São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 2005

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FAVELIZAÇÃO DAS RUAS

Grupo despejado por ordem da Justiça acampou em calçada e colocou faixa com crítica ao prefeito

Sem-teto têm motivação política, diz Serra

DA REPORTAGEM LOCAL

O prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), disse que há motivação política nos grupos de sem-teto que estão montando barracos nas ruas depois de terem sido retirados, por decisão judicial, de áreas particulares invadidas.
A estratégia dos sem-teto provocou o surgimento de pequenas favelas em pelo menos três ruas e uma praça da cidade, como revelou ontem a Folha.
"Oferecemos lugares para ir e oferecemos, através do governo do Estado, uma ajuda-aluguel. O resto é problema político-partidário, muito claramente. Há militantes", afirmou o prefeito.
Em duas ruas recém-favelizadas, Plínio Ramos e Mauá (centro), faixas responsabilizam o prefeito e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) pela situação.
Ontem, uma faixa cobrando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi instalada na Plínio Ramos: "Sr. presidente, cadê o 1 bilhão e 200 milhões que foram liberados para moradia popular? [sic]".
O desempregado Edmilson Malta, 38, um dos líderes sem-teto, diz ser autor das faixas contra os tucanos e também contra Lula, mas nega haver motivação política. "Fiz a faixa para chamar atenção porque o governo comete um descaso conosco. O albergue é um campo de concentração social, queremos moradia definitiva." Ele diz não ser filiado a partidos.
Da página do PT na internet há só o nome de um dos coordenadores do MMRC (Movimento de Moradia da Região Centro), Nelson Souza, que diz não ter feito as faixas. "Minha relação é com a luta pela moradia, não com o partido. O presidente é petista. O que ele está fazendo pela gente?"
Um dos sem-teto, Jefferson Assis Armôa, 27, afirma que votou em Serra e mesmo assim ajudou a fazer a faixa por discordar da situação em que vive.
Acampados nos 41 barracos da Mauá também criticam Serra. "Por que a faixa está incomodando tanto o prefeito? A gente aqui nos barracos não o incomoda? Você acha que a gente está na rua por causa de partido? Acha que, se oferecer moradia, a gente vai recusar?", indaga José da Silva, 35.
A assessoria de imprensa do presidente do Diretório Municipal do PT, deputado estadual Italo Cardoso, afirma que o partido não coordena nenhum movimento e que não tem relação com a colocação das faixas.
A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social disse ter oferecido abrigos às famílias. O Estado concedeu R$ 250 mensais por um ano ao grupo da Plínio Ramos e pretende estender a bolsa ao da Mauá. No entanto, eles dizem que, por terem muitos filhos, a verba é insuficiente para alugar casas. (LUÍSA BRITO)


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