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OPINIÃO
Saída para fracasso escolar
MARIA ALICE SETÚBAL
No Brasil, todos aqueles que se
preocupam em debater um projeto de desenvolvimento para o país,
tocam, em maior ou menor medida, no problema da enorme desigualdade que caracteriza a estrutura socioeconômica brasileira até
os dias de hoje.
As transformações na economia
mundial demonstram como o
atual processo de globalização está
assentado no uso intensivo do conhecimento científico e tecnológico. O Brasil hoje busca respostas
concretas e visíveis para resolução
de problemas sociais estruturais a
curto prazo, para não se situar definitivamente fora do cenário
principal da história mundial.
Para alcançar verdadeiramente
esse objetivo, temos uma longa caminhada, que nos leva inevitavelmente para projetos de base, muitas vezes sem o charme de inovações tecnológicas ou dos teóricos
da moda, mas que, de fato, são capazes de enfrentar problemas cruciais como o fracasso escolar traduzido pela persistência, ainda
hoje, de elevadas taxas de repetência e evasão escolar. É dentro desse
contexto que a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo desencadeou a partir de 1995 uma série de ações, dentre as quais o Projeto de Reorganização da Trajetória Escolar no Ensino Fundamental: Classes de Aceleração.
O objetivo é corrigir o fluxo escolar, eliminando a defasagem
idade/série, criando condições para que alunos multirrepetentes
possam, em um ou dois anos, retomar com sucesso o percurso regular, frequentando a série prevista para seu grupo etário. Iniciado
em fevereiro de 1996, o projeto envolveu nesse primeiro ano, 450
professores e 11.000 crianças e jovens. Em 1997 sua ampliação alcança 2.000 professores e 44.000
alunos.
Coube à equipe do Cenpec a capacitação dos professores envolvidos nesse projeto e a elaboração de
material de apoio para alunos e
professores, em consonância com
a proposta pedagógica, que parte
dos princípios de que todo aluno é
capaz de aprender e de que a interação é fator fundamental na
construção do conhecimento.
Mais que isso, na verdade as classes de aceleração visam recuperar
a confiança perdida dos alunos em
sua capacidade de aprender, oferecendo condições básicas para
continuidade de seus estudos com
chances de sucesso, e dos professores em sua competência para
ensinar bem a todos.
O Cenpec está desenvolvendo
trabalho semelhante para a Secretaria de Estado de Educação do Paraná, no Projeto de Correção do
Fluxo Escolar da 5ª à 8ª série.
Projetos como esses não resolverão por si mesmos todos os problemas educacionais e sociais que
o Brasil enfrenta hoje, mas se
constituem, sem dúvida, em
exemplos de ações norteadas pelo
princípio da equidade social e
apontam, ainda, para a importância da articulação entre Estado e
sociedade civil na realização de
políticas públicas mais justas e
adequadas à consolidação da democracia brasileira.
Finalmente, é também na implementação com eficácia de projetos
como esses que poderemos dar
respostas concretas para os jovens
que hoje não acreditam em uma
utopia de um mundo melhor, de
uma sociedade mais justa.
Maria Alice Setúbal, 46, é socióloga, doutora
em psicologia da educação, diretora-presidente
do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em
Educação, Cultura e Ação Comunitária) e consultora de educação do Unicef para América Latina
e Caribe.
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