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São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2003

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Viadutos inacabados são adotados por esportistas na região

Trecho de estrada abandonada no litoral norte vira atração turística

CYNARA MENEZES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Como no poema de Manoel de Barros, o concreto metamorfoseou-se em paisagem: sobre o cimento, entre as orquídeas amarelas e os pequenos arbustos que já despontam no viaduto esquecido, uma codorna faz seu ninho. Aos poucos, a mata vai absorvendo os resquícios do que seria o traçado original da rodovia Rio-Santos, abandonado há mais de 25 anos.
A estrada federal (BR 101) começou a ser construída nos anos 60, passando por dentro da serra do Mar e não paralela às praias do litoral norte, como é hoje. Em 1976, o trecho Rio-Ubatuba já estava pronto e a ligação até Santos, muito atrasada. Acabou-se aproveitando a via litorânea já existente, estadual, para possibilitar a inauguração da rodovia.
Resultado: no meio da intensa vegetação nativa, ficaram viadutos, túneis, pontilhões, muros de contenção de encostas e alicerces que, com o tempo, criaram musgo e se incorporaram ao verde. O maior dos viadutos escondidos na mata virou até atração turística para praticantes de rapel, esporte de aventura em que se desliza de grandes alturas por cordas.
Com cerca de 300 m de extensão e mais de 40 de altura, o viaduto aparece depois de percorrida meia hora de carro em uma estrada vicinal, construída pela Petrobras na altura do km 14 da rodovia Tamoios, no trecho que liga Caraguatatuba a São Sebastião.
Não há ligação entre a edificação e os morros em volta: para pisar na ponte, é preciso escorregar por uma corda ou escalar uma escada rudimentar de madeira construída por frequentadores.
"A procura tem crescido muito, principalmente entre praticantes de rapel e bungee-jump (salto no vazio com o atleta atado a um elástico). Mas eu trocaria tudo pelo dinheiro do cimento gasto aqui", sonha Glábio Amaral, 41, guia treinado pela Prefeitura de São Sebastião para "operar" em viadutos abandonados.
Amaral tentou fazer uma trilha maior pela estrada abandonada, de Camburi até Caraguá, mas, após três dias, desistiu. A mata não permite mais a passagem.
Entre Camburi e Boiçucanga, após 43 minutos de caminhada pelo que restou do traçado, uma picada de pouco mais de meio metro de largura, reaparecem novos vestígios das estruturas.


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