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Ricos reclamam mais da violência do que os pobres
Para pesquisador, pessoas com maior renda e escolaridade têm nível de exigência maior
Percepção de morador não reflete necessariamente as reais condições de moradia do bairro em que vive, de acordo com pesquisa
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O bairro da Lagoa, na zona
sul do Rio, é um dos mais nobres da cidade. É também um
dos mais seguros e policiados,
com estatísticas de criminalidade bastante inferiores à média no Rio. No entanto, foi exatamente lá que nasceu, em
2004, o movimento Basta!, iniciado pela psicanalista Beatriz
Kuhn depois que ouviu, de sua
cobertura, som de tiros na favela da Rocinha.
Beatriz e seus vizinhos, como
demonstram as estatísticas da
Secretaria de Segurança Pública, estão mais seguros em seu
bairro do que um morador da
Rocinha, mas a percepção que
cada morador tem da violência
não necessariamente reflete o
grau real de perigo ao qual cada
um está exposto.
Uma comprovação disso pode ser feita a partir de uma tabulação da POF (Pesquisa de
Orçamentos Familiares) do IBGE feita pela Folha. Ela mostra
que, em famílias com nível de
gasto maior, foi também maior
o percentual de pessoas que reclamaram de problemas de violência ou vandalismo em sua
área de residência.
Em famílias cujos gastos
mensais não ultrapassam os R$
400, o percentual dos que fizeram essa queixa foi de 20%. Essa proporção aumenta a cada
faixa de gasto e, nas famílias
com despesas superiores a R$
4.000, chega a 32%.
Para Edilson Nascimento da
Silva, gerente da POF, um primeiro dado a levar em conta
nessa análise é que o que está
se medindo nesse indicador é a
percepção das condições de vida de cada morador, ou seja, isso não necessariamente reflete
as reais condições de moradia
em seu bairro.
"Um morador mais pobre e
que mora num bairro mais violento ou barulhento pode se
sentir menos incomodado. Em
geral, o que percebemos na
pesquisa é que as pessoas de
maior renda e escolaridade,
por terem mais conhecimento
ou pagarem mais impostos,
têm nível de exigência maior."
Fernando Blumenschein,
coordenador de Projetos da
FGV e autor de um estudo sobre as condições de vida a partir da POF, acrescenta nessa
análise o fato de a população
mais rica se sentir mais alvo em
potencial da violência por possuírem mais ativos.
Beatriz Kuhn, fundadora do
Basta!, diz que um dos fatores
que podem explicar o fato de a
população de maior renda se
mostrar mais incomodada com
a violência é justamente o fato
de estar mais distante das áreas
mais problemáticas.
Ela conta que recebeu muitas críticas por estar se mobilizando contra a violência e fazer
parte da elite. "Da mesma maneira como fizeram com o
[apresentador] Luciano Huck
[que escreveu um artigo indignado na Folha após ter sido assaltado em São Paulo], me diziam que, por ser da elite, eu
deveria calar a boca. É como se
dissessem que a culpa pela violência é minha e que, por isso,
eu deveria ficar engessada. Isso
não faz sentido."
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