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Na rua 25, quem grita mais é o consumidor
Compradoras ficam roucas tentando chamar a atenção dos vendedores
Com cerca de 1 milhão de visitantes por dia, as sete ruas do local oferecem bijuterias, bolsas e réplicas de grifes a preços populares
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é fácil ser um em 1 milhão na 25 de Março, a rua do
comércio popular de São Paulo.
São sete ruas onde se aglomeram nessa época de Natal mais
de um milhão de consumidores
por dia. Olha o sufoco da administradora baiana Maria Fernanda Galvão, 45, que veio de
Salvador só para as compras de
fim de ano: ficou rouca de tanto
gritar para chamar a atenção
dos vendedores e dos camelôs.
E ainda assim acha que tudo
aquilo tem a cara de Nova York.
Com um olho no peixe [a bolsa], outro no gato [o ladrão batedor de carteira], ela exibe o
que comprou por uma pechincha e que custa "uma fortuna"
na Bahia. Sapatos, bolsa, relógio e muita bijuteria. "Olha que
coisa linda [ela mostra]. Minha
bolsa é superfashion. Uma dessas na butique não sai por menos de uns R$ 300." Custou R$
70. "Na 25 as pessoas são todas
iguais. Para mim isso aqui é
igual a Nova York", exagera
Maria Fernanda.
A duas quadras dali as dentistas Fernanda Martins, 24, Michele de Faria, 24, e Michelle
Barbosa, 25, que vieram de
Goiânia, não estavam nem aí
para a Oscar Freire, o centro do
comércio de luxo e oitava posição no ranking das ruas mais
elegantes do mundo.
"A 25 de Março é um paraíso,
dá vontade de comprar tudo. E
é muito mais famosa do que essa Oscar Freire", dizem as meninas que estavam atrás de
brincos e calças. Saíram com
três blusas "Tommy Hilfiger"
[R$ 25 cada], uma "Dolce&Gabbana" [R$ 30], uma
carteira "Gucci" [também
R$ 30], fivelas [15 por R$ 5] e
dez "bijus" [R$ 5 cada uma].
Tudo por uns 10% do valor venal nas lojas das grifes.
As consumidoras esbaforidas
-a presença feminina é majoritária- chegam de avião ou em
ônibus fretados. A maioria fica
em hoteizinhos ali mesmo na
região central.
Na maior loja de presentes da
rua, a professora Maria Aparecida Bottero fica entalada entre
os corredores. "É tanta gente
que é impossível passar. O único lugar vazio é a seção de brinquedos educativos, vamos para
lá", sugere. "Moço", ela chama o
vendedor que parece olhar para
a quarta parede do teatro e segue sem dar atenção. "Já estou
perdendo a voz e a paciência",
diz a professora meio rouca.
A novidade desta semana são
as camisas (falsificadas, claro)
com o nome e o número nove
do Ronaldo no Corinthians. Ao
mesmo tempo em que o atacante dava uma entrevista coletiva, as dez peças da barraca do
camelô Josivaldo foram vendidas em dez minutos por R$ 10
cada uma, sem regateio. Nova
encomenda já estava na fábrica. "Passa aqui amanhã."
A multidão e a "marca" 25 de
Março tomam conta de toda a
região, que ficou famosa desde
a década de 1960, quando costumava ficar alagada.
O que sobrava das enchentes,
os comerciantes faziam promoções e vendiam mais barato.
Os alagamentos já foram controlados e hoje são mais de 350
lojas, o que faz da 25 o maior
shopping a céu aberto da América Latina.
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