São Paulo, sábado, 14 de novembro de 2009

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Faltam engenheiros de obra, diz professor

DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Vice-diretor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, o engenheiro José Roberto Cardoso diz que, em primeira análise, o acidente no Rodoanel reflete um problema maior da engenharia brasileira: a falta de engenheiros experientes na execução de obras.
Cardoso falou à Folha, por telefone, na noite de ontem.

 

FOLHA - Acidentes como o da cratera do metrô (em 2007), o da queda de obra do Fura-Fila (em 2008), o do Rodoanel, além do apagão desta semana, indicam quais problemas na engenharia brasileira?
JOSÉ ROBERTO CARDOSO -
Grandes construções, como a do Rodoanel, precisam de engenheiros de obras experientes, e isso está em falta no Brasil. Há falta de engenheiros realmente bons e experimentados para a execução das obras, para antecipar os problemas que estão acontecendo e agir rápido.

FOLHA - Os maiores acidentes recentes no país têm esse problema?
CARDOSO -
Têm. Nesse caso do Rodoanel, ainda é cedo para saber, mas duvido que o projeto tenha sido ruim. A engenharia brasileira tem, em geral, bons projetos. O problema é a implantação. Também vejo o caso do Fura-Fila como problema de execução, de supervisão.
Faltam engenheiros que já passaram por muitas obras para perceber que algo de errado começa a acontecer ali.

FOLHA - Por que esses profissionais estão em falta?
CARDOSO -
O Brasil tem muitas obras hoje, está crescendo muito, a um ritmo muito superior de décadas passadas. Então, nos anos 1980 e 1990, com menos obras, os engenheiros ganharam menos experiência.
Além disso, há um problema de formação. Os problemas começam no ensino médio brasileiro, mais focado em humanidades e menos em matemática, física, química. Os alunos não acompanham as faculdades. De 150 mil que entram nos cursos de engenharia todos os anos, apenas 30 mil se formam, e há demanda para 50 mil formados. Há falta de engenheiros, em geral. Há falta de engenheiros civis. E a maioria dos formados opta pela concepção de projetos. Mesmo que os salários da execução das obras sejam maiores, essa opção seduz pouco os engenheiros, porque envolve viagens a locais inóspitos, longe de suas famílias.

FOLHA - "Importar" estrangeiros mais experientes é opção de curto prazo?
CARDOSO -
Nem tão de curto prazo. O estrangeiro teria de validar o diploma em uma universidade pública, conseguir o Crea [registro para exercício da profissão], e isso poderia levar algum tempo.


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