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Novo tremor não assusta milícia que protege vilarejo
Armados, seis homens passaram a noite em Caraíbas para evitar saques às casas
À 0h11, ruído semelhante ao de um pequeno trovão assustou animais; ex-morador da comunidade diz que "isso acontece todo dia"
JOÃO WAINER
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO
O relógio marcava 0h11
quando um ruído semelhante
ao de um pequeno trovão interrompeu o silêncio do vilarejo-fantasma de Caraíbas. A terra
vibrava, sutil como a passagem
do metrô pelo subsolo. Cães,
galinhas e porcos se assustaram -era um novo tremor, um
dos pequenos abalos que ocorreram no local após o fenômeno do último domingo.
"Isso acontece todo dia. Esse
foi dos mais fracos", afirmou
Raimundo Campos Pinheiro,
49, que aparentava tranqüilidade. Ele era um dos seis ex-moradores dali que resolveram
passar a noite de ontem na comunidade para proteger o que
sobrou do seu patrimônio. A
Folha acompanhou o grupo.
"Como a gente pode morar
num lugar assim?", lamentava
o lavrador Donato Moreira, 54.
Os estrondos, dizem, são
sempre no final da noite. "O
primeiro "terremoto", em maio,
foi meio-dia, mas, depois desse,
quase sempre perto da meia-noite a gente ouve esse estrondo, uns mais fortes e outros
mais fracos", disse o lavrador
Juarez da Silva Mota, 40, ao redor de uma fogueira diante da
sua antiga casa.
Mota é o líder da milícia improvisada em Caraíbas. O medo do grupo não é que a terra
trema novamente -eles temem saques à comunidade,
abandonada. Na segunda, um
dia após o tremor mais forte, os
moradores relataram furtos de
roupas, telhas e animais.
Rifles e revólver
Foi então que o lavrador pensou em reunir os antigos vizinhos. Ontem, eles contavam
com dois rifles e um revólver
calibre 38 para se defender -a
primeira noite em claro no local foi de segunda para terça.
"Fizemos uma reunião entre
os moradores, e eles disseram
que ninguém tinha coragem de
vir pra cá. Então, decidi juntar
esse povo e vir cuidar do que é
nosso." Eles querem ficar enquanto houver luz em Caraíbas
-a Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) deve
desligar a eletricidade do local
nos próximos dias.
Preocupação
Além dos saques, os ex-moradores têm outra preocupação: uma possível invasão dos
índios Xakriabá, moradores de
uma cidade vizinha e antigos rivais da população local.
"Ninguém lá é índio mesmo,
eles só têm carteira de índio,
mas são iguais a nós. Nós sabíamos que eles estavam se armando pra invadir aqui, e estávamos preparados pra lutar
contra eles. Agora, depois do
tremor, não sei como vai ficar
essa briga, mas temos que estar
com os olhos abertos", disse à
reportagem Mauricio dos Santos, 19. A vigília de ontem terminou sem saques e invasões.
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