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Brasileira que perdeu movimentos tenta terapia polêmica
Daniela Bortman, que sofreu acidente em 2006, viajou à China para realizar cirurgia que envolve transplante de células-tronco
Cerca de 24 horas após a operação, jovem já podia mover o punho esquerdo; médico diz haver "risco intrínseco" ao procedimento
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Bonita, inteligente e cheia de
amigos, Daniela Bortman sofreu um acidente de carro em 1º
de abril de 2006. Perdeu os movimentos dos braços, pernas e
tronco. Tinha 23 anos.
No início deste mês, ela viajou a Pequim atrás de uma terapia polêmica com células-tronco. Cerca de 24 horas após a cirurgia, realizada na última segunda-feira, sentiu algo diferente. "Quando entrei no quarto, ela estava eufórica", conta o
pai da jovem, o neurocirurgião
Alberto Bortman, 52. Daniela
podia mover o punho esquerdo.
O procedimento em questão
só existe na China. Consiste,
em linhas gerais, no transplante de células gliais olfativas extraídas de fetos abortados. O
aborto é permitido no país.
Os detalhes do tratamento
não são divulgados de forma
transparente, conta a geneticista Lygia Veiga Pereira, professora da USP. Ainda não se
conhecem os efeitos a longo
prazo, como os riscos de inflamações ou de tumores.
No Brasil, há pesquisas com
células embrionárias desde
2005, afirma o neurocientista
Stevens Rehen, diretor de pesquisas do Instituto de Ciências
Biomédicas da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Mas, fora a China, em nenhum país os estudos chegaram à fase clínica (com humanos). "Há um risco intrínseco."
No hospital, pai e filha conheceram outros pacientes que
se submeteram ao método. Os
resultados, diz Alberto, são os
mais variados possíveis.
Ainda assim, um vídeo feito
por um amigo de Daniela mostra cenas impactantes. Raphael
Danieli, 24, foi à China em junho e, a pedido da jovem, procurou o médico Huang Hongyun, criador do método. Nas
imagens, Raphael mostra um
jovem andando pelo hospital
-segundo o relato, antes da cirurgia, feita há quase dois anos,
esse paciente mal dava três passos. O vídeo está no YouTube.
"A Dani disse que esse vídeo
foi muito importante, mas acho
que ela iria [à China] mesmo
que eu só trouxesse um texto de
um parágrafo", conta Raphael.
Já a vereadora Mara Gabrilli
(PSDB), 40, tentou demovê-la
da idéia. "As pessoas acham que
não têm nada a perder, mas
têm", diz Mara, que ficou tetraplégica há 14 anos em um acidente de carro. Ela conheceu
Daniela por meio de amigos em
comum. "Torço por ela, mas
vou esperar as pesquisas brasileiras avançarem", diz Mara.
"Não é como uma virose. Não
tem tempo para esperar", comenta a dentista Mirian Bortman, mãe da jovem. A filha, diz,
busca ser o mais independente
possível: continua dividindo
um apartamento com amigas
em Taubaté (a 130 km de São
Paulo), onde estuda medicina.
Precisa, porém, de enfermeiros
-a enfermagem e a fisioterapia
custam R$ 8 mil por mês.
Os últimos dois anos, aliás,
foram, para os Bortman, marcados por brigas judiciais contra o plano de saúde e os dois
motoristas envolvidos no acidente -Daniela voltava de uma
festa com um colega quando
houve a colisão.
"O processo contra um deles
foi arquivado. O outro teve de
pagar uma ambulância para o
município", diz Alberto. "É
muita impunidade."
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