São Paulo, sábado, 14 de junho de 2008

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Reitor inventou congresso para viajar, diz Promotoria

Ministério Público pede à Justiça que reitor de Santo André seja tirado do cargo

Bermelho passou 9 dias no Nordeste para participar de evento que não existiu; viagem foi custeada pela instituição dirigida por ele

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

O reitor do Centro Universitário Fundação Santo André, uma das instituições de ensino mais importantes da Grande São Paulo, é acusado de inventar um congresso de educação em São Luís como pretexto para passar nove dias na capital maranhense com todas as despesas pagas pela instituição.
O Ministério Público do Estado investigou o caso e, sob a alegação de que o reitor Odair Bermelho se aproveitou da instituição, apresentou ontem à Justiça uma ação civil pública pedindo que ele seja imediatamente retirado do cargo.
A Folha não conseguiu contato com o reitor para que ele comentasse a ação.
Em julho de 2005, Bermelho esteve em Fortaleza para participar da reunião anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência). Terminado o evento, ele não retornou a Santo André. Da capital cearense, voou para São Luís, onde ocorreria a Jornada de Educação do Maranhão.
Para ser reembolsado, Bermelho apresentou ao centro universitário todas as notas fiscais da viagem. Os nove dias no Maranhão custaram perto de R$ 10,5 mil. As notas fiscais chegaram ao Ministério Público por meio de uma denúncia anônima.
Chamou a atenção dos promotores o recibo de inscrição no evento. O comprovante do pagamento de R$ 1.200 foi impresso numa folha de papel comum e com uma impressora de péssima qualidade. Não havia timbre ou carimbo oficial da UFMA (Universidade Federal do Maranhão), instituição que teria realizado tal evento.
Os promotores entraram em contato com a UFMA e comprovaram as acusações da denúncia anônima. A universidade maranhense afirmou que a Jornada de Educação do Maranhão nunca existiu e que, portanto, o recibo é falso.
Diversos outros problemas foram encontrados à medida que cada papel era investigado. A nota fiscal de um almoço de R$ 54 teve o valor adulterado para R$ 554 -problema parecido foi constatado em outros papéis. Duas notas fiscais indicaram que o reitor jantou duas vezes numa mesma noite no mesmo restaurante. Vários recibos de táxi foram assinados por um único motorista.
O jantar de encerramento do suposto congresso custou R$ 400. A reserva do vôo para São Luís foi feita pelo próprio reitor, não pelo departamento de eventos do Centro Universitário Fundação Santo André.
O Ministério Público descobriu ainda que Bermelho não ficou todos os dias em São Luís. Durante aquela semana de julho, ele também visitou as cidades maranhenses de Raposa, Alcântara e Barreirinhas. As despesas também foram pagas pelo centro universitário dirigido por ele.
O Ministério Público afirma que o reitor "faltou com a verdade" e adotou uma "conduta ardilosa". Por isso, argumentam os promotores, ele deve ser substituído pelo vice-reitor.
Odair Bermelho está em seu segundo mandato. Ele também é o presidente da Fundação Santo André, a mantenedora da instituição de ensino. Existem outras acusações contra ele (veja quadro ao lado).
A ação civil pública, que está na 2ª Vara da Fazenda Pública de Santo André, é assinada pelos promotores Patrícia Moroni e Airton Grazzioli, que cuidam de temas relativos a fundações. Procurados pela Folha, eles não telefonaram de volta.
O Ministério Público deve levar outra ação à Justiça, para exigir a devolução do dinheiro.


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