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Faltam engenheiros de obra, diz professor
DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL
Vice-diretor da Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo, o engenheiro José Roberto Cardoso diz que, em primeira análise, o acidente no
Rodoanel reflete um problema
maior da engenharia brasileira:
a falta de engenheiros experientes na execução de obras.
Cardoso falou à Folha, por
telefone, na noite de ontem.
FOLHA - Acidentes como o da cratera do metrô (em 2007), o da queda
de obra do Fura-Fila (em 2008), o do
Rodoanel, além do apagão desta semana, indicam quais problemas na
engenharia brasileira?
JOSÉ ROBERTO CARDOSO - Grandes
construções, como a do Rodoanel, precisam de engenheiros
de obras experientes, e isso está
em falta no Brasil. Há falta de
engenheiros realmente bons e
experimentados para a execução das obras, para antecipar os
problemas que estão acontecendo e agir rápido.
FOLHA - Os maiores acidentes recentes no país têm esse problema?
CARDOSO - Têm. Nesse caso do
Rodoanel, ainda é cedo para saber, mas duvido que o projeto
tenha sido ruim. A engenharia
brasileira tem, em geral, bons
projetos. O problema é a implantação. Também vejo o caso
do Fura-Fila como problema
de execução, de supervisão.
Faltam engenheiros que já passaram por muitas obras para
perceber que algo de errado começa a acontecer ali.
FOLHA - Por que esses profissionais
estão em falta?
CARDOSO - O Brasil tem muitas
obras hoje, está crescendo muito, a um ritmo muito superior
de décadas passadas. Então,
nos anos 1980 e 1990, com menos obras, os engenheiros ganharam menos experiência.
Além disso, há um problema de
formação. Os problemas começam no ensino médio brasileiro, mais focado em humanidades e menos em matemática, física, química. Os alunos não
acompanham as faculdades. De
150 mil que entram nos cursos
de engenharia todos os anos,
apenas 30 mil se formam, e há
demanda para 50 mil formados. Há falta de engenheiros,
em geral. Há falta de engenheiros civis. E a maioria dos formados opta pela concepção de
projetos. Mesmo que os salários da execução das obras sejam maiores, essa opção seduz
pouco os engenheiros, porque
envolve viagens a locais inóspitos, longe de suas famílias.
FOLHA - "Importar" estrangeiros
mais experientes é opção de curto
prazo?
CARDOSO - Nem tão de curto
prazo. O estrangeiro teria de
validar o diploma em uma universidade pública, conseguir o
Crea [registro para exercício da
profissão], e isso poderia levar
algum tempo.
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