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Psicóloga que diz "curar" gay vai a julgamento em conselho
Conselho Federal de Psicologia decide no dia 31 se cassa licença de Rozângela Alves Justino
Resolução veta tratar questão como doença e recrimina indicação de tratamento; se o registro for perdido, será a
1ª condenação do tipo no país
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
O Conselho Federal de Psicologia julga, no fim deste mês, a
cassação do registro profissional de Rozângela Alves Justino
por oferecer terapia para que
gays e lésbicas deixem a homossexualidade. Se perder a licença, será a primeira condenação desse tipo no Brasil.
Resolução do próprio conselho proíbe há dez anos os psicólogos de lidarem a homossexualidade como doença e recrimina a indicação de qualquer
tipo de "tratamento" ou "cura".
Rozângela, que afirma ter
"atendido e curado centenas"
de pacientes gays em 21 anos,
diz ver a homossexualidade como "doença" e que algumas
pessoas têm atração pelo mesmo sexo "porque foram abusadas na infância e na adolescência e sentiram prazer nisso".
Numa consulta em que a reportagem, incógnita, se passava
por paciente, Rozângela, que se
diz evangélica, recomenda
orientação religiosa na igreja.
"Tenho minha experiência
religiosa que eu não nego. Tudo
que faço fora do consultório é
permeado pelo religioso. Sinto-me direcionada por Deus para
ajudar as pessoas que estão homossexuais", afirma.
A cassação de Rozângela, que
atende no centro do Rio, foi pedida por associações gays e endossado por 71 psicólogos de diferentes conselhos regionais.
Segundo Rozângela, que já
foi condenada a censura pública no conselho regional do Rio
no final de 2007, "o movimento
pró-homossexualismo tem feito alianças com conselhos de
psicologia e quer implantar a
ditadura gay no país".
"É por isso que o conselho de
psicologia, numa aliança, porque tem muito ativista gay dentro do conselho de psicologia,
criou uma resolução para perseguir profissionais", afirma.
No Rio, Rozângela participa
do Movimento Pela Sexualidade Sadia, conhecido como Moses, ligado a igrejas evangélicas.
A almoxarife Cláudia Machado, 34, diz que recebeu de Rozângela a apostila "Saindo da
homossexualidade para a heterossexualidade", que prega
meios para a mudança de
orientação sexual. "Hoje vivo a
minha homossexualidade tranquila, essa história de cura não
existe, o que houve foi um condicionamento. Reprimi meus
desejos. Não sentia prazer", diz.
Já a pedagoga Fernanda, que
pede para não ter o sobrenome
divulgado, diz ter sido lésbica
por dez anos e que, depois da
terapia que faz com Rozângela
há quatro anos, passou a ter relações heterossexuais. "Realmente há possibilidade de sair
da homossexualidade. É um
processo longo. De lá para cá
busco a feminilidade."
"A ciência já mostrou que
não existe tratamento para fazer com que alguém deixe de
ter desejo homossexual nem
heterossexual. Quando se promete algo assim, é enganoso",
diz o terapeuta sexual Ronaldo
Pamplona, da Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana.
Segundo ele, a Sociedade
Americana de Psiquiatria retirou a homossexualidade do
diagnóstico de doenças em
1974, seguida, uma década depois, pela Organização Mundial
da Saúde.
"Se absolvê-la, o Conselho
Federal de Psicologia vai referendar a tese de que é possível
"curar" gays", diz Toni Reis, presidente da ABGLT, a associação
brasileira de homossexuais.
"Isso traz prejuízo aos gays e
contribui para fortalecer o estigma", afirma Cláudio Nascimento, superintendente da Secretaria de Direitos Humanos
do Rio e do grupo Arco-Íris.
"Vejo [o pedido de cassação]
como uma injustiça", diz Rozângela, que, se cassada, pensa
em recorrer à Justiça comum.
De um lado, cem entidades
gays de todo o país vão levar um
manifesto e manifestantes no
dia do julgamento de cassação
de registro de Rozângela, no
próximo dia 31, em Brasília. Do
outro, ela diz que vai reunir alguns ex-gays e psicólogos
amordaçados para protestar
contra a censura que diz sofrer.
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