São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 2005

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NOVA PAISAGEM

Andrea Matarazzo admite erro em corte de árvores na rua Rui Barbosa; secretário do Verde cobra explicações

Bexiga ficou horrível, diz subprefeito da Sé

AFRA BALAZINA
LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

O subprefeito da Sé, Andrea Matarazzo, disse ontem que "foi malfeito" e deixou um cenário ""horrível" o corte de cerca de 50 árvores na rua Rui Barbosa, no Bexiga. Ainda não há projeto paisagístico definido, e o local deve permanecer com árvores decepadas por cerca de mais 30 dias.
Da grande fila de árvores, cortadas à noite com facão, restaram apenas troncos escuros de tamanhos variados -alguns com dois metros de altura, outros com menos de meio metro.
Matarazzo, um dos principais auxiliares de José Serra (PSDB) na prefeitura, diz que não sabia previamente dos cortes, noticiados ontem pela Folha. Um engenheiro agrônomo da sua subprefeitura teria tomado a decisão.
Os arbustos mexicanos cortados no Bexiga, cientificamente conhecidos como Yucca elephantipes, ficam no canteiro central da rua, em frente a cantinas, a padarias e ao teatro Sérgio Cardoso. Eles tinham pelo menos dez anos.
Segundo Matarazzo, os moradores da região deveriam ter sido avisados previamente, e os cortes, realizados aos poucos, para não assustar a população.
Pela manhã, o subprefeito da Sé afirmou que os cortes ocorreram sem projeto de rearborização definido. "Serão plantados arbustos e árvores de grande porte adequados para a área."
No final da tarde, em nota oficial, a Subprefeitura da Sé afirmou que serão plantadas "damas-da-noite, arbustos floridos e árvores adequadas para tornar o local mais agradável".
Segundo Matarazzo, a decisão de cortar as árvores foi tomada porque as grandes raízes dos arbustos estavam destruindo o muro do canteiro central e a guia. Diz que a subprefeitura não cogitara, porém, transferir as árvores, sadias, para um novo local.
O secretário do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge, que diz ter tomado conhecimento dos cortes pela Folha, vistoriou a Rui Barbosa ontem de manhã. Disse que irá intimar a Subprefeitura da Sé a apresentar o processo que orientou a poda e um projeto de rearborização. Serra declarou, pela manhã, que iria conversar com Jorge sobre os cortes (leia texto nesta página).
É a segunda vez nesta semana que o secretário do Verde discorda de intervenções em árvores realizadas pelas subprefeituras. Na terça-feira, ele exigiu a suspensão de podas de árvores realizadas na praça Jesuíno Bandeira (Lapa).
Jorge afirma que cortes de árvores só devem ser feitos quando não há mais chance de sobrevivência. "Cada perda de árvore na cidade de São Paulo piora a qualidade de vida da população."
Jorge disse ainda que a cada árvore retirada de um local deve ser plantada outra, na mesma região, para garantir a permanência da cobertura vegetal.

Despreparo
Na opinião do ambientalista Carlos Bocuhy, do Proam (Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental), há um grande despreparo dos funcionários da prefeitura e dos empregados terceirizados que realizam podas na cidade.
Ele também criticou o fato de a arborização e o projeto paisagístico para a área não terem sido planejados com antecedência e discutidos com a comunidade.
"Num bairro tradicional e turístico, como o Bexiga, as árvores só tendem a valorizar a região. Além de refrigerar a área, há também um aspecto estético", disse.
O vereador Aurélio Nomura (PV) disse ontem que solicitaria à prefeitura explicações sobre o corte das árvores. "A imagem do local é grotesca. Pedirei esclarecimentos e a apuração dos fatos."
O subprefeito da Sé diz que, a partir de agora, "toda poda, até de grama, passará por mim".


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