São Paulo, sábado, 14 de outubro de 2006

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38% dos produtos omitem informação sobre gordura trans

Pesquisa feita pelo Idec com 370 alimentos industrializados mostra que só 62% cumprem a lei, em vigor há dois meses

Empresas tiveram dois anos e meio para se adequar; a gordura trans eleva o mau colesterol (LDL) e aumenta riscos de doenças cardíacas

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais de dois meses após entrar em vigor uma lei que obriga as empresas de alimentos a informar a quantidade de gordura trans, mais de um terço dos produtos industrializados ainda não tem esse dados nos rótulos, revela pesquisa do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor). Esse tipo de gordura pode elevar o mau colesterol (LDL) e aumentar os riscos de doenças cardíacas.
O Idec avaliou os rótulos de 370 produtos industrializados. Desses, 231 (62%) declaram a quantidade de gorduras trans em suas embalagens e 139 (38%) ainda não o fazem.
A categoria que menos informa é a de biscoitos wafer: 64,3% dos rótulos não têm o dado. Os produtos avaliados foram adquiridos em três supermercados de São Paulo.
As empresas tiveram dois anos e meio para se adequar a uma resolução da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que obrigava a colocação dos dados nutricionais no rótulo. A lei entrou em vigor em 31 de julho, mas só serão aplicadas multas -que variam de R$ 2.000 a R$ 1,5 milhão- a partir de janeiro de 2007.
A média de gorduras trans entre os 231 produtos que trazem informação na embalagem foi de 1,05 g por 100 gramas de alimento. Os bolos com recheio são os itens que, na média, mais possuem gorduras trans (2,1 g/ 100 g), seguidos dos pratos prontos (2 g/100 g), biscoitos wafer (1,9 g/100 g), biscoitos de polvilho (1,3 g/100 g) e biscoitos cream cracker (1,2 g/100 g).
O consumo máximo diário de gordura trans recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) é de 2 g ou 1% do total calórico diário.
Segundo Marcos Pó, coordenador-executivo do Idec, o consumidor deve preferir alimentos que tragam a informação nutricional nos seus rótulos e priorizar os que não tenham gordura trans ou que possuam o mínimo possível dela.
"Já existem vários produtos com baixo nível dessa gordura, porque algumas empresas perceberam que um alimento mais saudável é uma questão de responsabilidade social", diz Pó.
De acordo com ele, o melhor que os fabricantes têm a fazer é cumprir imediatamente a legislação. "O governo, por sua vez, deveria fazer com que a legislação fosse cumprida o quanto antes, punindo os irresponsáveis."
A nutricionista Vera Lúcia Chiara, professora do Instituto da Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, defende que o governo proíba a produção de alimentos, industrializados ou não, que contenham a gordura trans, ou a gordura vegetal hidrogenada ou parcialmente hidrogenada.
"Embora seja muito importante a obrigatoriedade da declaração nutricional nos rótulos, só teremos uma alimentação mais saudável quando nos livrarmos desse tipo de gordura. Do contrário, nunca vamos saber [a quantidade de gordura trans ingerida]", diz ela.
Ela lembra dos outros alimentos que não trazem essa informação porque não são obrigados por lei. "Salgadinhos, folhados, doces com massas, bolos, tortas e muitos produtos feitos em padarias, confeitarias e lanchonetes são preparados com gordura vegetal hidrogenada, principal fonte da gordura trans", explica Chiara.

Produtos
Entre os produtos considerados não-adequados pelo Idec estão o biscoito maisena Zabet, da Adria Alimentos do Brasil; o sorvete sabor napolitano Portofino, da Arabian Bread Pães e Doces (Habib's); o biscoito cream cracker Triunfo, da Bagley do Brasil Alimentos; o bolo de baunilha tipo formigueiro Visconti, da Pandurata Alimentos; o biscoito sabor de chocolate com recheio sabor de baunilha Negresco, da Nestlé Brasil; e o biscoito wafer tipo brigadeiro Bauducco, da Pandurata Alimentos.
As empresas Pandurata, Arabian Bread, Nestlé e Bagley do Brasil alegam que estão amparadas pela resolução da Anvisa que permite a comercialização dos produtos com rótulos ainda inadequados até o final dos seus estoques.
A Adria Alimentos do Brasil informou que seus produtos já estão sendo fabricados com a nova embalagem, adequada às novas regras de rotulagem.


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