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URBANIDADE
O professor no paraíso
CURVA DO TEMPO São Paulo costuma colocar à prova seus aspirantes moradores. Em 1977, Rita Cadillac chegou do Rio para encher de curvas um programa de TV, mas, ao sair pelas ruas, viu que seus minúsculos trajes de praia carioca deixavam a mocidade em vivaz exuberância: viveu então três anos em Santos, meio-termo entre as duas cidades, antes de voltar para São Paulo, definitivamente.
(VINCENZO SCARPELLINI)
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Apaixonado por restauração do patrimônio histórico, o professor Samuel Kruchin
encontrou um paraíso particular
na zona leste. Fez de uma das raras edificações do século 17 que
sobraram na cidade de São Paulo -a casa do regente Feijó- a
extensão de sua sala de aula,
transformada então num laboratório de arquitetura. "É um sonho", comemora.
Kruchin foi convidado a restaurar o prédio, hoje em ruínas,
do orfanato Anália Franco,
construído na antiga fazenda do
regente Feijó, na zona leste. Reformado, o antigo orfanato, que
recebia filhos de escravos, passou
a sediar a Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul), onde Kruchin acabou coordenando um
curso de pós-graduação em patrimônio histórico.
Dar aula de patrimônio histórico dentro da sua própria obra
restaurada já seria suficiente para fazer de Kruchin um professor
orgulhoso: seus ensinamentos estariam ali, diante dos alunos, fixados no espaço, quase como giz
na lousa. O melhor, porém, estava bem ao lado, separado, aliás,
por um túnel, onde, no passado,
circulavam escravos que trabalhavam na fazenda.
Passando o túnel, desmanchava-se, vítima do tempo, a casa do
regente Feijó. "Podemos ver na
construção traços arquitetônicos
que vão do século 17 até os dias
de hoje", afirma. Coube a Kruchin também cuidar da casa. O
professor aproveitou para convidar seus alunos a acompanharem cada etapa da restauração,
misturando teoria com prática.
A história ia aparecendo na
raspagem das paredes ou do piso, num contraste com a paisagem do shopping center Anália
Franco, bem à sua frente.
Ainda não se sabe qual será o
uso da casa de Feijó, um dos adversários da escravidão durante
o Império. Talvez sirva de centro
cultural. Já se sabe, porém, que
será criado pela prefeitura um
parque na área verde que circunda aquele patrimônio, a ser
entregue ainda neste ano.
O parque também será uma
espécie de laboratório para o
professor, que, desta vez, não vai
cuidar de universitários, mas de
jovens da zona leste que estão à
procura de emprego. Ele vai chamar esses jovens para que aprendam como se constrói e preserva
um parque, edificando praças,
para que façam disso uma profissão -o desemprego entre jovens é, afinal, o inferno social da
zona leste.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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