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TERRA EM TRANSE
Efeitos também foram sentidos no interior do Estado, no Distrito Federal e nos Estados do Paraná e Goiás
Terremoto no Chile causa tremores no país
DA REPORTAGEM LOCAL
DA FOLHA RIBEIRÃO
Um tremor de terra, reflexo de
um terremoto de magnitude 7.9
na escala Richter que provocou
ontem pelo menos oito mortes no
Chile, fez balançar casas na capital
paulista e no interior, além de Paraná, Goiás e Distrito Federal.
Em São Paulo, bairros como Higienópolis, Perdizes, Pinheiros e
Vila Madalena (zona oeste), Parada de Taipas e São Domingos (zona norte) foram afetados, segundo a Defesa Civil do Município.
Não houve registro de ocorrências graves relacionadas ao fenômeno, que atingiu a cidade por
volta das 20h.
Até as 21h, a Defesa Civil havia
recebido dez ligações de pessoas
interessadas em saber a origem
do tremor. A queda de livros das
estantes e o balançar de chaves
nas portas eram alguns dos relatos de quem telefonou.
Pela escala de Mercalli, que traduz em números os efeitos do terremoto nas pessoas e estruturas, o
terremoto no Chile teve uma
magnitude de 10 a 11. Em São Paulo, a magnitude foi de 2 a 3. A escala Richter baseia-se apenas em
registros sismológicos. Tremores
de magnitude 2 na escala de Mercalli só são percebidos em locais
altos e por quem está em repouso.
Segundo o professor Jesús Antônio Berrocal Gómes, do Instituto de Astronomia, Geofísica e
Ciências Atmosféricas da USP
(Universidade de São Paulo), o
tremor foi um dos maiores sentidos em São Paulo nos últimos
quatro ou cinco anos.
Segundo ele, os efeitos do terremoto chegaram à capital porque o
abalo foi muito profundo, a 110
km da superfície. "Se a profundidade fosse menor, os estragos no
Chile teriam sido bem maiores.
Mas, como o foco foi bem profundo, o sismo ganhou amplitude e
atingiu lugares mais distantes",
explicou o especialista.
De acordo com Gómes, o tipo
de tremor que atingiu São Paulo
não traz perigo. "Os prédios construídos em cima de solos de material sedimentar não muito compacto, que é mais mole, foram os
que mais sentiram o efeito", completou. "Isso atinge áreas como a
de Perdizes, Pinheiros, Santana
[zona norte], Rebouças, talvez na
Paulista, em aterros e também
Campinas [95 km da capital]."
Medo
Moradores do 17º andar de um
prédio na rua Senador Lacerda
Vergueiro, na Vila Madalena, zona oeste de São Paulo, Eduardo
Assumpção, 23, e sua mãe, Maria
Célia Assumpção, 56, sentiram o
tremor por volta das 20h30.
"Estava trabalhando no computador, quando senti uma tontura
forte. Ao chegar à sala, vi o lustre
balançando como um pêndulo",
explica Eduardo. Da percepção
do tremor até chegarem ao térreo
do prédio foi "coisa de minutos",
segundo a mãe. Com eles, desceram outras oito pessoas.
Também da Vila Madalena, a
arqueóloga Silvia Maranca conversava com a irmã ao telefone
quando sentiu sua cama se mover. Ela não se assustou, pois viveu no México e passou por vários tremores naquele país. "Mas
certamente não é agradável."
O professor Joseph Harari, 53,
morador de Higienópolis, só viu o
lustre balançar.
Temerosos, alguns moradores
do Jardim Europa -conjunto de
14 edifícios na Lagoinha, bairro
nobre de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo- deixaram os
apartamentos. "Foi horrível, deu
pânico", disse a empresária Vera
Lúcia Baltazar, 52, moradora há
três anos do sétimo andar do Parma, um dos prédios do conjunto.
Vera assistia a TV com a mãe de
75 anos quando notou o sofá tremer. Assustada, tomou o elevador
e ficou do lado de fora do edifício.
Segundo a empresária, o pior do
tremor foi a fragilidade sentida
diante do treme-treme do chão.
"Como estou no sétimo andar, fiquei preocupada", afirmou.
Outros dois moradores do conjunto de prédios pensaram ter
passado mal. "Foi uma sensação
de tontura desconfortável, parecia uma labirintite", afirmou a
funcionária pública Maria Neusa
Nonato, 54, há oito anos morando
no edifício. A filha de Maria Neusa, Kizzy, 25, entrou em desespero. "Ela saiu gritando."
(SIMONE HARNIK, LUCIANA PAREJA,FABIANE LEITE E RICARDO GALLO)
Colaborou a Folha Online
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