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Para presidente, ações são políticas de Estado
RENATA GIRALDI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso apelou para que o
próximo governo não limite as
ações na área de direitos humanos às 518 propostas do programa
que lançou ontem, a menos de oito meses do fim de seu segundo
mandato. Para ele, são políticas de
Estado que não se esgotam em
um único mandato presidencial.
"As ações aqui anunciadas
constituem verdadeiras políticas
de Estado e não apenas atos deste
governo", afirmou. "Iniciativas
como o Programa Nacional de
Direitos Humanos contam com o
respaldo da sociedade brasileira e
não podem esgotar-se em um
mandato presidencial", acrescentou FHC, na cerimônia no Palácio
do Planalto.
Demonstrando bom-humor, o
presidente, que completará 71
anos no próximo mês, fez piada
com a própria idade, mas retomou a seriedade ao mandar uma
mensagem indireta ao Congresso.
FHC recomendou que o projeto
de lei, de autoria da petista Marta
Suplicy, que estabelece a legalização da união civil entre pessoas do
mesmo sexo, seja apreciado pelos
congressistas.
Minutos depois, FHC ganhou
de presente do presidente do Grupo Estruturação (entidade gay de
Brasília), Welton Trindade, a bandeira-símbolo dos homossexuais,
que contém seis cores do arco-íris. "Pedi que ele defenda nossos
direitos e ele disse "com certeza".
Foi muito gentil", disse Trindade.
Após ter recomendado a apreciação do projeto, sem citar o nome da prefeita de São Paulo, elogiou o vice-prefeito Hélio Bicudo,
também petista, por ter conseguido a aprovação da lei que transfere da Justiça Militar para a comum a competência para julgar
policiais militares.
Em 20 minutos de discurso, o
presidente listou os avanços obtidos por seu governo. Destacou as
ações de valorização da população negra e lembrou que a primeira revolução social no país ocorreu com o fim do regime escravocrata. Assumindo tom professoral, FHC citou os intelectuais Florestan Fernandes (1920-1995), autor de textos sobre a desagregação
da ordem social escravista e da exclusão do negro do novo sistema
de relações de trabalho, e André
Rebouças (1833-1898), militante
do movimento abolicionista na
década de 1880, ao falar dos efeitos do fim da escravidão. "Como
dizia um jornal da época, [o fim
da escravidão foi" a primeira expressão da democracia na história
do país", comentou. O presidente
insistiu que o processo está inconcluso, numa referência à existência de trabalho escravo no país.
Para buscar meios de eliminar o
trabalho forçado no país, FHC
nomeou como assessor especial o
professor da USP José de Souza
Martins, seu ex-aluno.
Ao ressaltar as ações executadas, que visam melhorar a qualidade de vida dos deficientes físicos, o presidente agradeceu o
quadro, pintado com a boca, que
ganhou de presente do deficiente
físico Marcelo Cunha, 32.
FHC determinou estudo para
implementação no serviço público de cota de 20% para as mulheres. Ele citou a criação do conselho de alimentação, dos centros de apoio ao idoso e o combate ao trabalho escravo e infantil.
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