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Flanelinha cobra R$ 4 por hora no centro
Guardadores de carro da região da rua 25 de Março exigem tarifa por tempo para "garantir rotatividade" de veículos nas vagas
Loteamento de vagas ocorre
na frente de base da GCM;
esquema também prevê
reserva antecipada, por
celular, do espaço público
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Para "garantir a rotatividade
das vagas", flanelinhas das imediações da rua 25 de Março e do
Mercado Municipal, no centro,
passaram a exigir uma tarifa
horária de quem pretende estacionar na via pública.
O preço é de R$ 4 por uma
hora, R$ 8 por duas e assim por
diante. O controle é rígido.
Com caneta em mãos, Reginaldo, Flávio, Batoré, Alemão e os
demais donos do negócio anotam a hora de chegada do motorista na borracha que separa a
lataria do pára-brisa do veículo.
O alerta para quem se aproxima é direto: "tem que pagar por
hora". O freio de mão também
precisa ficar solto, para que os
carros sejam empurrados e haja espaço para mais clientes.
A modalidade temporal de
cobrança dos flanelinhas foi
acompanhada pela Folha (sem
se identificar como jornalista)
durante duas tardes, nas últimas três semanas, na rua Barão
de Duprat, bem em frente a
uma base comunitária da GCM
(Guarda Civil Metropolitana).
O sistema também não é escondido dos PMs e dos agentes
da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) que passam
a todo momento pela região.
O grupo comandado por Alemão controla 42 vagas nas imediações, onde não há placas de
zona azul nem de estacionamento proibido. O esquema
prevê até agendamento para
garantir espaço na via pública:
um cartão de visitas do líder,
intitulado "estacione com segurança" e com citações bíblicas no verso, fornece um número de celular para quem quiser programar seu horário antes de se deslocar para lá.
A explicação dada pelos flanelinhas para um controle horário da via pública é a garantia
de mais carros ao longo do dia.
"O cara parava aqui e queria
ficar a manhã e a tarde toda. Pô,
é sacanagem", justificou Reginaldo, para quem esse modelo
de cobrança, inspirado na zona
azul (cuja tarifa horária é de R$
1,80), agrada muita gente.
"Em outros lugares há quem
cobre R$ 10 fixos e ponto final.
Daí você sai no prejuízo se ficar
somente uma hora", defendeu.
Uma motorista com quem a
Folha conversou estacionou
no mês passado seu Siena numa vaga da Barão de Duprat. Na
chegada, desconsiderou a tabela horária anunciada pelo flanelinha. Na volta, pagou R$ 6,
depois ter ficado quatro horas
em compras na 25 de Março.
O guardador insistiu receber
R$ 16 -R$ 4 por hora. Diante
da recusa da mulher, deu a ordem com dedo em riste: "A senhora nunca mais pare aqui.
Seu carro já está marcado".
Às vésperas do Natal e do Réveillon, estacionamentos particulares próximos da 25 de Março e do Mercadão chegam a cobrar R$ 14 pela primeira hora. A
região recebe até 1 milhão de
pessoas por dia nessa época.
Extorsão
A tarifa horária é só uma das
modalidades de cobrança dos
flanelinhas, cuja atividade está
cada vez mais diversificada
-num fenômeno que, segundo
especialistas, está ligado à falta
de uma política de estacionamentos na cidade de São Paulo.
Além do "trocado" a critério
do cliente (em fase de extinção)
e do preço fixo (que ultrapassa
R$ 20 em eventos mais disputados, como shows e jogos de
futebol), há guardadores que
personalizaram os serviços.
Os primeiros foram os que,
desde os anos 90, passaram a ficar com a chave dos veículos
(para estacionar um na frente
do outro ou diante de garagens)
e a receber pagamentos mensais. Exemplo: os que dominam
as ruas na vizinhança da PUC,
em Perdizes, na zona oeste.
Nos últimos meses, flanelinhas dos Jardins começaram a
agir como manobristas: pegam
os automóveis na porta do trabalho dos "clientes", estacionam por conta própria em alguma via pública e são acionados
por celular na hora do retorno.
A PM diz que "a exigência de
um determinado valor para
"permitir" um motorista estacionar em via pública caracteriza crime de extorsão" e que a
conduta de alguns pode ser tipificada como "ameaça". Alega
que só pode agir com flagrante
ou com denúncia da vítima.
GCM e CET dizem não ter a
função de reprimir flanelinha.
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