São Paulo, domingo, 14 de maio de 2006

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LAÇOS DE FAMÍLIA

Filhos dão conceito ótimo a elas, mas pedem mais afeto, diz pesquisa; excesso de atividades é criticado

Crianças querem mais beijos das mães

DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Será que as mães andam economizando beijos? Para crianças e jovens, está faltando, sim, beijo no mercado. Até aqueles que são abraçados, amassados, agarrados pelas mães reclamam. Estudo da Universidade Federal do Paraná (UFPR) indica que boa parte dos filhos se sente pouco beijada. Apesar de a maioria considerar suas mães ótimas, apenas um terço diz que elas beijam sempre.
A opinião dos filhos foi revelada em pesquisas feitas entre 2002 e 2005, com cerca de 3.000 crianças e jovens de 8 a 16 anos, que deram origem ao livro "Eduque com Carinho", da psicóloga Lidia Weber, coordenadora do Núcleo de Análise do Comportamento da UFPR.
Cerca de um terço (34,7%) dos entrevistados afirmou que suas mães beijam ou abraçam sempre; 46,7% variaram de nunca a às vezes, 18,7% ganham carinho quase sempre. "Surpreendeu o baixo envolvimento afetivo dos pais", diz Lidia. "Acho que não é porque as mães não gostam dos filhos. Elas estão sobrecarregadas."
Caracterizados como negligentes emocionalmente, esses pais ultrapassam numericamente os participativos, os permissivos e os autoritários, segundo a pesquisa.
Há também a falta de costume. "Ainda temos pais que não foram criados com esse tipo de carinho e que têm dificuldade em demonstrar afeto. Eles têm medo de perder a autoridade e até vergonha de expressar o carinho", conta ela. "É preciso quebrar a barreira para que o comportamento mude."
Ruth Pereira, 39, mãe de Lucas, 10, e Beatriz, 7, não recebeu beijos e abraços quando era criança e tem dificuldade em expressar seu amor pelos filhos. "Às vezes me sinto culpada. Queria conseguir falar "eu te amo" o tempo todo e encher meus filhos de beijos, mas não combina comigo", afirma. "Prefiro mimar de outro jeito, fazendo a comida que eles gostam, acompanhando as lições. Acho que isso também é carinho."

Beijo na hora certa
Os filhos pedem beijo, mas têm visão positiva das mães: 60,7% dizem que elas são ótimas. Psicanalista do Instituto Sedes Sapientiae, Suely Gevertz diz que as crianças gostam de paparico e que, às vezes, exageram em suas opiniões. "Elas querem as mães só para elas. Quando recebem menos atenção, reclamam. Não significa que a mãe dê carinho de menos."
Para Suely, beijar demais não estraga as crianças, mas é preciso saber a hora certa. "Não adianta dar uma bronca ou colocar de castigo e em seguida encher o filho de beijos. Nesse caso, significa um pedido de desculpas e a bronca perde todo o seu valor."
Mãe de Pedro, 8, e Gabriel, 6, Gianna Pagano, 37, diz saber beijar na hora certa, apesar de ser uma beijoqueira assumida. "Coloco limites, mas queria uma relação mais próxima com meus filhos do que a que tive com meus pais. Acho importante não só sentir afeto como demonstrá-lo."
Gianna está se preparando para controlar os beijos quando os meninos chegarem à adolescência. "O Pedro já não quer que eu vá até a entrada do colégio com ele, sei que logo não vai me deixar enchê-lo de beijos na frente dos amigos."
Respeitar a vontade dos filhos nesse caso é necessário, diz a coordenadora do Núcleo da Família e Comunidade da pós-graduação em psicologia da PUC-SP, Rosa Maria Stefanini de Macedo. "Conforme a criança cresce, ela reage ao beijo. Quando está entrando na adolescência, não quer mais esse tipo de manifestação de carinho na frente dos amigos porque se sente constrangida. Aí, beijo demais pode não ser bom."
Rosa também não é a favor de que pais beijem os filhos na boca. "Não é adequado. Para a criança, beijo na boca é de namorado, e ela pode ficar confusa porque ele não faz parte do contexto pai e filho", diz. "O beijo na bochecha já é suficiente para demonstrar o amor."
Analice Moura Ignácio, de 39 anos, mãe de Frederico, 10, e Guilherme, 8, concorda. "Acho desnecessário. Beijo na boca eu dou no meu marido", afirma ela. "Sei que os meninos sentem o meu afeto com os beijos e abraços que dou e eles gostam. Também são muito carinhosos e vivem me cobrindo de beijos."


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