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77% condenam declarações de Lula a favor do cigarro
Segundo Datafolha, brasileiros acham que presidente "agiu mal" ao defender, há duas semanas, "uso do fumo em qualquer lugar'
Para entidades médicas, opinião do presidente pode atrapalhar políticas de combate ao tabagismo feitas pelo próprio governo
DA REPORTAGEM LOCAL
A maior parte dos brasileiros
não gostou das declarações dadas há duas semanas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a respeito do cigarro, mostra
a pesquisa realizada pelo Datafolha na semana passada.
Em entrevista coletiva no Palácio do Planalto, enquanto fumava uma cigarrilha, Lula declarou que defende "o uso do
fumo em qualquer lugar".
Das pessoas entrevistadas
em todo o país, 77% disseram
que discordam da declaração
do presidente. O mesmo percentual afirmou que Lula "agiu
mal" ao defender que se fume
em qualquer lugar, incluindo
ambientes fechados.
Questionado especificamente sobre o fumo no Palácio do
Planalto, o presidente Lula respondeu que, pelo menos no gabinete, a decisão cabe a ele. "Eu,
se for na sua sala, certamente
não fumarei, porque respeito o
dono da sala. Mas, na minha,
sou eu que mando."
Em níveis semelhantes, a declaração desagradou tanto
àqueles que avaliam o presidente Lula como "ótimo/bom"
como àqueles que o vêem como
"ruim/péssimo".
A reprovação à fala do presidente foi maior entre os simpatizantes do PSDB (oposição)
que entre os dos PT (governo).
Dos tucanos entrevistados pelo
Datafolha, 87% discordaram da
declaração. No caso dos petistas, 77%.
Prática e retórica
A defesa do cigarro feita por
Lula foi imediatamente criticada por entidades médicas. Para
elas, a opinião do presidente
pode atrapalhar as políticas de
combate ao tabagismo realizadas pelo próprio governo.
Para a médica Analice Gigliotti, presidente da Abead
(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas),
o presidente Lula deveria pedir
desculpas ao país "pela forma
inadequada de se expressar".
"Em meio a avanços importantes, é preciso cuidado para
que, por erros políticos, não haja retrocessos. Parece que, de
forma inédita, avançamos na
prática e regredimos na retórica", afirmou a médica.
Entre os "avanços na prática", Analice lembra que foi com
Lula que o Brasil tornou mais
fortes as imagens de advertência nos maços de cigarro e assinou a Convenção-Quadro para
o Controle do Tabaco, um acordo internacional por meio do
qual os países buscam reduzir o
consumo de cigarros e outros
produtos derivados do tabaco.
Neste momento, a Casa Civil
da Presidência da República
tem um projeto de lei que determina a extinção dos fumódromos. O projeto é do Ministério da Saúde e, logo após a
análise da Casa Civil, será enviado ao Congresso Nacional.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), os fumódromos dão a falsa sensação
de proteção para quem está do
lado de fora -a fumaça do cigarro é danosa à saúde em qualquer quantidade inalada.
Na entrevista em que deu a
polêmica declaração, Lula também fez comentários sobre esse projeto: "A idéia do Ministério da Saúde é a proibição do fumo em todos os lugares fechados. Eu mando o projeto para o
Congresso e não voto".
(RICARDO WESTIN)
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