São Paulo, segunda, 14 de setembro de 1998

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REMÉDIOS
Para Vigilância Sanitária, teria ocorrido erro humano em produção de anticoncepcionais da Schering do Brasil
Saúde aponta falha em cartela de Microvlar



MALU GASPAR
da Reportagem Local

A Vigilância Sanitária encontrou, neste final de semana, nova irregularidade em cartela da pílula Microvlar, fabricada pelo laboratório Schering do Brasil. Uma das cartelas tinha 20 em vez das 21 necessárias para a completa eficácia do anticoncepcional.
A cartela, do lote 253, foi encontrada a partir de denúncia feita à Vigilância Sanitária de São Paulo por uma consumidora. Neste fim-de-semana, o secretário nacional da Vigilância Sanitária, Gonzalo Vecina Neto, esteve na sede da empresa e constatou que houve falha humana no procedimento de controle de fabricação.
Vecina Neto determinou que fossem recolhidas todas as cartelas desse lote para que seja avaliada a extensão do problema.
Hoje, a Vigilância Sanitária de São Paulo deverá realizar uma inspeção na empresa para conhecer o processo de controle da fabricação da Microvlar. As cartelas recolhidas também serão avaliadas.
O secretário determinou ainda que a Schering publicasse um esclarecimento à população em jornais de grande circulação.
"É importante entender que faltar pílulas numa cartela não é da mesma gravidade de uma pílula ter farinha. Não é motivo para susto, mas indica falhas no sistema de controle do produto que, esperamos, possam ser sanadas", disse ontem o ministro José Serra, que anunciou a descoberta da cartela adulterada em entrevista coletiva.
Segundo a Schering do Brasil, apenas uma cartela do lote 253 tinha 20 pílulas.
Hoje, será lavrado um auto de infração grave contra a empresa. Segundo o secretário da Vigilância Sanitária, a medida foi adotada pelo fato de a empresa ser reincidente, apesar de a irregularidade não ter sido considerada tão grave quanto o caso das Microvlar com recheio de farinha, descobertas em junho passado.
Isso significa que a empresa será punida e multada. Ainda não está definida a extensão da multa, que vai depender do que for constatado nas vistorias e na avaliação feita pela Vigilância Sanitária.
As novas cartelas da pílula, com mudanças na embalagem, começaram a ser vendidas no mercado em 17 de agosto.
Desta vez, no entanto, o ministro da Saúde considera pouco provável que a Microvlar tenha sua produção paralisada ou a venda proibida, como ocorreu no caso das pílulas de farinha.
Serra e Vecina também disseram considerar que não houve negligência na empresa, mas sim falha humana.
"Isso é quase como um raio que tivesse caído no mesmo lugar duas vezes", disse Serra. Para o ministro, no entanto, o episódio demonstra que é preciso melhorar os sistemas de controle e fabricação das empresas que atuam no setor.
Serra pediu ainda que as consumidoras que encontrem esse tipo de adulteração em suas cartelas comuniquem a Vigilância.
Risco
Uma mulher que tome as 20 pílulas da cartela e não tome a última, como no caso da cartela do lote 253, não corre o risco de engravidar, diz o ginecologista Nelson Vitielo. "Se isso ocorrer repetidas vezes, o ciclo menstrual pode ser alterado." Mas, em geral, quando a mulher deixa de tomar uma pílula, a eficácia do anticoncepcional diminui, e aí há risco.



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