VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma obra de arte aparentemente incauta causou um susto daqueles na prefeitura e nos mentores da Lei Cidade Limpa, que baniu a publicidade de rua em São Paulo.
No mesmo dia em que três instalações foram dispostas em pontos estratégicos, como a praça da Sé (centro) e a conjunção da Heitor Penteado com a Dr. Arnaldo (zona oeste), um comercial da fabricante de cosméticos Natura entrou no ar na TV com menção subliminar às esculturas.
Os letreiros com as palavras "descanse", "relaxe" e "calma", cada letra com 3 metros de altura e 70 kg, são repetidos em néon na propaganda televisiva e, para a Emurb, abrem uma brecha na lei. A emprega nega.
Nos painéis montados na rua, chamados de "poesia concreta" pelos criadores, não há referências ao fabricante. Na TV, as mesmas palavras são mostradas, mas de forma diferente.
"É um golpe, é divulgação de um produto da Natura. É uma coisa para abrirmos o olho e tomarmos cuidado para o resto da vida. Para o Cidade Limpa fica a lição", diz Regina Monteiro, diretora da Emurb e criadora da Lei Cidade Limpa.
Professor de comunicação visual urbana da FAU, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Issao Minami diz ser "favorável à intervenção da arte refletida no espaço público". "Mas durmo com um olho fechado e outro aberto. A publicidade não pode retornar gratuitamente ao espaço público."
Um dos artistas que criaram os letreiros gigantes, Rodrigo Araújo diz ter recebido dinheiro da Natura em patrocínio e que foi autorizado pela prefeitura a dispor as obras.
A Secretaria das Subprefeituras, encarregada de punir infrações ao Cidade Limpa, disse não poder confirmar ontem se havia mesmo autorização ou para que período. Como podem causar distração no trânsito, a CET também precisaria homologar.
"Não quero discutir a lei. Não sei se estamos burlando ou não. Não trabalhamos com logomarca. O projeto vai continuar existindo independentemente dessa publicidade", diz Araújo.
Em nota, a Natura confirma que apoia o projeto "Poesia Concreta", do grupo artístico Bijari, mas informa que "não veicula sua publicidade em mídias que interfiram na paisagem urbana".


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