São Paulo, sábado, 14 de outubro de 2006

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Febem leva 75 jovens para unidade em obras

Transferência ocorreu dias antes da inspeção de comissão da OEA no Tatuapé, onde adolescentes estavam antes

Cerca, muralha e portão da unidade da Vila Leopoldina, em São Paulo, ainda não estão prontos; entidade afirma que falta segurança

AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

Falta terminar a instalação de uma cerca, concluir o estacionamento e a muralha ou o portão para separar o prédio da marginal Pinheiros. Mesmo com obras na parte externa do terreno ainda em andamento, 75 internos já ocupam a unidade da Febem Vila Leopoldina, na zona oeste de São Paulo, desde o dia 17 de setembro.
Ontem, cerca de dez pessoas trabalhavam no local, ao redor do prédio onde estão abrigados os adolescentes.
Não houve inauguração oficial da unidade, e os vizinhos, que sempre se manifestaram contra a presença da Febem na região, se disseram surpreendidos com a transferência de internos para o bairro. O prédio fica entre duas linhas de trem, ao lado do Cadeião de Pinheiros e em frente a uma favela.
"Os familiares dizem que os internos estão trancados para evitar problemas durante as obras. Além disso, é bastante grave o fato de a Febem ter inaugurado a unidade às pressas", diz Ariel de Castro Alves, coordenador do Movimento Nacional de Direitos Humanos.
Ele diz ainda que a segurança da unidade, em razão das obras no terreno em seu entorno, está fragilizada. A entrada da unidade fica de frente para a avenida das Nações Unidas, pista local da marginal Pinheiros.
Para Alves, o motivo da transferência, "obscura" e ""a toque de caixa", foi mostrar agilidade à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA no processo de desativação do Complexo do Tatuapé. Em razão das acusações de violência contra internos, a OEA cobra o fim do complexo.
A Febem recebeu uma visita de representantes da OEA (Organização dos Estados Americanos) no dia 20 de setembro. "Foi logo depois da transferência", afirma. O complexo do Tatuapé, que já chegou a ter 1.550 internos, abriga 514 jovens.
A Febem e o governador Cláudio Lembo (PFL) anunciaram em abril que o complexo seria desativado até o fim deste ano, mas a assessoria de imprensa afirmou ontem que a segunda fase da desativação só acontecerá em 2007.
Conceição Paganele, presidente da Amar (associação de mães de internos da Febem), critica o fato de a Vila Leopoldina ter capacidade para 152 internos, quando o ideal seria a construção de várias unidades menores, para abrigar até 40 adolescentes. "[A unidade Vila Leopoldina] segue o mesmo modelo prisional da Vila Maria. E, como as entidades estão proibidas de entrar nas unidades para vistoriar, eles fazem o que querem", diz Conceição.

Vizinhos
José Benedito Morelli, presidente do conselho das associações amigos de bairro da região da Lapa, diz que a unidade da Febem foi imposta à comunidade e trará prejuízos. "Além de aumentar a insegurança, desvaloriza toda a região", diz.
Morelli afirma, entretanto, que, se a unidade tivesse apenas 40 internos, seria aceitável. "O problema é que não há diálogo, mas imposição. Já somos punidos com a presença do Cadeião de Pinheiros, que tem fuga direto", diz ele.


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