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Esquema de propina pode atingir 70% das delegacias
Planilhas trazem indícios de pagamentos em 71 dos 93 DPs da capital paulista
Propina servia para acobertar o funcionamento de caça-níqueis; delegacias especializadas e peritos também são investigados
ANDRÉ CARAMANTE
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Planilhas feitas pelo advogado Jamil Chokr contidas no inquérito da Corregedoria da Polícia Civil indicam que o esquema de pagamento de propina a
policiais para acobertar máquinas caça-níqueis pode atingir
mais de 70% das delegacias da
capital paulista. A propina por
máquina variava de R$ 30 a R$
40, segundo os documentos.
Chokr, que defendia empresas de caça-níqueis, é investigado desde o dia 25 de maio,
quando bateu o seu carro e policiais militares encontraram no
interior do veículo envelopes
com dinheiro que traziam números e abreviaturas de distritos policiais da capital, assim
como as planilhas.
As tabelas as quais a Folha
teve acesso e que estão sendo
analisadas pela Corregedoria
da Polícia Civil mostram uma
contabilidade muito bem organizada. Chokr, segundo documentos contidos no inquérito,
mapeou o número de máquinas das quais seria responsável
a partir das áreas dos distritos
policiais da capital (exemplo:
8º DP - 45 máquinas)
Em uma das planilhas, referente a um mês, por exemplo, o
advogado anotou 1.173 máquinas distribuídos em 71 distritos
policiais -76% dos atuais 93
distritos na capital paulista. A
mesma planilha lista mais 276
máquinas em Mauá, Diadema,
Santo André, São Bernardo do
Campo e Guarulhos, todos na
Grande São Paulo e ABC.
O secretário da Segurança
Pública, Ronaldo Marzagão, foi
procurado pela Folha, mas não
se manifestou. O advogado
Chokr não foi localizado.
Tabelas a mão
O mapeamento das máquinas por distritos é complementado, no inquérito da Corregedoria, por tabelas feitas a mão
ou no computador pelo advogado com dados referentes às oito
delegacias seccionais da capital
-cada seccional é composta
por vários distritos.
Essas planilhas funcionam
como uma espécie de tabela de
projeção para pagamento de
propina aos policiais civis dos
distritos, segundo a investigação dos policiais da Corregedoria. São nelas que apareceram
os valores de R$ 30 a R$ 40 pagos por máquina.
Nessa tabela também aparece o número de máquinas caça-níqueis na área de cada distrito
e a projeção do valor a ser pago.
Em outra tabela, feita no final de abril deste ano, é feita
uma projeção de gastos para o
mês de maio. Nela, é citado um
valor disponível para supostamente ser repassado a policiais
civis de R$ 205 mil.
Essa tabela, no entanto, não
menciona o pagamento a distritos policiais, mas departamentos da Polícia Civil.
Entre eles, o Deic (Departamento de Investigações sobre o
Crime Organizado) -que receberia R$ 17 mil do valor total-
e o Decap (Departamento de
Polícia Judiciária da Capital, a
central de todos os distritos) -
valor de R$ 5.000.
O IC (Instituto de Criminalística), segundo a tabela de
Chokr, receberia R$ 2.000, no
dia 20 de abril deste ano.
A Corregedoria também investiga se quatro laudos emitidos pelo IC, em 2006, foram
forjados para favorecer pessoas
que estariam ligadas ao suposto
esquema de propina de Chokr.
Em um dos quatro laudos,
peritos atestam que as máquinas analisadas pagam até
118,3% das apostas feitas. Isso
significa que, em todas as realizadas em alguns aparelhos, o
apostador sai vencedor.
Um dos quatro laudos assinado pelos peritos Bonjorno,
diretor do núcleo de patrimônio do IC, Jonas Eboli Machado e Adriano Issamu Yonamine
apontou que 20 máquinas da
empresa Reel Token, defendida judicialmente por Chokr,
pagavam, no mínimo, 80,75%
das apostas feitas nelas e, no
máximo, 102,84%.
Ordem judicial
Quatro dias antes de Chokr
se envolver no acidente de carro que desencadeou a ação da
Corregedoria, a Folha revelou
que o Gecep, grupo especial do
Ministério Público, começou a
apurar porque, durante um ano
e um mês, a Polícia Civil não
cumpriu ordem da Justiça para
apreender todas as máquinas
caça-níqueis da capital.
A ordem do juiz Edison
Brandão, da 5ª Vara Criminal
de São Paulo, foi enviada pela
primeira vez em março de
2006 e reiterada a Marco Antonio Desgualdo, então delegado-geral, ainda no ano passado
-governo Geraldo Alckmin
(PSDB) -e neste ano ao delegado Mario Jordão Toledo Leme -gestão José Serra (PSDB).
Nesse período, a polícia não explicou à Justiça por que a ordem não foi cumprida.
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