UOL


São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BARBARA GANCIA

Verba para publicidade nunca falta

Se gente de 90 anos é obrigada a fazer fila por horas para provar que não é fraudadora, o que podemos esperar do tratamento reservado aos nossos animais? O Ibama parece ter a mesma consideração pelos bichos que o ministro Berzoini demonstrou em relação aos aposentados.
Lembra os leões que o Ibama se gabou de ter repatriado para a África do Sul no início do mês? São animais velhos e debilitados, que sofreram maus-tratos e foram abandonados por circos que faliram. Todos nasceram no Brasil, donde se deduz que o Ibama já errou logo de cara ao usar o termo "repatriar".
Segundo a Wildlife Action Group, uma ONG sediada na África do Sul, o Ibama enviou os leões a um zoológico sem condições mínimas de manter os animais, que hospeda apenas dois leões, alguns macacos, cobras e lobos. Quer apostar um picolé de limão como nossos leões vão acabar sendo transferidos para alguma fazenda de caça?
Mas o Ibama não está só. Mais um exemplo da falta de sensibilidade que acomete nossas autoridades foi dado nesta semana pelo governador Alckmin, que promulgou uma lei estabelecendo que cães das raças pit bull, rottweiler e mastim devem andar nas ruas de focinheira.
Raciocine comigo: porque a Operação Anaconda revelou que alguns juízes vendem sentenças, será que isso quer dizer que todo o Judiciário é desonesto? Claro que não. A maioria, como bem lembrou Luís Nassif, é composta por "profissionais honestos, tão vítimas do anacronismo administrativo do Judiciário quanto os clientes dos serviços jurisdicionais".
Da mesma forma, nem todo pit bull é um monstro. Cão feroz, que ataca e mata, é aquele que vive preso, e não o que passeia nas ruas com o dono.
Na prática, a medida só reforça o preconceito contra cães de grande porte e deixa impune quem incentiva o comportamento agressivo do animal.
Outra medida tão inócua quanto a da focinheira, a da redução da maioridade, voltou à baila agora por conta do assassinato do casal de adolescentes.
Digamos que a gente trace a linha da maioridade nos dez anos. Será que, sem alterar as condições na internação de jovens infratores, isso faria alguma diferença? Pesquisas apontam que a violência já atingiu níveis "colombianos". Mas, em vez de agir, discutimos alterações nas leis. Não seria um bom começo o governo cortar substancialmente a verba publicitária de cada órgão e destinar esses milhões ao saneamento, à saúde, à educação e à segurança?


Texto Anterior: Prédios da UFRJ podem desabar
Próximo Texto: Qualquer nota
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.