São Paulo, terça-feira, 14 de maio de 2002

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3ª IDADE

Responsáveis pelo Lar dos Velhinhos Izabel Moda, em São Paulo, teriam se apropriado de pelo menos R$ 661.434 da instituição

Diretoria é acusada de desviar verba de asilo

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público do Estado de São Paulo acusa a diretoria de uma entidade filantrópica que atende idosas de desviar pelo menos R$ 661.434 da instituição.
Integrantes do Gaepi (Grupo de Atuação Especial de Proteção ao Idoso) e a polícia apreenderam ontem documentos no centro operacional da Sociedade Beneficente Lar dos Velhinhos Izabel Moda, localizado no centro de São Paulo. A entidade filantrópica tem 40 anos de existência.
Policiais também buscaram material no próprio asilo, que fica no Tremembé, zona norte. A promotoria já havia obtido na Justiça a quebra dos sigilos fiscal, bancário e cadastral de integrantes da diretoria e parentes.
Segundo o promotor João Estevam da Silva, o presidente da entidade, Jean Grigorenciuc, construiu a sede em um terreno de 2.200 m2, de sua propriedade, com dinheiro da entidade filantrópica. Ele colocou o imóvel em seu nome e no da mulher, Dilza Izabel Moreto Grigorenciuc.
A entidade é proprietária de um terreno na zona leste da cidade. "Mas a diretoria preferiu construir a sede no terreno do presidente", disse o promotor.
Ainda de acordo com informações da promotoria, Grigorenciuc cobra aluguel de R$ 3.800 mensais da sociedade beneficente.
Técnicos do CAEx (Centro de Apoio Operacional à Execução do Ministério Público) avaliaram as construções do terreno em R$ 661.434. Mas, segundo o promotor, o valor do imóvel no mercado pode alcançar R$ 1 milhão.
De acordo com declarações de funcionários ao Ministério Público, a entidade arrecada por mês entre R$ 100 mil e 135 mil.
O presidente retiraria de R$ 5.000 a R$ 10 mil em dinheiro por semana para "outros pagamentos". A sociedade tem isenção de impostos e taxas municipais, estaduais e federais.
Estevam afirma que a movimentação bancária do casal não condiz com os seus rendimentos. Dilza, que é dona-de-casa, já manteve saldos de R$ 18 mil e R$ 123 mil. O presidente declarou ter renda de cerca de R$ 8.000, considerando os aluguéis que recebe e os rendimentos de uma microempresa.
O Ministério Público irá denunciar o presidente, sua mulher e outros membros da diretoria da entidade por estelionato e formação de quadrilha. O promotor pedirá à Justiça a nomeação de um interventor para a entidade.
Idosas abrigadas elogiaram o asilo. "As refeições são de primeira", disse uma delas. Há 42 senhoras idosas no local. O imóvel é amplo, tem uma decoração cuidada e até salão de beleza.
"O problema é que ele usou o dinheiro da instituição e colocou o imóvel em nome dele. No momento em que quiser, poderá colocar as idosas na rua e ficar com o patrimônio", diz o promotor. "Pergunte a ele se doaria o imóvel à entidade. Os maiores lesados são as pessoas que doaram."
O advogado dos acusados, Milton Saad, negou que existam irregularidades na entidade.
Silva afirma que parte das idosas deixa a aposentadoria com a entidade em troca da permanência no asilo -um total de R$ 13 mil é pago por elas mensalmente. A filantrópica também recebe cestas básicas doadas.
As investigações sobre a entidade começaram no ano passado, após uma vistoria no local. A promotoria verificou que a sociedade mudara para um prédio com instalações discrepantes em relação ao endereço anterior, uma pequena casa no Itaim Paulista (zona leste), e resolveu investigar.



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