São Paulo, sábado, 14 de dezembro de 2002

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As crianças vivem com o pai, condenado ontem

Irmã da vítima vai reivindicar agora a guarda dos dois sobrinhos

DA REPORTAGEM LOCAL

A irmã de Marlene, Marli Moraes, 40, única pessoa da família da vítima a assistir ao julgamento, afirmou ontem que irá à Justiça pedir a guarda dos dois filhos que a irmã teve com o juiz --Hector, 7, e Arthur, 5.
"Jamais vou deixar as crianças com a Jane [Jane Maria Franco Cardoso, atual mulher do juiz Marco Antônio Tavares". As crianças têm família, elas não vão ficar com ela [Jane"", disse.
Marli disse que não vê as crianças há quase cinco anos porque sempre foi alvo de ameaças do juiz, que teria dito que ela "poderia ter destino pior" do que o de Marlene. Ela disse que talvez faça o pedido ainda neste mês. "Agora só quero saber de comemorar."
A mãe da vítima, Mercedes Martins Conceição Moraes, 66, disse, por telefone, que nunca imaginaria que se sentiria bem com a condenação de uma pessoa. "Não dá para descrever a sensação, estou até fora do ar."
Ela disse que, com a decisão do julgamento, se sente forte e preparada para uma segunda batalha, agora pela guarda dos netos. "Não vou largar meus netos na mão de qualquer um."
A mãe de Marlene disse que ficou feliz com a decisão, mas esperava que a condenação do ex-marido de sua filha chegasse a pelo menos 30 anos. "Sofremos não há cinco, mas há 12 anos. Desde que eles se conheceram, ele já nos torturava", afirmou ela.
Para a acusação, a decisão de ontem provou que o Tribunal de Justiça de São Paulo é um órgão isento e que ainda é possível acreditar na Justiça.
"Na dramática missão de julgar um de seus pares, o TJ mostrou isenção e competência", afirmou a procuradora de Justiça Valderez Deusdit Abbud. Mário de Oliveira Filho, advogado de acusação, disse que a decisão era um atestado da competência do TJ.
"Estou muito feliz. Podia ter sido mais [tempo de prisão", mas ele perdeu o cargo, a coisa mais importante para ele", disse Marli, que se disse satisfeita com o resultado do julgamento.
"Foi um ato histórico. Pode ser lugar-comum, mas o Brasil hoje provou que não é mais o mesmo. Durante cinco anos, ouvi que deveria calar a boca e que ele continuaria a ser juiz", disse Flávia Maria Soares de Almeida, 39, vizinha de Marlene. Ela disse que também chegou a ser ameaçada. A advogada de defesa de Tavares nega que seu cliente tenha feito ameaças a Marli e a Flávia. Na sessão, quando um dos desembargadores relatou o episódio em que teria se dado a ameaça, Flávia, na platéia, fez o sinal da cruz.


Colaborou a Folha Vale


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