São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 2006

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Após 41 h, jornalista seqüestrado é solto

Guilherme Portanova foi deixado no Morumbi 24 horas depois da divulgação das reivindicações do PCC, uma exigência da facção

Repórter pegou uma carona e foi deixado na porta da sede da Rede Globo e aparentava não ter traumas físicos quando chegou


Keiny Andrade/Folha Imagem
Aparelho de TV em guarita na portaria da Rede Globo, em São Paulo, mostra a transmissão do comunicado atribuído ao PCC


DA AGÊNCIA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
DA REPORTAGEM LOCAL

O jornalista Guilherme Portanova, 30, foi libertado por volta da 0h30 de hoje, após quase 41 horas de seqüestro. A libertação ocorreu no Morumbi (zona sul de São Paulo) cerca de 24 horas depois da divulgação pela Globo de um CD com um manifesto da facção criminosa PCC.
A Folha apurou que o repórter pegou uma carona na rua e foi deixado na frente da emissora, que fica na av. Luís Carlos Berrini, no Brooklyn, também na zona sul. Portanova, que não aparentava traumas físicos, entrou por uma portaria secundária e pediu para ver os pais.
Portanova foi seqüestrado na manhã de sábado com o auxiliar técnico Alexandre Calado, 27. A divulgação do CD na televisão foi uma exigência dos seqüestradores para soltar o jornalista. O CD chegou à TV Globo pelas mãos de Calado, que foi libertado por volta das 22h30 de sábado, a menos de um quilômetro da emissora, na zona sul de São Paulo.
A polícia, que estava em alerta máximo na região, não conseguiu descobrir de qual carro ele desembarcou.
Calado recebeu o CD com a ordem de colocar as imagens no ar o mais rápido possível. Disse ter recebido o seguinte aviso: “A vida do teu colega está na tua mão”. A Folha apurou que o técnico e sua família também foram ameaçados.
As imagens foram divulgadas à 0h28 de ontem, mas durante o dia não houve mais nenhum contato dos seqüestradores.
A Globo exibiu o CD em rede estadual e editou as imagens. Cortou a introdução na qual eram mostradas armas de guerra, dinamites, granadas e coquetéis molotov. O vídeo foi transmitido no intervalo do “Supercine”, que, na Grande SP, costuma ter mais de dez pontos no Ibope, o que equivale a mais de 550 mil domicílios. À noite, a emissora exibiu parte do manifesto no “Fantástico”.
A Folha recebeu na última quarta-feira uma cópia do CD, cuja autenticidade não era comprovada. Relatou parte do seu conteúdo em reportagem publicada na quinta-feira.
Uma outra cópia do CD foi jogada, na sexta-feira, no estacionamento do SBT, que a encaminhou à Promotoria.
Parte do comunicado repete quase na íntegra trechos de parecer do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária do Ministério da Justiça, de abril de 2003. O órgão apontava, na ocasião, aquilo que considerava ilegalidades do RDD.
O vídeo foi encaminhado para perícia em busca de digitais. A voz foi comparada com diálogos de seqüestradores gravados pela polícia. A polícia requisitou imagens das câmeras das rodovias a fim de tentar descobrir se o Gol utilizado no seqüestro deixou a cidade.
Por volta da 1h de ontem, o diretor de Jornalismo da TV Globo São Paulo, Luiz Cláudio Latgé, contou que o auxiliar técnico foi levado até as cercanias da Globo no porta-malas de um carro.
(RACHEL AÑON, REGIANE SOARES, KLEBER TOMAZ, ANDRÉ CARAMANTE, JANAÍNA LEITE, FÁBIO TAKAHASHI)

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