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BARBARA GANCIA
Verba para publicidade nunca falta
Se gente de 90 anos é obrigada a fazer fila por horas para provar que não é fraudadora, o
que podemos esperar do tratamento reservado aos nossos animais? O Ibama parece ter a mesma consideração pelos bichos que
o ministro Berzoini demonstrou
em relação aos aposentados.
Lembra os leões que o Ibama se
gabou de ter repatriado para a
África do Sul no início do mês?
São animais velhos e debilitados,
que sofreram maus-tratos e foram abandonados por circos que
faliram. Todos nasceram no Brasil, donde se deduz que o Ibama já
errou logo de cara ao usar o termo "repatriar".
Segundo a Wildlife Action
Group, uma ONG sediada na
África do Sul, o Ibama enviou os
leões a um zoológico sem condições mínimas de manter os animais, que hospeda apenas dois
leões, alguns macacos, cobras e lobos. Quer apostar um picolé de limão como nossos leões vão acabar sendo transferidos para alguma fazenda de caça?
Mas o Ibama não está só. Mais
um exemplo da falta de sensibilidade que acomete nossas autoridades foi dado nesta semana pelo
governador Alckmin, que promulgou uma lei estabelecendo
que cães das raças pit bull, rottweiler e mastim devem andar nas
ruas de focinheira.
Raciocine comigo: porque a
Operação Anaconda revelou que
alguns juízes vendem sentenças,
será que isso quer dizer que todo o
Judiciário é desonesto? Claro que
não. A maioria, como bem lembrou Luís Nassif, é composta por
"profissionais honestos, tão vítimas do anacronismo administrativo do Judiciário quanto os clientes dos serviços jurisdicionais".
Da mesma forma, nem todo pit
bull é um monstro. Cão feroz, que
ataca e mata, é aquele que vive
preso, e não o que passeia nas
ruas com o dono.
Na prática, a medida só reforça
o preconceito contra cães de grande porte e deixa impune quem incentiva o comportamento agressivo do animal.
Outra medida tão inócua quanto a da focinheira, a da redução
da maioridade, voltou à baila
agora por conta do assassinato do
casal de adolescentes.
Digamos que a gente trace a linha da maioridade nos dez anos.
Será que, sem alterar as condições
na internação de jovens infratores, isso faria alguma diferença?
Pesquisas apontam que a violência já atingiu níveis "colombianos". Mas, em vez de agir, discutimos alterações nas leis. Não seria
um bom começo o governo cortar
substancialmente a verba publicitária de cada órgão e destinar esses milhões ao saneamento, à
saúde, à educação e à segurança?
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