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Grampos telefônicos reforçam suspeitas contra advogado
Interceptações mostram conversa de dono de caça-níqueis; ele fala de Jamil Chokr, suspeito de pagar propina a policiais
Empresário fala de acidente em que Chokr se envolveu, no último dia 25; no veículo estaria o material que comprovaria a propina
DA REPORTAGEM LOCAL
Interceptações telefônicas
feitas pela Polícia Federal na
Operação Xeque-Mate reforçam a suspeita de que o advogado Jamil Chokr, que defende
empresas ligadas a caça-níqueis, pagava propinas a policiais de São Paulo para evitar a
apreensão das máquinas.
Na gravação, o empresário
Raimundo Romano, dono da
Multiplay, indústria de peças
de caça-níqueis, comenta com
interlocutores, identificados
como "Xuli" e "Emílio", o acidente em que Chokr se envolveu no último dia 25. No carro
do advogado estava o material
que comprovaria o pagamento
da propina. Os grampos são da
manhã seguinte, no dia 26.
Romano diz a "Xuli" que a
polícia havia achado "um monte de coisas erradas" dentro do
carro. "E aí abriram o porta-malas dele e encontraram peças de máquinas, dinheiro, relatórios de pagamentos e tudo o
mais que ele estaria fazendo."
A Folha não encontrou Romano, que, segundo a PF, está
foragido. O advogado Jamil
também não foi localizado.
Em outro telefonema, desta
vez com "Emílio", Romano comenta a situação do advogado e
dos negócios. "Era o que faltava, meu. Eu vou ter de encontrar uma desculpa para o coitado", afirma o empresário.
"Emílio" responde: "Tô pasmo, meu. Que uruca, que uruca. Deixasse a notícia para o
Renan Calheiros [PMDB-AL,
presidente do Senado]".
O empresário, em outro trecho da conversa com "Emílio",
demonstra confiança de que o
advogado Jamil Chokr e policiais supostamente envolvidos
nas propinas vão negar ter participação no esquema.
"(...) Jamil, que teria de dar
alguma coisa para alguém, não
vai reconhecer que ia dar.
Quem receber não vai reconhecer que ia receber."
"Emílio" diz ao empresário,
supostamente sobre as propinas, que isso é um serviço "que
se delega", no que Romano responde, de forma ríspida: "Pára
de ser babaca. Ele toma 30 e repassa 1", o que daria a entender
que o advogado estaria desviando para si o dinheiro que
deveria ser pago aos policiais.
Romano ainda tranqüiliza
"Xuli" dizendo que continuará
trabalhando com caça-níqueis,
a "única coisa" que sabe fazer.
Romano, em outro diálogo,
demonstra que o advogado é
conhecido em sua empresa. Ele
diz ter sabido do acidente através de um funcionário da Multiplay, chamado "Carlos".
Emílio também demonstra
ter intimidade com o advogado, tanto que afirma estranhar
a forma como ocorreu o acidente, já que Jamil, segundo
ele, só usa veículos blindados.
Preocupado com a série de
problemas enfrentados pela
atividade de jogos no país, além
do acidente envolvendo o advogado, o empresário afirma,
segundo as gravações, que "a
bruxa está solta".
Pouco depois, eles comentam sobre a situação de Xuli,
que estava em Israel, onde teria
recebido uma herança de US$
20 milhões, parte dela investida em sete bingos. Comenta
ainda que um filho de Xuli,
chamado Denis, foi pêgo no
Brasil em um grampo da PF.
Nas conversas, Romano ainda comenta com os interlocutores os projetos de expandir as
atividades para outros países
da América Latina.
(JOSÉ ERNESTO CREDENDIO)
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