São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2008

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Novo estudo diz que bactéria é resistente a desinfetante

Hospitais devem usar outros métodos de desinfecção

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais um estudo, agora do laboratório Fleury de São Paulo, mostra que a micobactéria massiliense, envolvida na maioria dos casos de infecções no país, é resistente a um dos produtos mais usados na desinfecção de equipamentos hospitalares, o glutaraldeído a 2%.
O trabalho corrobora outra pesquisa feita pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), que já havia mostrado que o saneante não conseguiu eliminar a bactéria mesmo após dez horas de exposição.
O estudo motivou a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) a recomendar aos hospitais que usem outros métodos de desinfecção. O país registra 2.025 casos de infecção em 14 Estados, a maioria em instituições particulares. Não há dados do setor privado que permitam saber qual a porcentagem de infecções no total de cirurgias feitas no Brasil.
Mas por que muitos hospitais -de São Paulo, por exemplo- que usam o glutaraldeído rotineiramente não registraram recentemente infecções pela micobactéria? Uma das explicações estaria em uma limpeza bem-feita dos equipamentos antes do processo de desinfecção e esterilização.
Segundo o microbiologista Jorge Mello Sampaio, assessor médico do Fleury e que também faz parte do grupo de trabalho da UFRJ, se os aparelhos são bem limpos, com detergentes enzimáticos adequados, antes de passarem pelo processo de desinfecção, a bactéria tende a não "grudar" neles.
"Se você fizer uma limpeza bem rigorosa, a chance de a bactéria aderir ao instrumental é muito pequena."
Além da limpeza, Sampaio alerta para outras precauções, como a troca periódica do glutaraldeído. "Se você colocar instrumentos molhados [na solução], o produto vai sendo destruído", explica.

Testes
Na opinião de Rafael Silva Duarte, professor do departamento de microbiologia médica da UFRJ, ainda não há explicações sobre como a micobatéria se tornou resistente. "É multifatorial. Também não sabemos qual o fator que ajuda na disseminação de infecções."
Duarte diz que três marcas de glutaraldeído testadas foram eficazes para combater duas cepas da micobactéria, exceto a massiliense. Ele pretende testar as 22 marcas existentes no mercado para ver se a resistência persiste. "Não estamos condenando nenhuma marca, mas há uma espécie nova de micobactéria para qual o produto não foi testado."
Para Jorge Sampaio, os hospitais devem optar por outras formas de desinfecção e esterilização.
"Existem alternativas como o ácido peracético e instrumentos que podem ser esterilizados em autoclaves."
Sampaio foi um dos responsáveis pelo seqüenciamento genético da M. massiliense. Ele diz que existe um "clone único" responsável pela maioria das infecções. "Elas têm a mesma impressão digital."


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