|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLARISSE LOPES DE ALMEIDA AMAZONAS (1923-2008)
Com jambeiro e violino se fez um maestro
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
Por total falta de estrutura,
Clarisse Amazonas começou
a ensinar crianças a tocar
violino sob a sombra de um
jambeiro, na favela do Caranguejo, em Recife (PE).
Gostava tanto de música
que dizia querer morrer com
o instrumento -o que não
aconteceu. Em outubro,
caiu, fraturou o fêmur, operou, mas acabou pegando
uma infecção hospitalar. No
domingo passado, não resistiu a uma pneumonia.
Morreu aos 85, para a tristeza de 13 filhos, 28 netos,
cinco bisnetos e incontáveis
alunos que ela tirou da miséria pelo caminho da música.
Paraense de Belém, Clarisse se mudou, antes de completar um ano, para Recife. O
pai, artista plástico, tinha sido incumbido de restaurar a
capela Dourada, obra dos
portugueses, em Recife.
Aprendeu criança a tocar
e, adolescente, já fazia parte
da orquestra sinfônica da cidade. Apresentava-se em festas, casamentos, o que desse.
Casada com um promotor
desde 1946, passou a ensinar,
em 1988, jovens carentes.
Com o tempo, ganhou apoio,
e as aulas foram transferidas
para uma biblioteca pública.
Foi ainda assessora do secretário da Cultura de Pernambuco, Ariano Suassuna.
Há uns três anos, parou de se
apresentar devido ao Alzheimer. Otimista, "nunca reclamou de nada", lembra a filha.
Segundo Fabiano Antunes, que escreveu uma biografia sobre a violinista, um
ex-aluno de Clarisse é hoje
maestro na Europa.
obituario@grupofolha.com.br
Texto Anterior: Mortes Próximo Texto: Mata atlântica é fiscalizada com parapente Índice
|