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ENTREVISTA
Entidade quer política pública que garanta acesso à mamografia
Falta ação contra câncer da mama
DA REPORTAGEM LOCAL
A Sociedade Brasileira de Mastologia cobra do Ministério da
Saúde um programa amplo de
combate ao câncer da mama, o
que mais causa morte entre as
mulheres no país -foram 8.104
óbitos em 1999.
Segundo Ezio Novais Dias, 45,
presidente da entidade, até hoje a
rede pública só implementou o
treinamento de médicos de diferentes especialidades para exames clínicos das mamas. Ainda
não foi estabelecida uma política
pública que garanta o acesso das
mulheres com nódulos palpáveis
a exames de mamografia, afirma.
Para este ano, a estimativa é de
41.610 novos casos de câncer da
mama no país. Cerca de 65% são
detectados já na fase avançada.
Na próxima semana a sociedade dá início a mais uma campanha de estímulo ao auto-exame
de mamas, a Semana de Saúde
Mamária, com o apoio do Inca
(Instituto Nacional de Câncer),
órgão da estrutura do ministério
que reconhece o déficit na assistência. "Não temos discordância
nenhuma com a sociedade. Trabalhamos juntos", afirma Luiz
Cláudio Thuler, chefe da divisão
de detecção precoce do instituto.
Segundo ele, os 1.504 mamógrafos do país são suficientes para
atender a população-alvo do exame, os problemas são os limites financeiros dos municípios para
custear os exames e o fato de os
equipamentos estarem concentrados nos grandes centros. O instituto informou que o governo
colocou em funcionamento ao
menos 50 mamógrafos nos últimos anos para as áreas descobertas. O problema orçamentário depende de renegociações mais amplas, dos repasses feitos a Estados
e prefeituras pelo governo federal.
Há no país 21 milhões de mulheres de 40 a 69 anos, que deveriam fazer, segundo padrão do Inca, uma mamografia bienal ao
menos. A sociedade defende uma
por ano. Leia a seguir trechos da
entrevista com Dias realizada na
última sexta-feira.
(FABIANE LEITE)
Folha - A sociedade de mastologia faz campanha para o auto-exame, mas as mulheres não têm acesso à mamografia para a continuidade da investigação.
Ezio Novais Dias - Na verdade
existem duas causas da detecção
em estágio avançado. A primeira
é a desinformação. A outra, a falta
de assistência por parte do governo. Há mulheres com planos de
saúde que só detectam o câncer
em estágio avançado. A mulher
tem de estar atenta. Fazer o auto-exame todo o mês e a mamografia
anual a partir dos 40 anos. Mas é
claro que o governo tem de fazer
também. Nos EUA eles enviam
cartas para as mulheres, convidando para a mamografia.
Folha - Há efetivamente um déficit de mamógrafos?
Dias - No Brasil há mamógrafo
em 9% dos municípios. O problema é que estão concentrados só
em algumas áreas. E o fato de ter o
mamógrafo não quer dizer que
ele opere na capacidade máxima.
Ás vezes as cotas de exames esgotam nos primeiros dez dias.
Folha - Qual é o desenho de programa de atenção que a sociedade
defende?
Dias - O que reivindicamos é um
programa amplo, não apenas de
exames nos consultórios. Mas
não sabemos por que não anda.
Existe uma intenção desde o governo passado. O que sugerimos é
um programa mínimo, em que
mulheres façam pelo menos um
exame clínico anual, e que garanta a mamografia àquelas que tiverem alterações. Neste ano houve
reuniões no Inca, na Comissão de
Seguridade Social da Câmara.
Antes da crise do instituto [exoneração do diretor Jamil Haddad,
em razão de indicações políticas
no órgão], a intenção era começar
em 2004.
Folha - O número de casos duplicou no mundo nos últimos 25 anos,
principalmente em razão do fato
de a mulher ter filhos mais tarde
[está provado que quanto maior o
número de ovulações, maiores as
chances de câncer]. O que fazer em
relação a hábitos de vida, sobre o
que é mais fácil agir?
Dias-A primeira causa do aumento é o fator reprodutivo. Mas
há também a dieta rica em gordura e podemos falar ainda do estresse -o número de casos é menor na zona rural. Então é fazer
uma alimentação rica em vegetais
e exercícios físicos. Há evidências
de que trazem benefícios.
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