São Paulo, sábado, 14 de junho de 2008

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PM aceita melhor os gays, diz homossexual que saiu do Exército e virou policial

Ricardo Junqueira/Folha Imagem
Jarbas de Sousa Costa, gay assumido, abandonou o Exército e atualmente é policial militar

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Atualmente soldado da Polícia Militar no Rio Grande do Norte, o ex-sargento do Exército Jarbas de Sousa Costa, 31, diz que, assim como relatam os sargentos presos em Brasília, sofreu pressão das Forças Armadas por causa de sua orientação sexual. E deixou a corporação por isso, diz.
"Fui obrigado pelo meu comando a pedir para sair do Exército pelo fato de eu ser gay", afirmou. Costa serviu no Rio de Janeiro até 2002, quando pediu baixa.
Hoje, trabalhando no Bope (Batalhão Operacional de Polícias Especiais), em Natal, ele afirma que a perseguição não existe mais. "Na PM, isso é aceito com mais naturalidade", afirma Costa.
Ele diz que os colegas sabem que ele deixou o Exército por causa da homossexualidade, mas que eles não conhecem a complicada história que revelou aos comandantes do Rio de Janeiro a sua orientação sexual.
O soldado conta que se envolveu num relacionamento com um marinheiro, também do Rio, e, quando quis terminar a relação, o marinheiro passou a ligar para o quartel em que Costa trabalhava. Dizia, nos telefonemas, que era seu "namorado".
Em uma briga com o marinheiro, Costa acabou acusado por ele de agressão, o que culminou na abertura de uma sindicância.
"O foco principal era esse [de ser gay]. Mas, como eles estão fazendo com o Laci [de Araújo, sargento preso], eles mascaram uma coisa que na verdade é outra. Queriam me expulsar mesmo porque descobriram que eu era gay", disse Costa.
Ele diz ter ouvido de seu comandante que tinha duas opções: pedir baixa ou ser expulso do Exército.
"Se eu pedisse para ir embora, eu ia sair bem, com a ficha limpa. Se eu fosse expulso, ia sair queimado."
O soldado diz que gostaria de voltar ao Exército, lugar onde ele gostava de trabalhar. Para isso, entrou com processo pedindo reintegração e reparação por danos morais.
"O major, na minha cara, falou que eu não tinha capacidade de vergar aquele uniforme verde-oliva. Que pena que eu não gravei nada disso."
Procurado pela reportagem, o Comando Militar do Leste do Exército respondeu, por meio da assessoria, que a demissão de Costa teve "caráter voluntário" e que "não há nenhum registro sobre opção sexual nos arquivos existentes sobre o processo de desligamento do serviço ativo do ex-militar em questão". (JN)


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