São Paulo, quinta-feira, 14 de junho de 2007

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Grampos telefônicos reforçam suspeitas contra advogado

Interceptações mostram conversa de dono de caça-níqueis; ele fala de Jamil Chokr, suspeito de pagar propina a policiais

Empresário fala de acidente em que Chokr se envolveu, no último dia 25; no veículo estaria o material que comprovaria a propina

DA REPORTAGEM LOCAL

Interceptações telefônicas feitas pela Polícia Federal na Operação Xeque-Mate reforçam a suspeita de que o advogado Jamil Chokr, que defende empresas ligadas a caça-níqueis, pagava propinas a policiais de São Paulo para evitar a apreensão das máquinas.
Na gravação, o empresário Raimundo Romano, dono da Multiplay, indústria de peças de caça-níqueis, comenta com interlocutores, identificados como "Xuli" e "Emílio", o acidente em que Chokr se envolveu no último dia 25. No carro do advogado estava o material que comprovaria o pagamento da propina. Os grampos são da manhã seguinte, no dia 26.
Romano diz a "Xuli" que a polícia havia achado "um monte de coisas erradas" dentro do carro. "E aí abriram o porta-malas dele e encontraram peças de máquinas, dinheiro, relatórios de pagamentos e tudo o mais que ele estaria fazendo."
A Folha não encontrou Romano, que, segundo a PF, está foragido. O advogado Jamil também não foi localizado.
Em outro telefonema, desta vez com "Emílio", Romano comenta a situação do advogado e dos negócios. "Era o que faltava, meu. Eu vou ter de encontrar uma desculpa para o coitado", afirma o empresário.
"Emílio" responde: "Tô pasmo, meu. Que uruca, que uruca. Deixasse a notícia para o Renan Calheiros [PMDB-AL, presidente do Senado]".
O empresário, em outro trecho da conversa com "Emílio", demonstra confiança de que o advogado Jamil Chokr e policiais supostamente envolvidos nas propinas vão negar ter participação no esquema.
"(...) Jamil, que teria de dar alguma coisa para alguém, não vai reconhecer que ia dar. Quem receber não vai reconhecer que ia receber."
"Emílio" diz ao empresário, supostamente sobre as propinas, que isso é um serviço "que se delega", no que Romano responde, de forma ríspida: "Pára de ser babaca. Ele toma 30 e repassa 1", o que daria a entender que o advogado estaria desviando para si o dinheiro que deveria ser pago aos policiais.
Romano ainda tranqüiliza "Xuli" dizendo que continuará trabalhando com caça-níqueis, a "única coisa" que sabe fazer.
Romano, em outro diálogo, demonstra que o advogado é conhecido em sua empresa. Ele diz ter sabido do acidente através de um funcionário da Multiplay, chamado "Carlos".
Emílio também demonstra ter intimidade com o advogado, tanto que afirma estranhar a forma como ocorreu o acidente, já que Jamil, segundo ele, só usa veículos blindados.
Preocupado com a série de problemas enfrentados pela atividade de jogos no país, além do acidente envolvendo o advogado, o empresário afirma, segundo as gravações, que "a bruxa está solta".
Pouco depois, eles comentam sobre a situação de Xuli, que estava em Israel, onde teria recebido uma herança de US$ 20 milhões, parte dela investida em sete bingos. Comenta ainda que um filho de Xuli, chamado Denis, foi pêgo no Brasil em um grampo da PF.
Nas conversas, Romano ainda comenta com os interlocutores os projetos de expandir as atividades para outros países da América Latina.
(JOSÉ ERNESTO CREDENDIO)


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