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DANUZA LEÃO
Fazendo as pazes
Ele chega mais perto e abre
os braços para um grande abraço. É a hora do perdão,
do não se fala mais nisso
SUPONDO QUE ele te traiu; difícil,
perdoar a traição. No início são
aquelas intermináveis conversas pela madrugada; depois, os silêncios. Ele, que traiu, não sabe o que
dizer; você sofre, tem vontade de
matar, não tem coragem de se separar porque ainda ama, tenta conservar a cabeça fria, mas não dá para ser a mesma de sempre.
Até tenta; fala das coisas que foram manchete no jornal, evitando
de todas as maneiras citar o caso Renan Calheiros e Monica Veloso, mas
tudo é forçado, sem alegria, sem espontaneidade, pois quem foi traído
fica imaginando seu grande amor
nos braços da outra. E na hora de
irem dormir, viram um de costas para o outro e apagam logo a luz do
abajur para não ter que falar, ou repetir tudo que já foi dito, até porque
sabem que não adianta.
Quando as crianças estão por perto, pior ainda; elas não devem saber
do que está acontecendo, e só Deus
sabe o que é fingir que está tudo
bem. Os dias vão passando, você não
pensa em outra coisa e ele, que traiu
-nem foi por paixão, apenas uma
dessas coisas que acontecem-, quer
se matar, dizer mil vezes que aquilo
não significou nada, mas não há clima para isso nem para nada.
Tentar um contato físico, nem
pensar. Cada tentativa é um fracasso, e por aí é que não é. Chegar levando flores jamais, se chamar para jantar num restaurante, vai ter como
resposta um não, e se sair à noite para escapar do clima pesado da casa, é
perigoso: pode dar a impressão de
que vai encontrar com a outra. Ah,
essa história de trair é complicada, e
pode render meses, isso quando não
há uma separação imediata. Se ele
pudesse voltar atrás teria resistido,
mas quem pensa nisso quando bate
a vontade? Agora já foi, e é agüentar
as consequências, a cara amarrada,
o mau humor e às vezes um toque
seu que é pior do que uma facada pelas costas. Ah, se arrependimento
matasse.
Mas existe o tempo, e só ele, para
curar certas feridas. Um dia chegam
uns amigos e a conversa flui quase
como antes; quando vão embora vocês trocam algumas palavras sobre
como fulana estava bonita, sicrano
mais gordo, e vislumbra-se uma trégua, até porque não há ninguém que
consiga ficar sofrendo por uma traição para o resto da vida.
As coisas vão melhorando, vocês
passam a viver numa certa harmonia, já conversam normalmente,
mas o contato físico continua zero.
E ele lá tem coragem de tentar, levar
um não e voltar tudo ao que era
antes?
Mas um sábado qualquer, um sábado comum, com um sol lindo, vocês resolvem sair e dar uma caminhada num parque da cidade. A caminhada acaba virando uma corrida, e quando chegam em casa, suados, comentam como foi bom terem
conseguido correr, que devem fazer
isso mais freqüentemente, pois faz
bem ao corpo e à alma.
Nesse momento ele sente que é a
hora -e é mesmo; chega mais perto
e abre os braços para um grande
abraço. É a hora do perdão, do -sobretudo- não se fala mais nisso; um
abraço bem generoso, bem demorado, bem apaixonado, e a paz volta a
reinar no universo.
Porque, pensando bem, não há nada melhor na vida do que um abraço
bem sincero, bem apertado, bem encaixado, melhor do que todos os beijos na boca do final dos filmes.
danuza.leao@uol.com.br
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