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Governo põe polícia, mas ataques seguem
Pela manhã, só 4 das 16 empresas de ônibus da capital puseram parte da frota nas ruas; às 12h, 10% dos veículos operavam
Prefeito Kassab garantiu
volta à normalidade nos
transportes hoje, mas os
ataques de ontem à noite
põem em xeque a promessa
ALENCAR IZIDORO
LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Com medo dos ataques do
PCC (Primeiro Comando da
Capital) e após se tornarem os
principais alvos da facção, com
46 ônibus atacados em menos
de 24 horas, as viações da cidade de São Paulo pararam de rodar ontem e deixaram mais de 2
milhões de passageiros a pé.
A circulação começou a ser
retomada parcialmente às 16h,
após as gestões Gilberto Kassab
e Cláudio Lembo, ambos do
PFL, definirem medidas para
proteger o transporte, incluindo a colocação de policiais à
paisana dentro dos ônibus.
O prefeito Gilberto Kassab
prometia a normalização dos
serviços hoje, mas ontem à noite os ataques recomeçaram,
pondo em xeque a circulação
total da frota pela manhã. O telefone 156, da prefeitura, informa sobre a situação das linhas.
Entre as 19h e as 20h30, dois
ônibus foram incendiados, nas
zonas oeste e norte. O fogo
atingiu uma casa, e um idoso foi
socorrido por inalar a fumaça.
A cooperativa de perueiros
Transcooper, que opera nas zonas norte e leste, passou a receber ameaças por telefone de
que teria suas garagens incendiadas caso mantivesse a frota
na rua. Ela definirá apenas hoje
se rodará normalmente.
Ontem de manhã, só 4 das 16
empresas da capital colocaram
uma parte da frota em ação. Na
hora do almoço, pouco mais de
10% dos 7.600 veículos operavam. Às 11h, numa reunião do
prefeito com a cúpula da PM,
foi definido que policiais à paisana, integrantes de um grupo
de elite da corporação, passariam a andar dentro dos ônibus.
Kassab disse que mais da metade da frota teria um policial
descaracterizado, número não
confirmado na Polícia Militar.
Estado e prefeitura também
anunciaram a concentração do
policiamento em 20 dos principais corredores de tráfego, apesar de a maioria dos ataques terem ocorrido na periferia. O diretor de operações da SPTrans,
Stanislav Feriancic, dizia que a
prioridade às grandes vias era
porque eles atendem mais de
50% do total de passageiros.
Apesar de Kassab afirmar
que haveria normalidade no
transporte coletivo hoje, Feriancic admitia que, se os incêndios a ônibus continuarem,
a frota poderia não circular.
Pela manhã, a PM confirmava a ocorrência de 68 ataques a
ônibus no Estado inteiro, 55%
do total dos atentados atribuídos ao PCC nos dois últimos
dias. Mas, pelos dados fornecidos por prefeituras, bombeiros
e empresas, a quantidade era
bem maior: passava de 180.
O comandante-geral da PM,
coronel Elizeu Eclair, chegou a
dizer que não era possível garantir a segurança total dos veículos. "Pode acontecer de queimarem ônibus e não ter policial? Pode. Queria deixar isso
bem claro, até para não haver
uma cobrança depois."
Pelo esquema de segurança
divulgado, a GCM (Guarda Civil Metropolitana) protegerá as
garagens e terminais.
Metrô
Por volta das 3h, a estação do
metrô Capão Redondo foi alvo
de dois tiros, que atingiram vidros próximos da bilheteria.
A interrupção dos ônibus,
que começou anteontem à noite, levou a prefeitura a suspender ontem as regras do rodízio
de veículos. Os congestionamentos foram acima da média.
Nas lojas, 10% dos funcionários não foram trabalhar, afirmou a entidade sindical.
O prefeito de São Paulo não
repreendeu, inicialmente, a decisão das viações de não rodar.
"A prefeitura não vai exigir [das
empresas]. Vai cooperar com
os ônibus para que tenham
tranqüilidade de circular."
Mas, depois de se reunir com
os empresários de ônibus, às
13h, Kassab deu um prazo até
as 16h para que a circulação da
frota fosse normalizada, sob
pena de multas por descumprimento de partida previstas numa legislação municipal -que,
em situações drásticas, pode levar à rescisão contratual.
O prazo foi atendido parcialmente. À noite, só 18% da frota
estava rodando -menos de
metade do previsto no horário.
Colaborou a Agência Folha
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