São Paulo, sábado, 14 de julho de 2007

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WALTER CENEVIVA
Olhos no futuro

O universo das causas judiciais é heterogêneo e a solução aplicável varia de Estado para Estado

J OSÉ RENATO NALINI , desembargador em São Paulo, em seu livro "A Rebelião da Toga" (Millennium) afirma a necessidade de reabilitar as utopias nas medidas destinadas ao aprimoramento judicial. Para atingir tais fins, reclama, além de simples reformas, a alteração substancial da mentalidade dos juízes. O objetivo chegou a parecer impossível, intransponível, inultrapassável quando se pensou na demora de julgamento dos processos, distribuídos em números crescentes. A demora se conta por anos, qüinqüênios e, em certos casos, especialmente em questões do poder público, decênios. O universo das causas judiciais é heterogêneo e a solução aplicável varia de Estado para Estado, ante a diversidade das condições encontradas.
A estrutura operacional dos vários ramos constitucionais em que desdobram as Justiças brasileiras é complexa. Basta ver a disparidade da adesão dos nossos tribunais à internet. Avaliar as complicações que se enfrenta quando seja necessária a ligação entre as comarcas em cada unidade da Federação; quando se anota a distância destas com os tribunais estaduais, regionais e cortes superiores. Há Estados em que há problema até na conexão dos municípios e dos órgãos de suas comarcas. E isso por que? Responde o desembargador: "A cultura do Judiciário se caracteriza por contemplar apenas uma dimensão do tempo: o passado. O futuro é tempo estranho à Justiça, daí sua incapacidade institucional de repensar-se para o devenir".
Depois que Nalini já havia escrito e publicado sua obra, três linhas de providências foram adotadas em que há olhos afastados do retrovisor, mas firmes nas linhas da estrada à frente. No nível da União, o STF (Supremo Tribunal Federal) instalou relógio atômico para marcar, racionalmente, o tempo da Justiça para todos os prazos. O STF está julgando eletronicamente recursos extraordinários, desde o fim de junho, sendo o primeiro processo relatado pelo ministro Sepúlveda Pertence. Daí a frase expressiva da ministra presidente do STF, Ellen Gracie: "Estamos deixando o método do passado para ingressar na Justiça do futuro".
Em São Paulo, o Conselho Superior da Magistratura, preocupado em economizar e, ao mesmo tempo, abrir maior acesso do público às suas decisões, instituiu o "Diário da Justiça Eletrônico" como seu órgão de comunicação oficial. Entre as razões apontadas pelos desembargadores Celso Limongi, Canguçu de Almeida e Passos de Freitas, componentes daquele conselho, está o aperfeiçoamento institucional. O diário eletrônico substituirá em breve o impresso, a ser veiculado sem custos.
Essas providências têm origem na lei nš 11.419/06, que instituiu o e-STF, enquanto meio eletrônico para facilitar a tramitação de processos, comunicação de atos e de peças processuais. Nalini volta a 1988, quando o Judiciário perdeu a oportunidade, na Constituinte, de oferecer projeto viável de redesenho da instituição. Saiu fortalecido como poder estatal, mas "não foi capaz de responder com eficácia a essa missão". Diria um pessimista que não é muita coisa. De fato não é, em universo da magnitude de nosso país continente, com milhões de disputas judiciais. Mas já é um passo à frente. Para o futuro.


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