São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2008

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Aluno de 15 anos acusa professora de racismo

Ele diz que foi criticado por usar piercing e ser negro

Alex Almeida/Folha Imagem
Rafael Lourenço, que diz ter sido vítima de racismo na escola; o avô do adolescente pretende registrar um boletim de ocorrência

CINTHIA RODRIGUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O estudante Rafael Lourenço de Paula Emílio, 15, acusa uma professora da Escola Estadual Oswaldo Aranha, no Brooklin, zona sul, de racismo. Ao repreendê-lo por não estar com a camiseta da escola, ela teria dito, segundo ele: "Você já é negro e ainda não usa o uniforme da escola? Com este cabelo e este piercing na boca, você parece mais um mano de gueto." A professora nega que tenha sido racista.
O caso aconteceu na quinta-feira passada, mas só ontem a família conseguiu comunicá-lo à direção da escola. A Secretaria de Estado de Educação informou que a diretoria de ensino da região vai investigar se houve racismo.
Rafael foi transferido para a unidade neste ano. Além do ensino médio, ele cursa a Universidade de Música Tom Jobim, onde foi um dos mais jovens admitidos, quando tinha 12 anos. Ele também é o caçula da banda Nachos, onde toca baixo. Usa cabelo trançado e um piercing.
Na quinta-feira passada, o adolescente foi sem a camiseta "obrigatória" -apesar de o Estado não poder obrigar o uso de uniforme por não fornecê-lo, muitas escolas exigem- e foi surpreendido pela inspetora. "Eu acordei atrasado e coloquei o blusão por cima de qualquer camiseta, não achei que ia esquentar. Daí, estava sem a da escola por baixo", disse.
No caminho para uma sala onde havia camisetas extras para os estudantes, Rafael disse que a inspetora parou na sala do 3º ano do ensino médio -onde a professora Maria Eliza Miranda, 56, dava aula- e comentou o caso.
Segundo o estudante, naquele momento a professora teria dito que ele "já era negro" e falou de seu visual. "Nunca tinha visto a mulher", diz o aluno. "Sempre soube que racismo existia, mas nunca tinha acontecido comigo."
No dia seguinte, sua mãe foi falar com a diretora. Esperou por 40 minutos e não conseguiu ser atendida. Rafael diz que chorou no fim de semana e pensou em parar de estudar. Na segunda-feira faltou e seu avô, o consultor em Recursos Humanos, Hélio Cândido Emílio, 70, convenceu o neto a ir à aula ontem e foi junto.
Segundo o avô, somente depois de esperar por mais de três horas ele conseguiu falar com a direção da escola, que prometeu investigar o caso. "Não é por falar que é negro, mas por dizer "além de ser negro", como se só o fato de ser negro já fosse um problema", disse.


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