São Paulo, quinta-feira, 14 de junho de 2007

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Esquema de propina pode atingir 70% das delegacias

Planilhas trazem indícios de pagamentos em 71 dos 93 DPs da capital paulista

Propina servia para acobertar o funcionamento de caça-níqueis; delegacias especializadas e peritos também são investigados

ANDRÉ CARAMANTE
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Planilhas feitas pelo advogado Jamil Chokr contidas no inquérito da Corregedoria da Polícia Civil indicam que o esquema de pagamento de propina a policiais para acobertar máquinas caça-níqueis pode atingir mais de 70% das delegacias da capital paulista. A propina por máquina variava de R$ 30 a R$ 40, segundo os documentos.
Chokr, que defendia empresas de caça-níqueis, é investigado desde o dia 25 de maio, quando bateu o seu carro e policiais militares encontraram no interior do veículo envelopes com dinheiro que traziam números e abreviaturas de distritos policiais da capital, assim como as planilhas.
As tabelas as quais a Folha teve acesso e que estão sendo analisadas pela Corregedoria da Polícia Civil mostram uma contabilidade muito bem organizada. Chokr, segundo documentos contidos no inquérito, mapeou o número de máquinas das quais seria responsável a partir das áreas dos distritos policiais da capital (exemplo: 8º DP - 45 máquinas)
Em uma das planilhas, referente a um mês, por exemplo, o advogado anotou 1.173 máquinas distribuídos em 71 distritos policiais -76% dos atuais 93 distritos na capital paulista. A mesma planilha lista mais 276 máquinas em Mauá, Diadema, Santo André, São Bernardo do Campo e Guarulhos, todos na Grande São Paulo e ABC.
O secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, foi procurado pela Folha, mas não se manifestou. O advogado Chokr não foi localizado.

Tabelas a mão
O mapeamento das máquinas por distritos é complementado, no inquérito da Corregedoria, por tabelas feitas a mão ou no computador pelo advogado com dados referentes às oito delegacias seccionais da capital -cada seccional é composta por vários distritos.
Essas planilhas funcionam como uma espécie de tabela de projeção para pagamento de propina aos policiais civis dos distritos, segundo a investigação dos policiais da Corregedoria. São nelas que apareceram os valores de R$ 30 a R$ 40 pagos por máquina.
Nessa tabela também aparece o número de máquinas caça-níqueis na área de cada distrito e a projeção do valor a ser pago.
Em outra tabela, feita no final de abril deste ano, é feita uma projeção de gastos para o mês de maio. Nela, é citado um valor disponível para supostamente ser repassado a policiais civis de R$ 205 mil.
Essa tabela, no entanto, não menciona o pagamento a distritos policiais, mas departamentos da Polícia Civil.
Entre eles, o Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado) -que receberia R$ 17 mil do valor total- e o Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital, a central de todos os distritos) - valor de R$ 5.000.
O IC (Instituto de Criminalística), segundo a tabela de Chokr, receberia R$ 2.000, no dia 20 de abril deste ano.
A Corregedoria também investiga se quatro laudos emitidos pelo IC, em 2006, foram forjados para favorecer pessoas que estariam ligadas ao suposto esquema de propina de Chokr.
Em um dos quatro laudos, peritos atestam que as máquinas analisadas pagam até 118,3% das apostas feitas. Isso significa que, em todas as realizadas em alguns aparelhos, o apostador sai vencedor.
Um dos quatro laudos assinado pelos peritos Bonjorno, diretor do núcleo de patrimônio do IC, Jonas Eboli Machado e Adriano Issamu Yonamine apontou que 20 máquinas da empresa Reel Token, defendida judicialmente por Chokr, pagavam, no mínimo, 80,75% das apostas feitas nelas e, no máximo, 102,84%.

Ordem judicial
Quatro dias antes de Chokr se envolver no acidente de carro que desencadeou a ação da Corregedoria, a Folha revelou que o Gecep, grupo especial do Ministério Público, começou a apurar porque, durante um ano e um mês, a Polícia Civil não cumpriu ordem da Justiça para apreender todas as máquinas caça-níqueis da capital.
A ordem do juiz Edison Brandão, da 5ª Vara Criminal de São Paulo, foi enviada pela primeira vez em março de 2006 e reiterada a Marco Antonio Desgualdo, então delegado-geral, ainda no ano passado -governo Geraldo Alckmin (PSDB) -e neste ano ao delegado Mario Jordão Toledo Leme -gestão José Serra (PSDB). Nesse período, a polícia não explicou à Justiça por que a ordem não foi cumprida.


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