São Paulo, sábado, 14 de abril de 2007

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Em enterro de bebê, parentes pedem compaixão pelo pai

Pela manhã, pessoas passaram pelo edifício do biólogo gritando assassino; vizinhos desceram para defendê-lo

Enterro de Gustavo Garcia, 1, no Cemitério Vertical Memorial, em Guarulhos (SP), foi acompanhado por cerca de 150 pessoas

DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ninguém consegue explicar direito o que aconteceu. Muito menos entender. O enterro do menino Gustavo Garcia, 1 ano e 4 meses, esquecido anteontem pelo pai dentro do automóvel da família em Guarulhos, foi marcado por um apelo da família: que a sociedade não julgue a tragédia. "Pedimos compaixão das pessoas e que elas tentem não julgar o pai", disse Rosângela Vassolere, tia de Gustavo, após o sepultamento.
Acompanhado por cerca de 150 pessoas, o enterro no Cemitério Vertical Memorial, também em Guarulhos, Grande São Paulo, foi antecipado à pedido da família. Marcado para as 11h, ocorreu às 9h30, duas horas após os parentes terem chegado ao local para o velório.
Em estado de choque, sob efeito de sedativos, os pais não deram declarações. De acordo com Rosângela, eles seguiriam direto a uma clínica para acompanhamento psicológico.
Na manhã de anteontem, o biólogo Ricardo César Garcia, 31, em seu primeiro dia de férias, levou a mulher ao trabalho e voltou para casa.
Considerado um pai exemplar por vizinhos e amigos do casal, ele acabou esquecendo o único filho dentro do carro, já que rotineiramente o menino costumava ficar na casa de um parente, e subiu para seu apartamento, onde acabou dormindo. Por volta do meio-dia, ao atender um telefonema da mulher, lembrou que o garoto estava no veículo, um Celta preto parado no estacionamento descoberto do prédio, há quase quatro horas.
Ao chegar no carro, encontrou o filho desacordado e ambos foram levados por vizinhos ao Hospital Bom Clima.
De acordo com o diretor-clínico do hospital, Marcos Leite Nunes, a criança já chegou morta, com parada cardiorrespiratória e temperatura acima dos 40C. Garcia foi autuado por homicídio culposo (sem intenção), pagou fiança de R$ 300 e responderá ao inquérito em liberdade.

Gritos de assassino
Católica, a família pediu a presença de um padre no velório, que realizou breve cerimônia. Em seguida, o caixão branco foi carregado por parentes e depositado em uma gaveta no segundo andar do cemitério. Por volta das 10h, quando os pais já haviam deixado o local, amigos e vizinhos ainda chegavam para o enterro sem saber da antecipação. A maioria estava revoltada com o comportamento de algumas pessoas.
Desde a manhã de ontem, contaram moradores do condomínio da família Garcia, transeuntes passavam em frente à garagem e gritavam "assassino", em menção ao pai.
O porteiro do prédio, que não quer ser identificado, conta que a maior parte dos gritos ocorreu de manhã, bem cedo. Segundo ele, muitos moradores ficaram revoltados e desceram para defender o vizinho.
"O que aconteceu foi uma fatalidade. Não houve negligência do pai", diz o síndico do condomínio, João Valentim Filho.
"As pessoas não podem imaginar a dor de uma família nessa hora." Segundo ele, o biólogo era um pai extremamente cuidadoso e presente. "Ele estava sempre com o menino e era muito preocupado. Não dá para entender como essa tragédia foi acontecer."
Até o fim da tarde de ontem, o casal não havia voltado ao apartamento. Segundo vizinhos e amigos, eles estão na casa de familiares.


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