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Febem leva 75 jovens para unidade em obras
Transferência ocorreu dias antes da inspeção de comissão da OEA no Tatuapé, onde adolescentes estavam antes
Cerca, muralha e portão da unidade da Vila Leopoldina, em São Paulo, ainda não estão prontos; entidade afirma que falta segurança
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
Falta terminar a instalação
de uma cerca, concluir o estacionamento e a muralha ou o
portão para separar o prédio da
marginal Pinheiros. Mesmo
com obras na parte externa do
terreno ainda em andamento,
75 internos já ocupam a unidade da Febem Vila Leopoldina,
na zona oeste de São Paulo,
desde o dia 17 de setembro.
Ontem, cerca de dez pessoas
trabalhavam no local, ao redor
do prédio onde estão abrigados
os adolescentes.
Não houve inauguração oficial da unidade, e os vizinhos,
que sempre se manifestaram
contra a presença da Febem na
região, se disseram surpreendidos com a transferência de internos para o bairro. O prédio
fica entre duas linhas de trem,
ao lado do Cadeião de Pinheiros e em frente a uma favela.
"Os familiares dizem que os
internos estão trancados para
evitar problemas durante as
obras. Além disso, é bastante
grave o fato de a Febem ter
inaugurado a unidade às pressas", diz Ariel de Castro Alves,
coordenador do Movimento
Nacional de Direitos Humanos.
Ele diz ainda que a segurança
da unidade, em razão das obras
no terreno em seu entorno, está fragilizada. A entrada da unidade fica de frente para a avenida das Nações Unidas, pista local da marginal Pinheiros.
Para Alves, o motivo da
transferência, "obscura" e ""a
toque de caixa", foi mostrar agilidade à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da
OEA no processo de desativação do Complexo do Tatuapé.
Em razão das acusações de violência contra internos, a OEA
cobra o fim do complexo.
A Febem recebeu uma visita
de representantes da OEA (Organização dos Estados Americanos) no dia 20 de setembro.
"Foi logo depois da transferência", afirma. O complexo do Tatuapé, que já chegou a ter 1.550
internos, abriga 514 jovens.
A Febem e o governador
Cláudio Lembo (PFL) anunciaram em abril que o complexo
seria desativado até o fim deste
ano, mas a assessoria de imprensa afirmou ontem que a segunda fase da desativação só
acontecerá em 2007.
Conceição Paganele, presidente da Amar (associação de
mães de internos da Febem),
critica o fato de a Vila Leopoldina ter capacidade para 152 internos, quando o ideal seria a
construção de várias unidades
menores, para abrigar até 40
adolescentes. "[A unidade Vila
Leopoldina] segue o mesmo
modelo prisional da Vila Maria.
E, como as entidades estão
proibidas de entrar nas unidades para vistoriar, eles fazem o
que querem", diz Conceição.
Vizinhos
José Benedito Morelli, presidente do conselho das associações amigos de bairro da região
da Lapa, diz que a unidade da
Febem foi imposta à comunidade e trará prejuízos. "Além
de aumentar a insegurança,
desvaloriza toda a região", diz.
Morelli afirma, entretanto,
que, se a unidade tivesse apenas 40 internos, seria aceitável.
"O problema é que não há diálogo, mas imposição. Já somos
punidos com a presença do Cadeião de Pinheiros, que tem fuga direto", diz ele.
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