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OPINIÃO
Menos do que 8, mais do que 80
BEN ABRAHAM
Passados mais de meio século do
desmoronamento do Terceiro
Reich, a revista "Oito ou Oitenta", editada pela Faculdade de
Comunicação e Filosofia da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC-SP), destaca uma página inteira a um artigo assinado
por Renata Soares.
Em "Brasil: Ame ou Morra",
um suposto entrevistado sugere
para o Brasil um Adolf Hitler que
"com certeza mataria todos os
nordestinos".
Apesar de o entrevistado ter uma
postura amena em relação aos judeus, dizendo que se Hitler tivesse
conhecido os nordestinos não mataria os judeus, eu, como sobrevivente do nazismo, não posso ficar
inerte a esse atentado contra os direitos do homem à vida.
A solução dos problemas brasileiros expressa no artigo é análoga
à "solução final", que fez com
que houvesse um extermínio em
massa de judeus, ciganos e russos,
considerados impuros pela insana
teoria expressa por Adolf Hitler
em seu livro "Mein Kampf"
("Minha Luta").
É lamentável que aqui no Brasil,
país em que seus habitantes são
praticamente todos descendentes
de imigrantes, uma revista, distribuída gratuitamente aos universitários, glorifique Hitler colocando
como exemplo a sua plataforma
política, inclusive o extermínio em
massa.
Lendo esse artigo publicado numa revista de uma das mais conceituadas universidades brasileiras, confesso que fiquei absolutamente estarrecido.
Lembrando das câmaras de gás e
dos crematórios em Auschwitz, a
minha inicial perplexidade cedeu
lugar a uma revolta contra os editores da referida revista, que permitiram uma publicação anônima, uma vez que o entrevistado,
conforme a autora do artigo, não
queria ser identificado.
Em resposta a uma carta de protesto de minha autoria, o reitor da
Pontifícia Universidade Católica,
Antônio Carlos Caruso Ronca, expressou seu repúdio a esse manifesto neonazista.
Ele prometeu tomar todas as
providências cabíveis para que as
responsabilidades sejam apuradas
e cobradas de acordo com os princípios estatutários da universidade.
Vivemos em um país democrático em que, com o fim do regime
militar, a censura foi abolida.
No entanto, é sempre bom lembrar que há diferenças entre a democracia e a anarquia, entre a livre expressão de pensamento e o
incentivo a um ódio cego que, como aconteceu na Alemanha nazista, ninguém pode prever quais
consequências pode gerar.
Ben Abraham, 73, jornalista e escritor, é vice-presidente da Associação Mundial dos Sobreviventes do Nazismo
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