São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2008

Próximo Texto | Índice

Flanelinha cobra R$ 4 por hora no centro

Guardadores de carro da região da rua 25 de Março exigem tarifa por tempo para "garantir rotatividade" de veículos nas vagas

Loteamento de vagas ocorre na frente de base da GCM; esquema também prevê reserva antecipada, por celular, do espaço público

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Para "garantir a rotatividade das vagas", flanelinhas das imediações da rua 25 de Março e do Mercado Municipal, no centro, passaram a exigir uma tarifa horária de quem pretende estacionar na via pública.
O preço é de R$ 4 por uma hora, R$ 8 por duas e assim por diante. O controle é rígido. Com caneta em mãos, Reginaldo, Flávio, Batoré, Alemão e os demais donos do negócio anotam a hora de chegada do motorista na borracha que separa a lataria do pára-brisa do veículo.
O alerta para quem se aproxima é direto: "tem que pagar por hora". O freio de mão também precisa ficar solto, para que os carros sejam empurrados e haja espaço para mais clientes.
A modalidade temporal de cobrança dos flanelinhas foi acompanhada pela Folha (sem se identificar como jornalista) durante duas tardes, nas últimas três semanas, na rua Barão de Duprat, bem em frente a uma base comunitária da GCM (Guarda Civil Metropolitana).
O sistema também não é escondido dos PMs e dos agentes da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) que passam a todo momento pela região.
O grupo comandado por Alemão controla 42 vagas nas imediações, onde não há placas de zona azul nem de estacionamento proibido. O esquema prevê até agendamento para garantir espaço na via pública: um cartão de visitas do líder, intitulado "estacione com segurança" e com citações bíblicas no verso, fornece um número de celular para quem quiser programar seu horário antes de se deslocar para lá.
A explicação dada pelos flanelinhas para um controle horário da via pública é a garantia de mais carros ao longo do dia.
"O cara parava aqui e queria ficar a manhã e a tarde toda. Pô, é sacanagem", justificou Reginaldo, para quem esse modelo de cobrança, inspirado na zona azul (cuja tarifa horária é de R$ 1,80), agrada muita gente.
"Em outros lugares há quem cobre R$ 10 fixos e ponto final. Daí você sai no prejuízo se ficar somente uma hora", defendeu.
Uma motorista com quem a Folha conversou estacionou no mês passado seu Siena numa vaga da Barão de Duprat. Na chegada, desconsiderou a tabela horária anunciada pelo flanelinha. Na volta, pagou R$ 6, depois ter ficado quatro horas em compras na 25 de Março.
O guardador insistiu receber R$ 16 -R$ 4 por hora. Diante da recusa da mulher, deu a ordem com dedo em riste: "A senhora nunca mais pare aqui. Seu carro já está marcado".
Às vésperas do Natal e do Réveillon, estacionamentos particulares próximos da 25 de Março e do Mercadão chegam a cobrar R$ 14 pela primeira hora. A região recebe até 1 milhão de pessoas por dia nessa época.

Extorsão
A tarifa horária é só uma das modalidades de cobrança dos flanelinhas, cuja atividade está cada vez mais diversificada -num fenômeno que, segundo especialistas, está ligado à falta de uma política de estacionamentos na cidade de São Paulo.
Além do "trocado" a critério do cliente (em fase de extinção) e do preço fixo (que ultrapassa R$ 20 em eventos mais disputados, como shows e jogos de futebol), há guardadores que personalizaram os serviços.
Os primeiros foram os que, desde os anos 90, passaram a ficar com a chave dos veículos (para estacionar um na frente do outro ou diante de garagens) e a receber pagamentos mensais. Exemplo: os que dominam as ruas na vizinhança da PUC, em Perdizes, na zona oeste.
Nos últimos meses, flanelinhas dos Jardins começaram a agir como manobristas: pegam os automóveis na porta do trabalho dos "clientes", estacionam por conta própria em alguma via pública e são acionados por celular na hora do retorno.
A PM diz que "a exigência de um determinado valor para "permitir" um motorista estacionar em via pública caracteriza crime de extorsão" e que a conduta de alguns pode ser tipificada como "ameaça". Alega que só pode agir com flagrante ou com denúncia da vítima. GCM e CET dizem não ter a função de reprimir flanelinha.


Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.