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São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 2003

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RODOVIAS

Aumento dos serviços de motoboys no interior e preocupação com despesas de pedágio contribuíram para o crescimento

Tráfego de motos triplica nas estradas de SP

Matuiti Mayezo/Folha Imagem
Motociclista se aproxima de pedágio na rodovia Castello Branco; no Estado de São Paulo, esse tipo de veículo é isento de tarifa


ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

O tráfego de motos nas estradas sob administração da iniciativa privada em São Paulo quase triplicou (alta de 180%) entre 2000 e 2002, segundo dados da ABCR (Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias), enquanto a frota desse tipo de veículo subiu apenas 26% no Estado. A contagem dos demais veículos leves (carros) e pesados (caminhões e ônibus) nesse período cresceu 26% e 88%, respectivamente.
Esse fenômeno, que se estende, em menor escala, a outras regiões do país, está ligado à expansão dos motoboys no interior e, principalmente, à redução das despesas com combustível e pedágios.
Para serviço ou para lazer, as motos se tornaram uma alternativa para evitar os postos de cobrança -já que, dependendo do Estado, elas têm isenção ou pagam somente metade da tarifa.
As motos, em 2000, representavam 1,05% do tráfego total nas estradas do país sob controle da iniciativa privada. Em 2002, já eram 1,86% -sendo que, em São Paulo, esse índice já atinge 2,6%. O volume de viagens de motos no Estado subiu de 2,55 milhões para 7,14 milhões em dois anos.
O programa de concessões da malha rodoviária paulista começou em 1998, com nove lotes (em 2000, mais três entraram em operação), e sempre previu a isenção do pedágio para as motos, já que elas têm impacto reduzido no desgaste do asfalto.
Os motociclistas escaparam dos itens que são alvos das principais críticas dos usuários: a quantidade de praças de cobrança, que praticamente triplicou (hoje existem 80 postos); e as tarifas, que subiram 105,43% em cinco anos.
A evolução do tráfego de motos nas estradas paulistas começou antes de 2000, mas nem todas as empresas tinham dados confiáveis. Ela pegou concessionárias e governo de surpresa. A aferição, hoje, se dá por meio de sensores, pesquisas ou contagens manuais.
"Não é que a pessoa que tem um automóvel vai comprar uma moto só para viajar e não pagar pedágio. Mas quem já tem a moto recebeu esse estímulo [passagem gratuita] para usá-la", afirma Moacyr Servilha Duarte, presidente da ABCR. "Hoje está claro para a gente que [a isenção da tarifa] não foi uma boa decisão. A preocupação é por causa dos acidentes e os transtornos que eles causam", diz.
O diretor de operações da Artesp (agência estadual que regula as concessões), Ricardo Carvalho Martins, relaciona esse crescimento à expansão dos serviços de entrega e até mesmo a motoristas que passaram a deixar seu carro na garagem para viajar de moto, reduzindo os gastos. "O lazer de moto se difundiu muito no Brasil. O motorista que vai ao litoral ou a Campos do Jordão já percebe."
Martins confirma a preocupação crescente com os acidentes de motociclistas, mas nega que a solução passe pela cobrança da tarifa ou pela restrição do tráfego. "Não é por aí. As alternativas são as campanhas educativas, maior rigor na habilitação e a implantação da inspeção veicular", diz.
Entre os Estados que isentam as motos do pagamento da tarifa de pedágio estão São Paulo, parte do Rio e a maioria das rodovias concedidas no Rio Grande do Sul. No Paraná, no Espírito Santo e na Bahia, as concessionárias cobram metade do preço.
A atratividade do tráfego com a isenção dos motociclistas pode ser notada na comparação entre dois Estados: São Paulo e Paraná.
No primeiro, onde não há cobrança da tarifa, as motos representam 11,7% do total de veículos do Estado e 2,6% do tráfego nas rodovias sob controle da iniciativa privada. No Paraná, onde há cobrança da tarifa, elas têm um percentual maior na frota do Estado (12,9%), mas a participação delas nas estradas se limita a 1%.
O presidente da Umab (União dos Motociclistas e Afins do Brasil), Aldemir Martins, diz que a isenção do pedágio em São Paulo facilitou a difusão dos serviços de motoboys no litoral e no interior, principalmente em Sorocaba, em Jundiaí e em Campinas. "As empresas de lá fazem entregas diárias na capital", diz.
Segundo Aldemir Martins, as empresas dessas regiões cobram a partir de R$ 50 para fazer entrega em São Paulo. De carro, só com pedágio, os gastos podem chegar a R$ 17,40 (para ir a alguns pontos da Baixada Santista).


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