São Paulo, domingo, 14 de agosto de 2011

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Meu velho

Aumento de expectativa de vida, envelhecimento da população e facilidade de se casar de novo fazem surgir pais tardios

CRISTINA MORENO DE CASTRO
DE SÃO PAULO

No consultório do doutor Modesto Jacobino, 63, tem aumentado a procura de pacientes com mais de 50 anos de idade querendo ser pais. Muitos já tiveram filhos antes, estão em outro casamento e pedem para reverter a vasectomia, para recomeçar uma família a esta altura.
"É muito homem querendo ter filho não porque a mulher quer, mas porque ele quer", diz Jacobino, que é presidente da Sociedade Brasileira de Urologia e decidiu, ele próprio, mudar a vida aos 50. Fez inseminação artificial e teve um casal de gêmeos da segunda mulher.
"Já me perguntaram várias vezes: são seus netos? Levo numa boa. Sou entusiasta da paternidade depois dos 50."
A percepção dele é a mesma de outros especialistas: fatores como o aumento da expectativa de vida, o envelhecimento da população, melhoria da qualidade de vida e a facilidade de casar de novo têm tornado a paternidade tardia comum, embora não haja dados oficiais a respeito, já que o Censo só investiga a maternidade.
Outro fator importante foi o avanço da medicina, com invenção de medicamentos para a disfunção erétil.

CONSELHO
O primeiro impacto de um filho nessa idade é o rejuvenescimento. "A gente volta a ser criança de novo. Se pudesse, aconselharia todos os homens a terem filhos nessa idade", diz o industrial carioca Silas de Jesus, 58, que teve a quarta filha há cinco anos.
Para Denise Avallone, professora de psicobiologia da Unifesp, esses homens começam a traçar planos mais longínquos. "Fazem mais esportes, se alimentam melhor, buscam viver mais."
Foi o que fez o administrador Claudio Ramos, 59, que teve o quarto filho há dois anos. Ele começou a tomar vitaminas e a fazer check-up todo ano, passou a trabalhar em casa e até abraçou o sonho de fazer teatro (leia depoimento nesta página).

ASCENSÃO
É também por volta dos 50 anos que a renda atinge o ápice e se estabiliza, diz Marcelo Neri, pesquisador do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas.
Isso faz com que os pais possam se tornar mais presentes do que na época em que estão mais preocupados com a ascensão profissional.
Também a maior experiência é destacada por todos: "Isso me deu muito mais condições de orientar melhor os gêmeos", disse Pelé, 70, à Folha, sobre os filhos que teve aos 55 anos.
O humorista Carlos Alberto de Nóbrega, 75, que teve gêmeos aos 63, diz que "ficava desesperado quando a criança ia pro hospital e agora é muito mais tranquilo".
Ele diz que mima os filhos de 11 anos. "É como se fosse um neto. Deixo fazer uma porção de coisas que eu não deixava com os filhos antes."
Essa é uma crítica que o psicólogo Carlos Grzybowski, da Associação Brasileira de Terapia Familiar, faz aos pais temporões. "Com o tempo, as pessoas ficam mais flexíveis e isso leva a um relaxamento. Na adolescência o filho vai ter um pai avô e não um pai companheiro."
Mas a maior preocupação desses pais é ter saúde para desfrutar do "presente" ganho com a vida já consolidada. "É preocupação constante", diz Nóbrega. "Sempre peço a Deus para que eu possa vê-los encaminhados."


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