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São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2003

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URBANIDADE

O professor no paraíso

CURVA DO TEMPO São Paulo costuma colocar à prova seus aspirantes moradores. Em 1977, Rita Cadillac chegou do Rio para encher de curvas um programa de TV, mas, ao sair pelas ruas, viu que seus minúsculos trajes de praia carioca deixavam a mocidade em vivaz exuberância: viveu então três anos em Santos, meio-termo entre as duas cidades, antes de voltar para São Paulo, definitivamente. (VINCENZO SCARPELLINI)


GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Apaixonado por restauração do patrimônio histórico, o professor Samuel Kruchin encontrou um paraíso particular na zona leste. Fez de uma das raras edificações do século 17 que sobraram na cidade de São Paulo -a casa do regente Feijó- a extensão de sua sala de aula, transformada então num laboratório de arquitetura. "É um sonho", comemora.
Kruchin foi convidado a restaurar o prédio, hoje em ruínas, do orfanato Anália Franco, construído na antiga fazenda do regente Feijó, na zona leste. Reformado, o antigo orfanato, que recebia filhos de escravos, passou a sediar a Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul), onde Kruchin acabou coordenando um curso de pós-graduação em patrimônio histórico.
Dar aula de patrimônio histórico dentro da sua própria obra restaurada já seria suficiente para fazer de Kruchin um professor orgulhoso: seus ensinamentos estariam ali, diante dos alunos, fixados no espaço, quase como giz na lousa. O melhor, porém, estava bem ao lado, separado, aliás, por um túnel, onde, no passado, circulavam escravos que trabalhavam na fazenda.
Passando o túnel, desmanchava-se, vítima do tempo, a casa do regente Feijó. "Podemos ver na construção traços arquitetônicos que vão do século 17 até os dias de hoje", afirma. Coube a Kruchin também cuidar da casa. O professor aproveitou para convidar seus alunos a acompanharem cada etapa da restauração, misturando teoria com prática.
A história ia aparecendo na raspagem das paredes ou do piso, num contraste com a paisagem do shopping center Anália Franco, bem à sua frente.
Ainda não se sabe qual será o uso da casa de Feijó, um dos adversários da escravidão durante o Império. Talvez sirva de centro cultural. Já se sabe, porém, que será criado pela prefeitura um parque na área verde que circunda aquele patrimônio, a ser entregue ainda neste ano.
O parque também será uma espécie de laboratório para o professor, que, desta vez, não vai cuidar de universitários, mas de jovens da zona leste que estão à procura de emprego. Ele vai chamar esses jovens para que aprendam como se constrói e preserva um parque, edificando praças, para que façam disso uma profissão -o desemprego entre jovens é, afinal, o inferno social da zona leste.

E-mail - gdimen@uol.com.br


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