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LAÇOS DE FAMÍLIA
Filhos dão conceito ótimo a elas, mas pedem mais afeto, diz pesquisa; excesso de atividades é criticado
Crianças querem mais beijos das mães
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Será que as mães andam economizando beijos? Para crianças e
jovens, está faltando, sim, beijo no
mercado. Até aqueles que são
abraçados, amassados, agarrados
pelas mães reclamam. Estudo da
Universidade Federal do Paraná
(UFPR) indica que boa parte dos
filhos se sente pouco beijada.
Apesar de a maioria considerar
suas mães ótimas, apenas um terço diz que elas beijam sempre.
A opinião dos filhos foi revelada
em pesquisas feitas entre 2002 e
2005, com cerca de 3.000 crianças
e jovens de 8 a 16 anos, que deram
origem ao livro "Eduque com Carinho", da psicóloga Lidia Weber,
coordenadora do Núcleo de Análise do Comportamento da UFPR.
Cerca de um terço (34,7%) dos
entrevistados afirmou que suas
mães beijam ou abraçam sempre;
46,7% variaram de nunca a às vezes, 18,7% ganham carinho quase
sempre. "Surpreendeu o baixo
envolvimento afetivo dos pais",
diz Lidia. "Acho que não é porque
as mães não gostam dos filhos.
Elas estão sobrecarregadas."
Caracterizados como negligentes emocionalmente, esses pais ultrapassam numericamente os
participativos, os permissivos e os
autoritários, segundo a pesquisa.
Há também a falta de costume.
"Ainda temos pais que não foram
criados com esse tipo de carinho e
que têm dificuldade em demonstrar afeto. Eles têm medo de perder a autoridade e até vergonha de
expressar o carinho", conta ela. "É
preciso quebrar a barreira para
que o comportamento mude."
Ruth Pereira, 39, mãe de Lucas,
10, e Beatriz, 7, não recebeu beijos
e abraços quando era criança e
tem dificuldade em expressar seu
amor pelos filhos. "Às vezes me
sinto culpada. Queria conseguir
falar "eu te amo" o tempo todo e
encher meus filhos de beijos, mas
não combina comigo", afirma.
"Prefiro mimar de outro jeito, fazendo a comida que eles gostam,
acompanhando as lições. Acho
que isso também é carinho."
Beijo na hora certa
Os filhos pedem beijo, mas têm
visão positiva das mães: 60,7% dizem que elas são ótimas. Psicanalista do Instituto Sedes Sapientiae,
Suely Gevertz diz que as crianças
gostam de paparico e que, às vezes, exageram em suas opiniões.
"Elas querem as mães só para elas.
Quando recebem menos atenção,
reclamam. Não significa que a
mãe dê carinho de menos."
Para Suely, beijar demais não
estraga as crianças, mas é preciso
saber a hora certa. "Não adianta
dar uma bronca ou colocar de
castigo e em seguida encher o filho de beijos. Nesse caso, significa
um pedido de desculpas e a bronca perde todo o seu valor."
Mãe de Pedro, 8, e Gabriel, 6,
Gianna Pagano, 37, diz saber beijar na hora certa, apesar de ser
uma beijoqueira assumida. "Coloco limites, mas queria uma relação mais próxima com meus filhos do que a que tive com meus
pais. Acho importante não só sentir afeto como demonstrá-lo."
Gianna está se preparando para
controlar os beijos quando os meninos chegarem à adolescência.
"O Pedro já não quer que eu vá até
a entrada do colégio com ele, sei
que logo não vai me deixar enchê-lo de beijos na frente dos amigos."
Respeitar a vontade dos filhos
nesse caso é necessário, diz a
coordenadora do Núcleo da Família e Comunidade da pós-graduação em psicologia da PUC-SP,
Rosa Maria Stefanini de Macedo.
"Conforme a criança cresce, ela
reage ao beijo. Quando está entrando na adolescência, não quer
mais esse tipo de manifestação de
carinho na frente dos amigos porque se sente constrangida. Aí, beijo demais pode não ser bom."
Rosa também não é a favor de
que pais beijem os filhos na boca.
"Não é adequado. Para a criança,
beijo na boca é de namorado, e ela
pode ficar confusa porque ele não
faz parte do contexto pai e filho",
diz. "O beijo na bochecha já é suficiente para demonstrar o amor."
Analice Moura Ignácio, de 39
anos, mãe de Frederico, 10, e Guilherme, 8, concorda. "Acho desnecessário. Beijo na boca eu dou
no meu marido", afirma ela. "Sei
que os meninos sentem o meu
afeto com os beijos e abraços que
dou e eles gostam. Também são
muito carinhosos e vivem me cobrindo de beijos."
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