São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2008

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Na rua 25, quem grita mais é o consumidor

Compradoras ficam roucas tentando chamar a atenção dos vendedores

Com cerca de 1 milhão de visitantes por dia, as sete ruas do local oferecem bijuterias, bolsas e réplicas de grifes a preços populares

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL


Não é fácil ser um em 1 milhão na 25 de Março, a rua do comércio popular de São Paulo. São sete ruas onde se aglomeram nessa época de Natal mais de um milhão de consumidores por dia. Olha o sufoco da administradora baiana Maria Fernanda Galvão, 45, que veio de Salvador só para as compras de fim de ano: ficou rouca de tanto gritar para chamar a atenção dos vendedores e dos camelôs. E ainda assim acha que tudo aquilo tem a cara de Nova York.
Com um olho no peixe [a bolsa], outro no gato [o ladrão batedor de carteira], ela exibe o que comprou por uma pechincha e que custa "uma fortuna" na Bahia. Sapatos, bolsa, relógio e muita bijuteria. "Olha que coisa linda [ela mostra]. Minha bolsa é superfashion. Uma dessas na butique não sai por menos de uns R$ 300." Custou R$ 70. "Na 25 as pessoas são todas iguais. Para mim isso aqui é igual a Nova York", exagera Maria Fernanda.
A duas quadras dali as dentistas Fernanda Martins, 24, Michele de Faria, 24, e Michelle Barbosa, 25, que vieram de Goiânia, não estavam nem aí para a Oscar Freire, o centro do comércio de luxo e oitava posição no ranking das ruas mais elegantes do mundo.
"A 25 de Março é um paraíso, dá vontade de comprar tudo. E é muito mais famosa do que essa Oscar Freire", dizem as meninas que estavam atrás de brincos e calças. Saíram com três blusas "Tommy Hilfiger" [R$ 25 cada], uma "Dolce&Gabbana" [R$ 30], uma carteira "Gucci" [também R$ 30], fivelas [15 por R$ 5] e dez "bijus" [R$ 5 cada uma]. Tudo por uns 10% do valor venal nas lojas das grifes.
As consumidoras esbaforidas -a presença feminina é majoritária- chegam de avião ou em ônibus fretados. A maioria fica em hoteizinhos ali mesmo na região central.
Na maior loja de presentes da rua, a professora Maria Aparecida Bottero fica entalada entre os corredores. "É tanta gente que é impossível passar. O único lugar vazio é a seção de brinquedos educativos, vamos para lá", sugere. "Moço", ela chama o vendedor que parece olhar para a quarta parede do teatro e segue sem dar atenção. "Já estou perdendo a voz e a paciência", diz a professora meio rouca.
A novidade desta semana são as camisas (falsificadas, claro) com o nome e o número nove do Ronaldo no Corinthians. Ao mesmo tempo em que o atacante dava uma entrevista coletiva, as dez peças da barraca do camelô Josivaldo foram vendidas em dez minutos por R$ 10 cada uma, sem regateio. Nova encomenda já estava na fábrica. "Passa aqui amanhã."
A multidão e a "marca" 25 de Março tomam conta de toda a região, que ficou famosa desde a década de 1960, quando costumava ficar alagada.
O que sobrava das enchentes, os comerciantes faziam promoções e vendiam mais barato. Os alagamentos já foram controlados e hoje são mais de 350 lojas, o que faz da 25 o maior shopping a céu aberto da América Latina.


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