São Paulo, domingo, 14 de novembro de 2010

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"Suíça brasileira" vai, enfim, tratar esgoto

Cidade turística associada à sofisticação, Campos do Jordão joga seu esgoto sem tratar nos córregos da cidade

Governo dá início a nova tentativa de construir estação de tratamento 15 anos depois de ver um projeto ser barrado

Eduardo Knapp/Folhapress
Córrego que recebe esgoto sem tratamento passa por Capivari, o bairro mais turístico de Campos do Jordão (181 km de SP)

JOSÉ BENEDITO DA SILVA
ENVIADO ESPECIAL A CAMPOS DO JORDÃO

Cidade turística que associou seu nome à sofisticação -visitantes de alta renda, marcas de luxo que lá se instalam durante a temporada e hotéis com diárias acima de R$ 1.300-, Campos do Jordão, a "Suíça brasileira", vai, enfim, deixar de jogar esgoto sem tratamento no rio.
No dia 23, o governo de SP leva a audiência pública um projeto de R$ 90,2 milhões para construir um sistema de tratamento de esgoto que poupe os rios da área urbana, cuja qualidade das águas varia hoje de regular a péssima.
Em Campos, 44% do esgoto é coletado e nada é tratado. Tudo que é coletado é jogado em rios como Sapucaí-Guaçu, Perdizes e Capivari -os dois últimos abraçam o Capivari, bairro que reúne a alta badalação de inverno.
Os índices nem de longe lembram os da Suíça original, segunda colocada mundial no Índice de Desempenho Ambiental, criado pelas universidades norte-americanas de Columbia e Yale.
Há um agravante: em Campos, muito além das luxuosas casas de temporada, dos hotéis cinco estrelas e da residência de inverno do governador, há dez áreas protegidas, entre elas o Parque Estadual de Campos do Jordão.

TURISMO
Sua riqueza ambiental em contraste com a falta de saneamento não chega a ser exceção: é o mesmo quadro de cidades como Florianópolis (no Sul), Natal (no Nordeste) e Ubatuba (litoral paulista).
"Essa obra já demorou muito. Quando o sol está quente e é temporada, o mau cheiro fica muito pior", reclama Jair Pereira de Macedo, 54, dono de uma padaria na região do Capivari. Na temporada, a cidade, de 46 mil habitantes, recebe 500 mil visitantes em um mês. "Turista não gosta disso", sentencia.
"Os rios estão sujos. Saí do restaurante e senti o mau cheiro", concorda a aposentada Adelaide Maria Nitrini Martins, 60, que visitava a cidade na última quarta-feira.

HISTÓRICO
Desde que a Sabesp assumiu o serviço local, em 1976, o projeto era tido como prioritário, principalmente pela importância estratégica de Campos em relação ao patrimônio ecológico do entorno.
Avançou devagar e sofreu um duro golpe em 1995, quando um projeto já licenciado, com terreno comprado pela Sabesp, foi cancelado sob protestos dos moradores contrários à construção da estação na Lagoinha.
Pode haver resistência de novo. A cinco quilômetros da área urbana, o local da nova estação fica em região de condomínios de casas de alto padrão, majoritariamente para uso na temporada.
A primeira etapa do sistema -cujas obras vão durar de 2011 a 2013- devem elevar o índice de tratamento a 70% do esgoto coletado. O projeto em discussão não prevê a expansão do sistema de coleta.
Parte dos imóveis do município dispõe o esgoto em fossas (cavidades no solo).


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