São Paulo, segunda, 14 de setembro de 1998

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DEBATE
Participantes do evento "Terror Urbano", promovido pela Folha, defendem reestruturação da força policial
Polícia arcaica contribui para a violência

da Reportagem Local

O atual modelo de polícia, considerado arcaico, contribui para o avanço da criminalidade nas grande cidades brasileiras.
A afirmação é consenso para Benedito Domingos Mariano, ouvidor da polícia do Estado de São Paulo, James Cavallaro, diretor no Brasil da Human Rights Watch/Americas (uma entidade não-governamental de direitos humanos), e Yvonne Bezerra, artista plástica que trabalha com meninos de rua no Rio de Janeiro.
Os três, juntamente com o secretário-adjunto da Secretaria da Segurança Pública, Luiz Antonio Alves de Souza, também defenderam reformulações profundas nas estruturas das Polícias Civil e Militar e sugeriram a unificação das forças. Souza foi o único a não atrelar o aumento da violência à polícia.
Os quatro participaram, no dia 17 de agosto, do debate "Terror Urbano", promovido pela Folha e pelo Centro Acadêmico 11 de Agosto - Campanha Sou da Paz.
"Diferente de algumas pessoas, eu penso ser um equívoco creditarmos a violência urbana e a criminalidade só a questões sociais. Tenho a impressão que o modelo de polícia que nós temos é ineficiente e não vai diminuir a criminalidade. Até porque, esse modelo de polícia produz, de certa maneira, violência. Só de 1990 até hoje, mais de 5.400 pessoas foram mortas por policiais (em SP), contra um número de 111 policiais mortos no mesmo período. Isso demonstra que polícia violenta não diminui a criminalidade. Ela pode até contribuir para uma maior violência", afirmou Mariano.
Souza discorda da opinião e afirma que São Paulo conseguiu diminuir a violência policial. "Hoje, a polícia de São Paulo está conseguindo fechar suas estatísticas com cerca de 15%, 20% menos do que matava em 90, 91, 92. E todas elas devidamente apuradas."
Yvonne afirma que, no Rio, o principal problema, além da violência policial, é a corrupção. "Uma vez, um traficante me disse o seguinte: "Não existe tráfico de drogas sem a polícia'. Ele tem toda a razão. Nós vamos conseguir melhorar isso quando tivermos em Brasília a reforma da polícia fora das gavetas e do papel."
Além da violência policial, alguns dos debatedores, como Cavallaro, atribuíram o avanço da criminalidade a questões sociais, à proliferação das armas e ao tráfico de drogas. "Outro fator que nós constatamos é que parece existir uma tendência à violência no contexto da transição dos governos autoritários para a democracia."
Os quatro discutiram também a redução das penas e a necessidade de ampliação das penas alternativas como forma de desafogar o sistema penitenciário. Em São Paulo, Souza destacou que 50% das pessoas presas em distritos já estão condenadas.



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