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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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ENTREVISTA

Entidade quer política pública que garanta acesso à mamografia

Falta ação contra câncer da mama

DA REPORTAGEM LOCAL

A Sociedade Brasileira de Mastologia cobra do Ministério da Saúde um programa amplo de combate ao câncer da mama, o que mais causa morte entre as mulheres no país -foram 8.104 óbitos em 1999.
Segundo Ezio Novais Dias, 45, presidente da entidade, até hoje a rede pública só implementou o treinamento de médicos de diferentes especialidades para exames clínicos das mamas. Ainda não foi estabelecida uma política pública que garanta o acesso das mulheres com nódulos palpáveis a exames de mamografia, afirma.
Para este ano, a estimativa é de 41.610 novos casos de câncer da mama no país. Cerca de 65% são detectados já na fase avançada.
Na próxima semana a sociedade dá início a mais uma campanha de estímulo ao auto-exame de mamas, a Semana de Saúde Mamária, com o apoio do Inca (Instituto Nacional de Câncer), órgão da estrutura do ministério que reconhece o déficit na assistência. "Não temos discordância nenhuma com a sociedade. Trabalhamos juntos", afirma Luiz Cláudio Thuler, chefe da divisão de detecção precoce do instituto.
Segundo ele, os 1.504 mamógrafos do país são suficientes para atender a população-alvo do exame, os problemas são os limites financeiros dos municípios para custear os exames e o fato de os equipamentos estarem concentrados nos grandes centros. O instituto informou que o governo colocou em funcionamento ao menos 50 mamógrafos nos últimos anos para as áreas descobertas. O problema orçamentário depende de renegociações mais amplas, dos repasses feitos a Estados e prefeituras pelo governo federal.
Há no país 21 milhões de mulheres de 40 a 69 anos, que deveriam fazer, segundo padrão do Inca, uma mamografia bienal ao menos. A sociedade defende uma por ano. Leia a seguir trechos da entrevista com Dias realizada na última sexta-feira.
(FABIANE LEITE)

Folha - A sociedade de mastologia faz campanha para o auto-exame, mas as mulheres não têm acesso à mamografia para a continuidade da investigação.
Ezio Novais Dias
- Na verdade existem duas causas da detecção em estágio avançado. A primeira é a desinformação. A outra, a falta de assistência por parte do governo. Há mulheres com planos de saúde que só detectam o câncer em estágio avançado. A mulher tem de estar atenta. Fazer o auto-exame todo o mês e a mamografia anual a partir dos 40 anos. Mas é claro que o governo tem de fazer também. Nos EUA eles enviam cartas para as mulheres, convidando para a mamografia.

Folha - Há efetivamente um déficit de mamógrafos?
Dias
- No Brasil há mamógrafo em 9% dos municípios. O problema é que estão concentrados só em algumas áreas. E o fato de ter o mamógrafo não quer dizer que ele opere na capacidade máxima. Ás vezes as cotas de exames esgotam nos primeiros dez dias.

Folha - Qual é o desenho de programa de atenção que a sociedade defende?
Dias
- O que reivindicamos é um programa amplo, não apenas de exames nos consultórios. Mas não sabemos por que não anda. Existe uma intenção desde o governo passado. O que sugerimos é um programa mínimo, em que mulheres façam pelo menos um exame clínico anual, e que garanta a mamografia àquelas que tiverem alterações. Neste ano houve reuniões no Inca, na Comissão de Seguridade Social da Câmara. Antes da crise do instituto [exoneração do diretor Jamil Haddad, em razão de indicações políticas no órgão], a intenção era começar em 2004.

Folha - O número de casos duplicou no mundo nos últimos 25 anos, principalmente em razão do fato de a mulher ter filhos mais tarde [está provado que quanto maior o número de ovulações, maiores as chances de câncer]. O que fazer em relação a hábitos de vida, sobre o que é mais fácil agir?
Dias
-A primeira causa do aumento é o fator reprodutivo. Mas há também a dieta rica em gordura e podemos falar ainda do estresse -o número de casos é menor na zona rural. Então é fazer uma alimentação rica em vegetais e exercícios físicos. Há evidências de que trazem benefícios.


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