São Paulo, domingo, 14 de agosto de 2011

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Muro vai "esconder" rio em Paraitinga

Projeto do governo de SP prevê parede de dois metros para prevenir enchentes na cidade do Vale do Paraíba

Município foi devastado pelas chuvas no início de 2010, mas medida não é eficaz para as maiores cheias do rio

VANESSA CORREA
ENVIADA ESPECIAL A SÃO LUIZ DO PARAITINGA

Um projeto do governo do Estado de São Paulo vai tirar o rio da paisagem de São Luiz do Paraitinga, cidade devastada durante as fortes chuvas que atingiram o Vale do Paraíba em janeiro de 2010.
Prevenir cheias é a justificativa para construir um muro de dois metros bem na curva do rio onde a cidade colonial foi fundada em 1769.
A Folha teve acesso ao projeto. O muro vai conter só alagamentos menores, que ocorrem em até quatro dias por ano. Neles, a água não chega ao centro histórico, erguido na época em que a cidade era entreposto de mercadorias entre os portos de Parati e Ubatuba e o interior.
Outras ações em estudo são o desassoreamento e retirada de grandes rochas do leito, além da construção de uma barragem rio acima.
Segundo Aluisio Canholi, diretor da Hidroestúdio (empresa que desenvolve o projeto), a construção da represa que pode conter as grandes cheias -embora não uma como a de 2010- demora ao menos cinco anos. O custo estimado é de R$ 60 mil.

MORADORES
O projeto do muro desagrada até os moradores que perderam tudo em 2010. "A natureza é gostosa de a gente admirar. Com um muro de dois metros, não vai dar mais para ver o rio", diz Jorge Benedito Rangel, 61, fotógrafo.
A grande cheia derrubou parte da casa de Jorge, na beira do rio, e de sua loja de fotos no centro. Móveis, equipamentos e fotos que registravam décadas da vida na cidade foram perdidas.
Ainda assim, para Jorge o muro será "perda de tempo e dinheiro. Mais importante é alargar a calha do rio".
"Vai ficar uma beleza", ironiza Luiz de Toledo Júnior, 35, empresário, que teve prejuízos com a enchente.
"Não vamos enxergar o rio mais", se indigna o pai de Luiz, que tem 77 anos.
Dono de um mercado que ficou completamente submerso em 2010, o historiador João Rafael Cursino, 28, diz querer "acreditar que exista uma solução melhor. Essa parece medieval".
"A cidade foi fundada no local onde está por causa do rio que, historicamente, é protagonista de sua vida. E como é limpo, até hoje tem gente que pesca nele", afirma Rafael. A cidade trata 100% de seu esgoto.
Nelson Dias, especialista em geografia física do IBGE e ex-professor da Universidade de Taubaté (que fica a 44 km de São Luiz do Paraitinga), defende uma barragem.
"A ideia foi implantada na bacia do rio Paraíba do Sul e praticamente resolveu o problema na cidades que eram afetadas por cheias."


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