estado de choque, sob
efeito de sedativos, os pais não
deram declarações. De acordo
com Rosângela, eles seguiriam
direto a uma clínica para acompanhamento psicológico.
Na manhã de anteontem, o
biólogo Ricardo César Garcia,
31, em seu primeiro dia de férias, levou a mulher ao trabalho
e voltou para casa.
Considerado um pai exemplar por vizinhos e amigos do
casal, ele acabou esquecendo o
único filho dentro do carro, já
que rotineiramente o menino
costumava ficar na casa de um
parente, e subiu para seu apartamento, onde acabou dormindo. Por volta do meio-dia, ao
atender um telefonema da mulher, lembrou que o garoto estava no veículo, um Celta preto
parado no estacionamento descoberto do prédio, há quase
quatro horas.
Ao chegar no carro, encontrou o filho desacordado e ambos foram levados por vizinhos
ao Hospital Bom Clima.
De acordo com o diretor-clínico do hospital, Marcos Leite
Nunes, a criança já chegou
morta, com parada cardiorrespiratória e temperatura acima
dos 40C. Garcia foi autuado
por homicídio culposo (sem intenção), pagou fiança de R$
300 e responderá ao inquérito
em liberdade.
Gritos de assassino
Católica, a família pediu a
presença de um padre no velório, que realizou breve cerimônia. Em seguida, o caixão branco foi carregado por parentes e
depositado em uma gaveta no
segundo andar do cemitério.
Por volta das 10h, quando os
pais já haviam deixado o local,
amigos e vizinhos ainda chegavam para o enterro sem saber
da antecipação. A maioria estava revoltada com o comportamento de algumas pessoas.
Desde a manhã de ontem,
contaram moradores do condomínio da família Garcia,
transeuntes passavam em frente à garagem e gritavam "assassino", em menção ao pai.
O porteiro do prédio, que não
quer ser identificado, conta que
a maior parte dos gritos ocorreu de manhã, bem cedo. Segundo ele, muitos moradores
ficaram revoltados e desceram
para defender o vizinho.
"O que aconteceu foi uma fatalidade. Não houve negligência do pai", diz o síndico do condomínio, João Valentim Filho.
"As pessoas não podem imaginar a dor de uma família nessa hora." Segundo ele, o biólogo
era um pai extremamente cuidadoso e presente. "Ele estava
sempre com o menino e era
muito preocupado. Não dá para
entender como essa tragédia
foi acontecer."
Até o fim da tarde de ontem,
o casal não havia voltado ao
apartamento. Segundo vizinhos e amigos, eles estão na casa de familiares.
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